Preservação dos polinizadores, uma questão de sobrevivência humana

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Foto: http://www.cienciaempauta.am.gov.br/

“Do montante do resultado da produção agrícola, o custo do serviço ambiental prestado pela polinização está na ordem de R$ 17 bilhões”, explica o diretor do Ibama Márcio Rosa Rodrigues de Freitas.

O processo de logística – colheita e processamento – dos diversos alimentos que dispomos nas prateleiras dos supermercados é, de alguma forma, algo relativamente claro para nós, consumidores. Porém, para além dessa questão do manejo humano com os alimentos, há um importante trabalho realizado por insetos, que não cobram nada pelo trabalho que exercem e geram uma economia anual de aproximadamente R$ 17 bilhões por ano: trata-se dos polinizadores. “Eles (os polinizadores) são basicamente a base de algumas culturas agrícolas como, por exemplo, a fruticultura. Na fruticultura a importância da polinização chega a 90% das espécies cultivadas, enquanto no geral da agricultura esse número gira em torno de 70%”, explica Márcio Rosa Rodrigues de Freitas, coordenador geral de Avaliação e Controle de Substâncias Químicas e Produtos Perigosos do Ibama, em entrevista por telefone à IHU On-Line.

“Os países, na Europa, que já tentaram valorizar isso do ponto de vista financeiro, estimam um valor na ordem de 10% do total da agricultura mundial, que em 2005 foi em torno de 153 bilhões de euros. Se usarmos os mesmos dados para o Brasil, admitindo que a importância seja a mesma para a agricultura brasileira, conforme dados de 2011, cuja produção foi na ordem de R$ 176 bilhões, a economia que se gera é de R$ 17 bilhões”, destaca Márcio de Freitas.

No Brasil há dois casos — em São Paulo e Minas Gerais — de eliminação de comunidades de abelhas cujas causas estão sendo estudadas, mas a suspeita está relacionada ao uso de agrotóxicos da família dos neonicotinoides. Esse novos produtos químicos foram desenvolvidos com o intuito de serem menos agressivos; no entanto, a toxicidade se comporta de uma outra maneira. “No caso dos neonicotinoides, o que se verificou foi o seguinte: eles têm uma toxicidade menor, mas, diferentemente da aguda (aquela que mata imediatamente os insetos), causam uma toxicidade crônica, ou seja, causam um efeito mais duradouro e têm um envenenamento crônico, e não agudo. Então, no caso das abelhas, isso afeta o seu sentido de orientação, o que é muito complicado, porque esse produto não mata a abelha imediatamente, mas a enfraquece, a deixa mais suscetível à infestação de doenças. Esse problema gera desorientação, fenômeno que ficou conhecido como ‘colapso da colmeia’”, esclarece Márcio de Freitas.

Márcio Rosa Rodrigues de Freitas (foto) é coordenador geral de Avaliação e Controle de Substâncias Químicas e Produtos Perigosos do Ibama. Possui graduação em Engenharia Civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, especialização em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo – FSP/USP e mestrado em Meio Ambiente pela Universidade Luterana do Brasil – ULBRA-RS. É especialista em Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas.

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Confira a entrevista:

IHU On-Line – Cientistas do mundo todo concordam que a intoxicação dos polinizadores por agrotóxicos representa uma grave ameaça à sobrevivência humana. Por que isso acontece?

Márcio de Freitas – Na verdade, essa concordância de todos os cientistas não deixa dúvidas de que há uma relação entre o uso de agrotóxicos e o risco de desaparecimento dos polinizadores. Entretanto, não é a única causa nem a única questão com a qual nós nos deparamos hoje. É preciso esclarecer que a maior causa do desaparecimento de polinizadores ainda é a destruição dos seus hábitats, que tem a ver, também, com a expansão da fronteira agrícola, mas não necessariamente só pela questão do uso de agrotóxico. O agrotóxico é colocado hoje como terceira causa do desaparecimento das espécies de polinizadores.

