O vale “quase” tudo que nocauteia o Brasil

Deparei-me com a notícia de que as autoridades brasileiras determinaram a redução da mistura de etanol na gasolina de 25% para 20%. Imediatamente pensei: estamos piorando a atmosfera do nosso planeta, afinal, está provado que os biocombustíveis chegam a emitir dez vezes menos CO2 do que os chamados combustíveis fósseis, como é o caso da gasolina.

No entanto, refletindo melhor, lembrei-me de um episódio recente. Estava participando como palestrante do Seminário Green Rio 2011, promovido pelo Sebrae em parceria com o Planeta Orgânico, quando ouvi de um de meus colegas de mesa, o ambientalista Claudio Langoni, um comentário que foi marcante. Disse ele: “Outro dia recebi aqui no Brasil um amigo estrangeiro que se vangloriava de possuir em seu país um green fuel, porque o mesmo ostentava inacreditáveis 2% de etanol na mistura!” Naturalmente o visitante ficou desconcertado ao saber que a nossa mistura quando reduzida ao piso, (20%) ainda é dez vezes superior àquela empregada no seu decantado combustível.

Esse fato, fez-me pensar como somos tímidos na divulgação dos enormes esforços que temos tido na busca da sustentabilidade.

Muitos países, ao invés de respeitarem o Brasil pelo pioneirismo dessas iniciativas, preferem manter suas populações acreditando na falácia de que plantamos cana na Amazônia, ou de que substituimos a produção de alimentos pela indústria do combustível.

Aliás, vale a pena repensar esse ponto: a cana é uma gramínea cuja sobrevivência não suporta o excesso de umidade. Precisa de chuvas equivalentes a no máximo 1500 mm por ano, enquanto na região amazônica a precipitação média chega ao dobro disso em determinadas épocas.

Essa crise de autoconfiança nas próprias realizações que nosso país demonstra, precisa ser estudada até mesmo num divã, eu diria. Porque ela se revela em vários quadrantes da vida brasileira.

Vejamos por exemplo, o caso do esporte, onde recentemente abrigamos um megaevento internacional que rende milhões de dólares aos seus patrocinadores e realizadores, valendo ressaltar que se trata da modalidade que mais cresce no mundo, o vale-tudo.

Pois bem, expertise genuinamente brasileira, que está sendo apropriada pelos grandes promotores internacionais de eventos sem o devido crédito à legião de pioneiros do esporte que floresceu em solo brasileiro e tem entre seus quadros lutadores daqui oriundos mas que fazem a fama da América do Norte, principalmente.

Poderíamos ficar aqui gastando laudas e laudas de papel mas como isso pode ser exaustivo e antiecológico, retorno à discussão da sustentabilidade chamando a atenção sobre a necessidade de mantermos a comunidade internacional corretamente informada sobre nossos avanços. Temos problemas sim, e não são poucos. Falta-nos investimentos em estruturas de rastreamento e fiscalização de florestas. Ainda temos baixo nível de consciência ecológica nas cidades. Mas é inegável que estamos neste momento realizando o maior debate de que se tem notícia na área da conciliação entre atividades produtivas e o meio ambiente. Refiro-me aqui ao Código Florestal, cuja forma final será o resultado do embate profundo entre todos os atores que compõem o universo desse tema, dando ao Brasil a vanguarda absoluta da normatização e do regramento desses parâmetros.

Oxalá desta vez tenhamos aprendido a lição: o Brasil tem muito mais a contribuir com o planeta do que supõem as arcaicas e ultrapassadas visões do arrogante mundo desenvolvido.

* Claudia Cataldi é jornalista e apresentadora do programa de TV Responsa Habilidade, na Band.

** Publicado originalmente no site Plurale.