Cidades: o habitat da humanidade

Curitiba. Foto: http://www.fotonostra.com/

 

O homem contemporâneo é um ser urbano. Mais da metade da população mundial vive nas cidades. Cada vez mais, as administrações públicas precisam prover aos cidadãos infraestrutura e serviços em escalas maiores e mais complexas. Neste contexto, a inovação desempenha papel fundamental no desenvolvimento das cidades e na promoção de sua sustentabilidade.

Conceitualmente, pensar a inovação como elemento promotor da sustentabilidade das cidades é ponto pacífico. Afinal, a situação em que vivemos hoje é fruto de mais de uma centena de anos de urbanização acelerada, modelo de desenvolvimento econômico baseado no capitalismo e incentivo ao consumo elevado. São paradigmas estabelecidos que somente mudam perante inovações realmente disruptivas.

Na prática, entretanto, a inovação para a sustentabilidade das cidades desdobra-se essencialmente em três componentes: estratégico, tecnológico e organizacional.

A inovação a serviço da sustentabilidade das cidades começa com o estabelecimento de uma estratégia de desenvolvimento. Tal exercício deve inspirar a construção de uma visão de sustentabilidade urbana compartilhada. Como cidadãos devemos todos concordar sobre como queremos que nossa cidade seja no futuro, no médio e longo prazo. É uma visão clara de sustentabilidade urbana que permite à administração pública trabalhar de maneira coordenada, focada e harmônica.

Curitiba é um exemplo de estratégia de desenvolvimento que se desdobrou num planejamento municipal de longo prazo. Decisões sobre transporte e mobilidade urbana tomadas há cerca de meio século permitiram que o desenvolvimento da cidade fosse especialmente pautado na sustentabilidade. Como consequência, as ações da administração pública geraram uma formação educacional, uma cultura popular e um nível de consciência ambiental diferenciados. Não é à toa que Curitiba é uma das cidades brasileiras que mais se destaca no quesito índice de área verde por habitante (m2 de área verde por habitante), por exemplo.

A inovação também possui um importante componente tecnológico. O uso crescente de aplicações tecnológicas inovadoras para atender necessidades das cidades e dos cidadãos vem moldando ultimamente o conceito de cidades inteligentes. A IBM, por exemplo, trabalha atualmente o programa temático “Smarter cities” (confira em: www.ibm.com/smarterplanet/br). Alicerçado sobre 9 sistemas inteligentes de gestão urbana que vão de segurança pública a energia, trânsito, educação e água, o projeto da IBM ajuda a administração pública a coletar e analisar informações em tempo real, antecipar-se a problemas e planejar e coordenar o provimento de recursos e respostas. Assim, as cidades passam a ser capazes de, ativa e efetivamente, gerenciar seu cotidiano, seu crescimento e desenvolvimento.

Por fim, a inovação tem um caráter organizacional muito importante para a sustentabilidade das cidades. As cidades do futuro deverão ser capazes de possibilitar as mais diversas formas de relacionamento entre todos os entes envolvidos, sejam eles a administração pública, os cidadãos e suas comunidades, as escolas e as universidades, ou as empresas e os negócios.

As escolas e universidades, por exemplo, têm uma função muito importante como formadoras de profissionais que assumirão funções e empregos para a nova economia verde e criativa. As maiores interessadas nesse viés educacional são justamente as empresas, já que são elas que absorverão essa mão de obra qualificada e diferenciada. Faz todo sentido, portanto, que as empresas e as instituições de ensino trabalhem em sintonia e que a administração pública incentive e participe dessa parceria.

A possibilidade de os cidadãos serem capazes de gerar energia elétrica usando painéis solares ou geradores eólicos em casa também constitui uma mudança organizacional desafiadora. Assim, os cidadãos poderão passar a ser fornecedores de eletricidade para a rede interligada. Outra mudança organizacional desafiadora é a geração adicional de renda através da venda de materiais recicláveis. O fenômeno mercadológico de transformar quem, tradicionalmente, sempre foi consumidor em provedor de recursos e serviços está criando o conceito de “prosumidor” do futuro.

Olhando para o futuro, esperamos que as cidades sejam capazes de potencializar a inovação através de suas diversas facetas. Ao promover a inovação proativamente desde a formação educacional de seus pequenos cidadãos, as cidades trabalharão soluções efetivas para seus maiores desafios contemporâneos. O resultado não poderá ser outro senão a ebulição de novas formas de relacionamento, cooperação e parceria, modos inovadores de investir no desenvolvimento urbano, modelos de negócio disruptivos para a economia verde e criativa, e principalmente, a promoção da efetiva sustentabilidade das cidades.

* Paulo Camargo é biólogo, consultor da Keyassociados, especialista e mestre em Gestão da Sustentabilidade. Jussara Lima de Carvalho é secretária municipal de Meio Ambiente de Sorocaba, SP.

** Publicado originalmente no site Mercado Ético.