Importância

A importância dos polinizadores está relacionada com o serviço ambiental que eles prestam. As estimativas que se têm é que eles (os polinizadores) são responsáveis por cerca de 73% das espécies agrícolas cultivadas atualmente no mundo, fora as espécies não cultivadas — florestas, matas nativas e a própria manutenção da biodiversidade da flora. Não há dúvida de que a extinção desses animais coloca em risco a espécie humana, porque podemos perder uma biodiversidade grande com o fim de um serviço ambiental que hoje é gratuito. Isso sem dúvida vai ameaçar a produção de alimentos, seja do ponto de vista econômico, seja do ponto de vista ambiental.

IHU On-Line – Que tipos de impactos o extermínio dos polinizadores pode trazer às nossas sociedades? Por que os polinizadores são tão importantes para a agricultura?

Márcio de Freitas – Eles são basicamente a base de algumas culturas agrícolas como, por exemplo, a fruticultura. Na fruticultura a importância da polinização chega a 90% das espécies cultivadas, enquanto no geral da agricultura esse número gira em torno de 70%.

Os países, na Europa, que já tentaram valorizar isso do ponto de vista financeiro, estimam um valor na ordem de 10% do total da agricultura mundial, que em 2005 foi em torno de 153 bilhões de euros. Se usarmos os mesmos dados para o Brasil, admitindo que a importância seja a mesma para a agricultura brasileira, conforme dados de 2011, cuja produção foi na ordem de R$ 176 bilhões, a economia que se gera é de R$ 17 bilhões.

Realidade no Brasil

Isso significa dizer que desse montante, resultado da produção agrícola, o custo do serviço ambiental prestado pela polinização está na ordem de R$ 17 bilhões. Então nós estamos falando de um serviço ambiental que tem um valor econômico muito alto e que dificilmente conseguimos substituir. Os países que aceitaram perda de polinização significativa, como a China, os países da Ásia, enfrentaram problemas, pois não conseguiram contornar a situação com a substituição por meio da polinização mecânica.

IHU On-Line – Do que se trata, exatamente, estes 10% relacionados à polinização?

Márcio de Freitas – É o valor do serviço ambiental. Vamos considerar o seguinte: nós plantamos e as abelhas polinizam e garantem a reprodução dessas plantas. Caso os agricultores perdessem este “serviço de polinização”, de fecundação das plantas, o custo artificial dessa polinização seria (como já dito anteriormente) na ordem de R$ 17 bilhões. O que eu estou dizendo é que se pegarmos o valor da produção agrícola do Brasil em 2011 e aplicarmos esse mesmo percentual, teríamos um valor na ordem de R$ 17 bilhões. É uma estimativa grosseira, mas é para dar uma ordem da grandeza, da importância do serviço de polinização. Não podemos retomar esse dado ao pé da letra, mas podemos ter uma ideia.

Estados Unidos

Nos Estados Unidos, por exemplo, onde o serviço de polinização é pago, nos últimos dez anos o valor da colmeia alugada subiu de 20 dólares (porque eles alugam a colmeia para polinizar a cultura) para 150 dólares, atualmente. Isso se deve à perda de polinização que eles tiveram, o que significa dizer que, desde a extinção dos polinizadores, o aluguel das colmeias mais que quadruplicou.

IHU On-Line – Que estratégias estão sendo realizadas no sentido de conscientizar a opinião pública (políticos, secretários de Estado, sociedade civil, etc.) com relação a este tema?

Márcio de Freitas – Nós temos discutido isso nos Fóruns em que somos chamados a participar. O papel do Ibama é o de controle ambiental, não propriamente de divulgação e de educação ambiental. Então, dentro da nossa função de controle de regulação dos agrotóxicos, nós temos tomado algumas medidas de restrição ao uso desses produtos.

