Sustentabilidade chique. Afinal, o papel aceita qualquer coisa

Leonardo Sakamoto. Foto: Arquivo pessoal

Sabe o que dá uma paúra do capeta? Receber relatórios de sustentabilidade mais chiques que convite de casamento de socialite enviados por empresas privadas e órgãos governamentais que querem melhorar a sua imagem institucional.

Não importa que eles foram produzidos com papel feito a partir de garrafas pet recolhidas por monges tibetanos exilados e manufaturados por anjos barrocos usando ferramentas de papel maché criadas a partir de hinários de Páscoa reutilizados. E que a tinta da impressão venha da coleta do primeiro orvalho do solstício de inverno por jovens druidas, misturada com ervas de comunidades indígenas do Alto Tietê respeitando o seu conhecimento tradicional. Não há nada mais brega que um relatório de sustentabilidade que tenha custado o olho da cara. Estou, neste momento, com dois em mãos que – certamente – estão avaliados em cinco ou mais morsas de pelúcia.

Há colegas jornalistas que não se importam com essa ode à contradição e, emocionados com as fotos da meia dúzia de botos-com-moicano-amarelo salvos com o tratamento de 0,000001% de efluentes da empresa (nem me perguntem o que acontece com o restante), derramam lágrimas sobre a impressão caríssima – que não borra jamais! Com todo o respeito aos profissionais que se dedicaram a isso, a outra parte dos jornalistas que recebe esses compêndios (na qual tento me incluir) não se sensibiliza nem um pouquinho e acha um disparate.

Inclusive porque, ao folhear esses elefantes brancos, percebe-se que o papel e a impressão são realmente o que eles têm de melhor para mostrar.

* Publicado originalmente no Blog do Sakamoto.