Subsídios para combustíveis fósseis podem prejudicar financiamento climático

Em tempos de recessão econômica, a arrecadação de fundos para investir em tecnologias de baixo carbono e para mitigar os efeitos das mudanças climáticas se torna uma questão ainda mais crítica no cenário mundial.

De acordo com Lord Nicholas Stern, ex-membro do Banco Mundial e um dos principais economistas do planeta, o financiamento de combustíveis fósseis é um dos principais fatores que prejudicam os investimentos climáticos, contribuindo ainda mais para aumentar as emissões de gases de efeito estufa que intensificam as mudanças climáticas.

Segundo Stern, que é autor de um relatório sobre os custos das mudanças climáticas, os bilhões de dólares que subsidiam os combustíveis fósseis deveriam ser redistribuídos para outros setores que ajudassem a mitigar ou enfrentar as consequências do aquecimento global.

Uma das opções é redirecionar esse investimento ao Fundo Verde Climático (GCF), que até 2020 deve arrecadar US$ 100 bilhões por ano para ajudar os países em desenvolvimento a lidarem com os efeitos das mudanças climáticas. Para se ter uma ideia, se parte do financiamento das energias fósseis fosse colocado no GCF, já seriam US$ 10 bilhões anuais angariados para esse fim.

Stern também sugeriu que o financiamento para o GCF pode ser conseguido com “taxas de carbono” a serem impostas a setores como a indústria, a navegação e a aviação. Outra opção é arrecadar dinheiro de bancos de desenvolvimento.

Segundo ele, uma taxa de carbono nos países industrializados poderia angariar US$ 50 bilhões por ano; já o tributo nos meios de transporte poderia somar US$ 10 bilhões, mesmo se os países retivessem metade do dinheiro arrecadado. Com a adição do financiamento de bancos de desenvolvimento e do investimento em energias fósseis, os US$ 100 bilhões poderiam ser alcançados.

De fato, Stern acredita que os benefícios reais dessas medidas seriam bem maiores, podendo chegar a estimar entre US$ 200 bilhões e US$ 250 bilhões apenas do setor privado. “Tudo é eminentemente factível. Temos que estabelecer em detalhes nossas estimativas e as políticas que podem atingi-las – se os governos mostrarem vontade política”, comentou.

Ainda em relação ao Fundo, que foi debatido na 17ª Conferência das Partes (COP 17) em Durban, na África do Sul, o economista criticou a forma como ele foi discutido no encontro. Para ele, os participantes estão perdendo muito tempo com aspectos técnicos de como o Fundo será estabelecido, em vez de abordarem formas de arrecadar o dinheiro.

Mas Stern não é o único a criticar os subsídios aos combustíveis fósseis como forma de prejudicar as ações climáticas. Um novo estudo da Bankwatch, rede que monitora as atividades de instituições financeiras internacionais, acusa o Banco Europeu de Investimento (BEI) de financiar os combustíveis fósseis com investimentos climáticos.

Conforme o relatório, desde 2007, foram repassados € 16 bilhões em empréstimos aos combustíveis, contra € 13 bilhões para as energias renováveis e € 12,6 bilhões para redes de transmissão. Neste período, o investimento em fósseis aumentou de € 2,8 bilhões para € 5 bilhões anuais.

“Tal auxílio considerável para combustíveis fósseis mina as metas climáticas da União Europeia (UE), que o BEI deveria promover, de acordo com sua missão. O impacto positivo dos empréstimos renováveis é fortemente comprometido pelos maciços – e crescentes – investimentos em combustíveis fósseis feitos pelo banco no mesmo período”, reprovou Piotr Trzaskowski, um dos autores do relatório.

Os representantes do BEI declararam que não sabem como a Bankwatch chegou a essa conclusão, afirmando que não estão “bem certos de como eles chegaram a esses números. Quando a Bankwatch fala sobre combustíveis fósseis, eles estão se referindo, sobretudo, ao apoio do BEI a infraestruturas de gás e usinas de energia”, justificou Nicholas Antonovics, porta-voz do BEI, à EurActiv.

Mas o próprio BEI admitiu que, desde 2007, mais empréstimos foram para a indústria do gás, carvão e petróleo do que para o setor renovável. Segundo dados do próprio banco, nos últimos quatro anos foram investidos € 15 bilhões em fósseis, comparados aos € 14,8 bilhões em renováveis. Segundo os autores do documento da Bankwatch, os investimentos do banco em indústrias poluentes na Europa “foram fantasiados com um traje ‘verde’”.

“O BEI é uma instituição da UE cuja missão é promover os objetivos de longo prazo da União Europeia. De fato, é uma meta política da UE diminuir as emissões, mas esses empréstimos (para as renováveis) foram apenas para cumprir a legislação vigente”, concluiu Anna Roggenbuck, coordenadora da Bankwatch.

* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.