Desmatamento aumenta em Yasuní com os planos do Equador de abrir parque nacional para exploração de petróleo

Mapa dos blocos de petróleo dentro do Parque Nacional de Yasuní. Cortesia de Finer, Pappalardo, Ferrarese, De Marchi (2014) ao Mongabay.com
Mapa dos blocos de petróleo dentro do Parque Nacional de Yasuní. Cortesia de Finer, Pappalardo, Ferrarese, De Marchi (2014) ao Mongabay.com

O Parque Nacional Yasuní tem sido o centro das atenções nas questões de conservação nos últimos anos, com a exploração de petróleo ameaçando as florestas e a vida selvagem desse hotspot de biodiversidade.

Recentemente, as perturbações no parque podem ter aumentado. Dados de satélite mostram um crescimento nos alertas de desmatamento dentro do Parque Nacional Yasuní desde 2011.

Map of oil blocks within Yasuní National Park.O aumento nos danos florestais na região coincide com uma serie de atividades de extração de petróleo perto dos locais onde os alertas de desmatamento se mostram agrupados.

O Parque Nacional Yasuní, estabelecido em 1979, cobre aproximadamente 982 mil hectares e fica no centro de uma pequena zona onde a diversidade de anfíbios, aves, mamíferos e plantas vasculares está entre as maiores do Hemisfério Ocidental.

Por causa disso, o parque está entre os lugares mais biodiversos do mundo, com um grande número de espécies endêmicas e ameaçadas. Por exemplo, é lar de uma espécie de morcego (Lophostoma yasuni) não encontrada em nenhum outro lugar do mundo.

Contudo, o Parque Nacional Yasuní também abriga cerca de 846 milhões de barris de petróleo.

Apesar de seu estado de área protegida, companhias de energia têm explorado o Parque Nacional Yasuní para extração de petróleo desde os anos 1970. Entretanto, suas porções mais remotas ainda estão intocadas. Pesquisas indicam que os campos de petróleo do Yasuní contêm cerca de 20% das reservas de combustível fóssil do Equador, particularmente em uma porção do parque chamada de bloco ITT (Ishpingo-Tambococha-Tiputini).

Uma proposta de proteção chamada Iniciativa Yasuní-ITT foi lançada pelo presidente Rafael Correa na Assembleia Geral da ONU em 2007. A iniciativa manteria esses blocos intocados se doadores internacionais pagassem metade da renda esperada da extração de petróleo – US$ 3,6 bilhões – a um fundo fiduciário estabelecido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. A comunidade internacional prometeu cerca de US$ 330 milhões, embora tenha depositado apenas US$ 13 milhões, antes de Correa encerrar formalmente a iniciativa em 2013.

Alertas FORMA no Parque Nacional de Yasuní têm aumentado nos últimos anos. A imagem mostra no quadro de cima os alertas registrados em janeiro de 2012 e no de baixo os alertas de julho de 2014. Cortesia do Global Forest Watch.
Alertas FORMA no Parque Nacional de Yasuní têm aumentado nos últimos anos. A imagem mostra no quadro de cima os alertas registrados em janeiro de 2012 e no de baixo os alertas de julho de 2014. Cortesia do Global Forest Watch.

Dados do Global Forest Watch mostram crescentes distúrbios no parque, com 1.416 alertas do FORMA (Monitoramento Florestal para Ação, imagem ao lado) de 2011 a junho de 2014. A maioria dos alertas fica localizada perto dos poços de petróleo nas regiões norte e central – ou partes dos blocos de petróleo 14 e 16.

O bloco 14 está atualmente sob o controle da chinesa Andres Petroleum Company, enquanto o bloco 16 é da Repsol. Alertas FORMA são usados para determinar áreas de prováveis danos florestais via dados de sensoriamento remoto e informações de satélite de fontes como Google e NASA.

Além da exploração de petróleo, outras atividades humanas estão impactando o Parque Nacional Yasuní.

“O desmatamento não é causado apenas pela extração, mas também pela influência externa de outros agentes/indústrias – incluindo comércio de drogas, caça/venda ilegal de animais e extração ilegal de madeira”, falou Pamela Martin, professora da Universidade Costeira da Carolina, que conduziu uma pesquisa sobre florestas equatorianas, ao mongabay.com.

De acordo com Martin, madeireiros ilegais estão cortando árvores em regiões cada vez mais profundas do Yasuní, e no processo construem estradas que estão permitindo que as pessoas invadam ainda mais a floresta.