Estamos fazendo uma reavaliação ambiental dos produtos que estão mais avaliados ao fenômeno de colapso das colmeias, que é o grupo químico chamado neonicotinoides. Desde 2011 estamos trabalhando nisso, a partir de 2012 começamos a reavaliação do imidacloprido e ainda esta semana devemos começar a reavaliação do tiametoxan e da clotianidina, que são outros dois ingredientes ativos de agrotóxicos. Esses três são ingredientes ativos do grupo químico dos neonicotinoides e estão associados ao fenômeno de desaparecimento das colmeias. Tais produtos estão sendo questionados no mundo inteiro, e o Ibama começou a fazer a reavaliação e a adotar as medidas de proteção antes da Europa e até mesmo dos Estados Unidos, que estão começando agora a avaliar esses produtos.

Na Europa, a proibição desses produtos foi feita a partir de 2013. Ela estabeleceu a proibição por dois anos, para fazer um estudo e verificar a relação causal entre o uso dos produtos e o desaparecimento das abelhas. Como eu comentei, ainda não há uma comprovação científica dessa relação, há uma suspeita muito forte e já se tem mais ou menos claro que não é um fenômeno isolado. Repito, não é só o uso dos agrotóxicos, mas uma série de fatores, como o estresse da colmeia, as variações climáticas, a própria perda de hábitat das abelhas, o que leva ao enfraquecimento das colônias e as deixam mais suscetíveis à incidência de doenças.

IHU On-Line – O que são os inseticidas do tipo neonicotinoides?

Márcio de Freitas – São um grupo químico de uso mais recente. Nós sempre nos referimos aos agrotóxicos como as moléculas mais novas e as moléculas mais antigas. Os neonicotinoides são moléculas mais novas. Isso significa que eles têm uma toxicidade mais específica, no sentido de serem mais específicos para os alvos que querem combater, menos genéricos, e com isso buscam trazer menor risco à saúde e ao meio ambiente, porque eles são direcionados a uma “praga específica”. Então, teoricamente, eles possuem uma menor toxicidade aos organismos não alvos e, por consequência, têm um comportamento ambiental normalmente mais amigável do que as outras moléculas.

Toxicidade crônica

Ou seja, eles têm uma toxicidade mais dirigida, uma vida menor no ambiente. Porém, no caso dos neonicotinoides, o que se verificou foi o seguinte: eles têm uma toxicidade menor, mas, diferentemente da aguda (aquela que mata imediatamente os insetos), causam uma toxicidade crônica, ou seja, causam um efeito mais duradouro e têm um envenenamento crônico, e não agudo. Então, no caso das abelhas, isso afeta o seu sentido de orientação, o que é muito complicado, porque esse produto não mata a abelha imediatamente, mas a enfraquece, a deixa mais suscetível à infestação de doenças. Esse problema gera desorientação, fenômeno que ficou conhecido como “colapso da colmeia”, porque a abelha sai e não volta para a colmeia, ela se desorienta.

IHU On-Line – Como estão os estudos do Ibama em relação aos neonicotinoides? Já existe algum resultado das pesquisas? Quais?

Márcio de Freitas – Nós submetemos o imidacloprido, que foi o primeiro neonicotinoide, ao processo de reavaliação. Para tanto, há um rito. Primeiramente, as empresas fabricantes dos produtos são instadas a apresentar o que elas têm de estudos mais recentes em relação a essas moléculas que pretendem colocar no mercado. Depois, é feita a análise dos estudos, e, se entendermos que os testes realizados não são suficientes para uma conclusão, solicitamos novos estudos — o que corresponde a atual fase dos neonicotinoides no Brasil. As empresas estão desenvolvendo estudos de campo, inclusive alguns no Rio Grande do Sul.

