Ponto de chegada ou de partida ?

Que se pode esperar como resultado da Rio+20, que frutos dará – feito um confronto entre o otimismo da diplomacia brasileira e a decepção, indignação mesmo de organizações da sociedade, que repudiam a declaração final ?

O balanço não é simples, já que em convenções da ONU só se pode aprovar qualquer resolução por consenso; basta um voto contra para impedir a aprovação. Por isso, a diplomacia está contente com a aprovação da declaração geral, apenas de intenções, negociada antes da chegada dos chefes de Estado e de governo. Já os críticos entendem que se esvaziaram ou abandonaram os objetivos importantes: deixou-se para 2014 a tentativa de criar as metas do desenvolvimento sustentável; não se criou o fundo para proteger as águas oceânicas internacionais e principalmente sua biodiversidade (a discussão continuará no âmbito da ONU); não se transformou o Programa das N ações Unidas num órgão como a Organização Mundial do Comércio, com poderes para criar regras e impor sanções; também não se criou um fundo para ajudar os países mais necessitados a reduzir a pobreza e outros dramas sociais. E muitas outras queixas.

Iniciativa importante apresentada aqui foi a criação, pela Universidade da ONU e parceiros, de um Índice de Riqueza Inclusiva (IWR), que acrescentará aos atuais métodos de avaliação do desenvolvimento – crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e Índices de Desenvolvimento Humano, do PNUD -, indicadores para avaliar a situação dos recursos naturais, sua preservação ou perda. Os resultados podem ser muito fortes, como mostrou a Universidade da ONU: no período 1990/2008, o PIB da China cresceu 422%; mas descontada a perda de recursos naturais no mesmo período o crescimento cai para 37%. Também no caso brasileiro o resultado é contundente: o crescimento do PIB em 38% no mesmo período cai para 13% se descontadas as perdas de recursos naturais.

Consequências relevantes também deverá ter o reconhecimento pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, de que o atual modelo econômico no mundo “está falido” – conclusão na qual foi seguido por muitos chefes de Estado e de governo, inclusive de nações com forte presença no cenário internacional. Trata-se, portanto, de reconhecimento de uma crise do padrão civilizatório. Mas como substituí-lo? Que se proporá no lugar?

Resta desejar que o secretário-geral da ONU tenha razão em seu diagnóstico: “este não é um ponto de chegada; é um ponto de partida”. Ou seja, que as atuais crises econômica, financeira, social, ambiental abram caminho para um novo tempo.

* Washington Novaes é jornalista.

** Publicado originalmente no site do jornal O Estado de S. Paulo.