Estrada de acesso ao petróleo dentro do bloco 31 em Yasuní. Foto: Ivan Kashinsky
Estrada de acesso ao petróleo dentro do bloco 31 em Yasuní. Foto: Ivan Kashinsky

“As estradas construídas no parque aumentaram a colonização nessas áreas”, disse ela. “Um resultado de tais estradas e dos impactos de desmatamento associados, além das armas para caçar, é o excesso de caça e a captura ilegal de animais.”

Conservacionistas há muito tempo se opõem à extração de petróleo, madeira e outras atividades de desmatamento dentro do parque por causa das ameaças que eles impõem à biodiversidade. Mas Martin afirma ainda que as comunidades que vivem em isolamento voluntário no parque, tais como os Tagaeri e os Taromename, também podem ser impactadas pela perda florestal, já que seus lares estão expostos para o mundo exterior.

Além de fornecer habitat vital, as florestas tropicais no parque também agem como reguladoras climáticas e hídricas. Então, à medida que o petróleo é extraído e queimado, a carga de gases do efeito estufa na atmosfera aumentará, agravando o aquecimento global.

“Em longo prazo, as atividades que promovem desmatamento, tais como extração, terão que ser equilibradas com a norma global de bem-estar – sumak kawsay – para as sociedades, a natureza e o planeta”, declarou Martin.

Em 2005, o Ministério do Meio Ambiente do Equador decidiu que a exploração de petróleo no parque seria apenas permitida se nenhuma estrada fosse construída. No entanto, em maio de 2014, um grupo de cientistas argumentou que a Petroamazonas, uma enorme firma de petróleo no Equador, construiu uma estrada no parque, violando um estudo de impacto ambiental.

Mapa de Matt Finer, Clinton Jenkins e Holger Kreft
Mapa de Matt Finer, Clinton Jenkins e Holger Kreft

“O Ministério do Meio Ambiente [do Equador] precisa pedir da Petroamazonas uma explicação de como e por que eles simplesmente violaram flagrantemente os termos do Estudo de Impacto Ambiental e a licença”, falou o coautor do relatório, Matt Finer, da Associação de Conservação do Amazonas, ao mongabay.com em uma entrevista anterior.

Linha do tempo do desenvolvimento da extração de petróleo em Yasuní

Agosto de 2011: A porta-voz Yvonne Baki lança uma campanha midiática para reviver a Iniciativa Yasuní-ITT.
2012: Estradas são vistas dentro do bloco 31, alegadamente desenvolvidas pela Petroamazonas.

Janeiro de 2013: O projeto da usina de energia hidrelétrica de Huapamala é lançado.

Fevereiro de 2013: O presidente Rafael Correa é reeleito para um terceiro mandato com mais de 57% dos votos. Nesse ponto, o governo do Equador havia arrecadado US$ 330 milhões para a Iniciativa Yasuní-ITT (com US$ 13 milhões depositados).

Agosto de 2013: Correa encerra a Iniciativa Yasuní-ITT e começa a abertura do parque para a extração de petróleo. Ele declarou na televisão que a iniciativa não havia tido sucesso, uma vez que apenas uma porção relativamente pequena dos fundos necessários havia sido arrecadada. “Assinei o ato para o encerramento do fundo fiduciário Yasuní-ITT, colocando um fim na iniciativa protecionista”, disse ele, definindo sua decisão como “uma das mais difíceis que alguém pode tomar”.

Setembro de 2013: A comunidade internacional envia petições e cartas a embaixadores equatorianos em muitos países para se oporem ao cancelamento da Iniciativa Yasuní-ITT.

Junho de 2014: A aprovação para perfuração de petróleo é concedida pelo governo equatoriano depois que tentativas de ativistas de criar um referendo nacional sobre a questão foram rejeitadas pelo Conselho Nacional Eleitoral do Equador. A perfuração em grande escala está marcada para começar em 2016.

Julho de 2014: De acordo com o jornal The Guardian, documentos vieram à tona revelando que o governo do Equador estava buscando instalar uma usina de energia para explorar os campos de petróleo de Yasuní enquanto ainda apoiava supostamente a Iniciativa Yasuní-ITT.

* Tradução: Jéssica Lipinski,do Instituto CarbonoBrasil.

** Publicado originalmente no sie Mongabay e retirado do site CarbonoBrasil.