Abertura dos Diálogos Sustentáveis no Riocentro. Foto: Organização das Nações Unidas do Brasil

Governo brasileiro inova na criação de espaços de diálogos entre sociedade civil e representantes dos governos na Rio+20, mas poderia ter ido mais fundo na conversa.

Vão me acusar de indeciso, de ficar em cima do muro. Mas a verdade é que os Diálogos sobre o Desenvolvimento Sustentável (DDS) – organizados pelo Itamaraty nos “dias do meio” da Rio+20 – são uma inovação relativa. A iniciativa – brilhante na ideia, revolucionária no potencial e frustrante na realização – tem problemas, mas também méritos.

Uma rápida analogia: para quem estudou num colégio tradicionalista, submetido à intransigência de professores autoritários, mudar para uma escola comum e ser tratado decentemente pode representar um avanço incrível. A mesma escola, porém, seria vista como espaço limitante pelo aluno de escola experimental, acostumado a ambientes livres e criativos.

O mesmo se passa com os DDS: comparado à realidade de participação da sociedade civil no sistema ONU (melhor que há vinte anos, mas ainda muito aquém do possível e necessário), o processo promovido pelo governo brasileiro pode ser visto como inovador na medida em que ensaia o uso da internet e de tecnologias interativas para abrir um canal de expressão direta dos cidadãos comuns e de suas organizações junto aos chefes de Estado e negociadores.

Mas, na prática, os organizadores dos DDS não aproveitaram quase nada do enorme acúmulo que tem nosso país em termos de metodologias e bem-sucedidas experiências de diálogos entre grandes grupos, por exemplo como os das muitas conferências nacionais temáticas, o processo de elaboração da Agenda 21 brasileira, os diversos conselhos intersetoriais, e o próprio “conselhão” (CDES), para ficar em uns poucos exemplos muito próximos da Presidência da República. E não foi por falta de sugestões, como posso testemunhar.

A lentidão e a falta de clareza no processo preparatório dos DDS (causada por excesso de controle, falta de recursos ou ambos) teve consequências. O preço das opções feitas pelos seus organizadores ficou alto, e inclui desde queixas sobre falta de informação e o relativamente baixo engajamento de participantes, até questionamentos duros sobre a representatividade das conclusões e recusas à participação, como forma de não referendar o processo e seus resultados. De fato, há grande risco de se frustrar ou iludir a opinião pública, e o governo brasileiro precisará ser muito cuidadoso com sua comunicação.

Mesmo alertas para que esses Diálogos não sejam erroneamente percebidos pela mídia, e sem entrar no mérito das propostas resultantes (ainda desconhecidas), podemos comemorar o lado bom, que é trazer para a mofada ONU os ventos mais frescos das novas formas de participação social. Devemos certamente aprender com essa experiência, para ampliá-la e melhorá-la no futuro breve. Mas não há como deixar de lamentar o pobre aproveitamento de uma ideia tão boa, num evento com a importância da Rio+20.

Poderia ter sido uma goleada… Pena que, ao que tudo indica, ficaremos no um a zero.

* Aron Belinky é coordenador de processos internacionais do Instituto Vitae Civilis.

** Conteúdo produzido pela Envolverde e publicado originalmente no suplemento Carta Verde, na revista Carta Capital.