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Hospitais inteligentes contra desastres naturais no Caribe

Especialistas alertaram que o novo hospital infantil em construção em Couva, Trinidad, fica perto de uma falha geológica. Um estudo indica que 67% dos hospitais da América Latina e do Caribe estão localizados em zonas de risco de desastres naturais. Foto: Jewel Fraser/IPS
Especialistas alertaram que o novo hospital infantil em construção em Couva, Trinidad, fica perto de uma falha geológica. Um estudo indica que 67% dos hospitais da América Latina e do Caribe estão localizados em zonas de risco de desastres naturais. Foto: Jewel Fraser/IPS

 

 

Porto Espanha, Trinidad e Tobago, 30/9/2014 – Quando aconteceram as inundações que devastaram a parte oriental do Caribe nos últimos dias de 2013, o novo hospital inteligente de São Vicente, aberto poucos meses antes, superou a prova de “se manter operacional durante e imediatamente depois de um desastre natural”. As inundações, causadas pelas “chuvas de Natal”, deixaram mais de uma dezena de mortos e perdas materiais de milhões de dólares. Mas o Hospital Georgetown, em São Vicente e Granadinas, contornou o temporal, cumprindo a missão de um hospital inteligente, de servir à comunidade sem interrupções.

Segundo um informe do Departamento de Desenvolvimento Internacional da Grã-Bretanha, “mais de 67% dos hospitais da América Latina e do Caribe estão localizados em zonas de alto risco de desastre”. Além disso, “há enormes perdas econômicas (por exemplo, de renda e de dias de trabalho) quando os centros de saúde ficam destruídos ou danificados por desastres naturais. É necessário reconstruí-los e a inatividade limita sua capacidade para dar assistência de emergência às vítimas”, diz o documento.

O informe destaca que “fortalecer a resiliência das comunidades e dos edifícios importantes, como hospitais e escolas, dá melhores resultados em termos de vidas salvas e de sustentos protegidos do que apenas responder às consequências dos desastres ou da variabilidade climática. Dar enfoque integrado e previdente ao projeto do hospital é fundamental para que os centros de saúde sejam seguros, verdes e sustentáveis.

Dana van Alphen, assessora regional da Organização Pan-Americana de Saúde (OPS) para programas de gestão de risco de desastres, afirmou à IPS que durante uma reunião com colegas foi discutido “como poderíamos incluir as medidas de adaptação à mudança climática em nossa iniciativa de hospitais seguros”. A iniciativa de centros de saúde seguros foi lançada no Caribe há uma década e se converteu em padrão mundial para avaliar a probabilidade de um hospital se manter operacional diante de uma situação de desastre.

A OPS trabalhou com o Departamento de Desenvolvimento Internacional, da Grã-Bretanha, para criar a Iniciativa Hospital Inteligente. O órgão concordou em financiá-la com seu Fundo Internacional para o Clima durante um ano, argumentando que “construir resiliência à mudança climática e frente a desastres é um pilar central” de seu Plano Operacional para o Caribe 2011-2015.

Van Alphen disse que o Hospital de Georgetown foi eleito como uma das duas instituições de prova para a Iniciativa Hospital Inteligente porque a OPS queria “convencer as autoridades de que existem medidas tangíveis em matéria de segurança e desastres naturais, há medidas práticas que podem ser tomadas e ver seus benefícios” sem que o custo seja proibitivo.

O Hospital de Georgetown e o de Pogson, em San Cristóbal e Neves, foram selecionados como centros de prova após avaliação de 30 instituições da região. Destas, 18% tinham problemas funcionais e estruturais que exigiam medidas urgentes para proteger a vida dos pacientes e do pessoal. “Nos hospitais tivemos apoio da comunidade e do governo para implantar o projeto. Queríamos que a história tivesse sucesso”, afirmou Van Alphen.

Foram destinados US$ 350 mil para as adequações do Hospital de Georgetown, que tinha falhas estruturais e funcionais, como um teto inseguro, falta de fontes de energia de emergência e nenhum sistema de armazenamento de água. O prédio, construído na década de 1980, tinha capacidade para 25 camas na comunidade de Charlotte, com população de quase dez mil pessoas.

As reformas realizadas incluíram renovação do teto, impermeabilização das janelas, instalação de painéis solares fotovoltaicos para garantir o fornecimento de energia alternativa e construção de um sistema para armazenar água de chuva. Além disso, foi remodelado e melhorado todo o hospital para torná-lo mais confortável e criar um ambiente acolhedor para o pessoal e pacientes. Após a adaptação, se conseguiu uma economia de 60% de energia, destacou Van Alphen.

O departamento britânico afirmou em seu informe Resumo de Intervenção: Centros de Saúde Inteligentes no Caribe que, “segundo os cálculos da Agência de Proteção Ambiental, cada dólar que um hospital dos Estados Unidos economiza em energia equivale a US$ 20 ganhos. Por essa razão, investir em atividades que ajudem a reduzir a pegada climática do setor da saúde terminará liberando fundos para o genuíno propósito de um hospital: melhorar a atenção geral ao paciente e à saúde da comunidade”.

Como o custo da energia no Caribe é um dos mais altos do mundo, reduzir o gasto nos hospitais liberará uma quantidade significativa de recursos, diz o informe britânico. Mas algumas questões preocuparam a segurança, como o uso de água de chuva. Shalini Jagnarine, engenheira estrutural da Unidade de Gestão de Desastre da OPS, recordou à IPS que a resistência terminou após as inundações de Natal, pois o fornecimento entrou em colapso e o do hospital foi o único que ficou funcionando.

A reforma do Centro Médico de Pogson, na ilha de San Cristóbal, se concentrou em mostrar como pequenas mudanças podem fazer um hospital novo ser mais eficiente, seguro e amigo do ambiente. Foram instaladas saídas de emergência, melhorou-se o acesso para deficientes e foram renovadas as tubulações de água e o sistema elétrico.

“Quando o hospital já está construído, para que seja seguro se deve tomar decisões econômicas inteligentes. Ser 100% verde pode ser muito caro. A análise custo-benefício é muito importante”, ressaltou Van Alphen. “Qual o custo de tomar essas medidas e como repercute em seu país e em sua comunidade se seu centro de saúde não se torna mais verde e sofre o impacto de um desastre natural? A decisão que tomarmos dependerá dos recursos que tivermos, mas há coisas simples que podem ser feitas”, enfatizou. Envolverde/IPS