Testes

Nós pedimos aos fabricantes que verifiquem se o resíduo do agrotóxico aplicado no pólen, a quantidade presente nas amostras, é capaz de intoxicar a abelha ou não. Então, trata-se de um estudo de campo que demanda certo tempo para o desenvolvimento. Os testes começaram a ser desenvolvidos ainda no final de 2013 e devem continuar até o final de 2015, quando devemos estar concluindo essa reavaliação do imidacloprido.

IHU On-Line – Os primeiros resultados só devem sair ao fim da pesquisa?

Márcio de Freitas – Eles vão sendo entregues antes, vão sendo realizados e concluídos, mas nós não recebemos ainda nenhum resultado concreto. Já tivemos, em fevereiro, uma reunião com os pesquisadores envolvidos nisso, tanto brasileiros quanto europeus, e eles nos apresentaram os primeiros estudos que foram feitos nas culturas de melancia e cana-de-açúcar, mas ainda estamos em uma fase de coletar os dados, e não propriamente de interpretá-los. Ainda não temos avaliação dos resultados dos ensaios, e eles simplesmente escreveram para nós explicando como foram conduzidos os testes e os problemas que encontraram, porque realmente é uma situação nova. Nós estamos lidando com quantidades muito pequenas, pois normalmente os ensaios de resíduos são feitos para saúde humana, cujas quantidades analisadas são muito maiores do que quando estamos trabalhando com insetos. Então a escala é completamente diferente, e é um estudo novo, o qual o mundo ainda está estabelecendo metodologias e procedimento para fazer.

IHU On-Line – De que maneira fatores como a mudança climática impactam no ecossistema onde as abelhas vivem? Em que medida esta é uma explicação plausível para a mortalidade desses insetos? Que outros fatores influem?

Márcio de Freitas – O problema maior que temos hoje são com as espécies nativas, que são diferentes das abelhas africanizadas, mais comuns na apicultura. Entretanto, no Brasil, há mais de três mil espécies de abelhas nativas que contribuem para polinização e que têm uma importância ecológica muito grande. Então, nesse estudo, estamos preocupados com as abelhas nativas até mais do que com a abelha africanizada.

Abelhas nativas

No caso da nativa, essa questão levantada é mais complicada ainda, porque a abelha nativa sofre muito mais o impacto da perda do hábitat natural do que a abelha africanizada. Então o problema maior no Brasil é a perda de diversidade de algumas espécies, em alguns casos até mesmo antes de conhecê-las. E isso está relacionado com o modelo agrícola brasileiro, que é um modelo de agricultura intensiva.

Nós temos uma perda grande quando falamos de fazendas de algodão, por exemplo, no Centro-Oeste, que chega a ter nove, dez e às vezes até vinte mil hectares contínuos de monocultura. Essa perda da vegetação nativa obriga as abelhas a ir para dentro da lavoura e a sair da mata nativa, deixando-as, consequentemente, mais expostas ao agrotóxico.

Hábitat

A falta de um hábitat me parece ser, atualmente, a principal causa de mortandade de abelhas. A segunda são as doenças, e nessa questão devemos incluir tanto a perda do hábitat quanto a mudança climática. Não me refiro à mudança climática em si, mas o que nós estamos vivendo dela, que é bem documentado nos relatórios do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas], relacionados aos eventos climáticos críticos. O que nós temos vivido no Brasil muito claramente? São secas acentuadas e cheias acentuadas. Isso está escrito no relatório do IPCC desde 2007 como sendo uma consequência já inicial das mudanças climáticas.

Variações climáticas

Este ano, por exemplo, houve secas no Sudeste e cheias no Norte. No ano passado, tivemos efeitos de cheias na região Sudeste, o que causou toda aquela tragédia de Teresópolis, na serra do Rio de Janeiro, e tivemos seca na Amazônia. Então, essas variações bruscas e extremas de condições climáticas afetam demais todos os organismos vivos e os insetos em especial. Isso também contribui para um enfraquecimento das espécies, seja por falta de alimento no caso da seca, seja por uma suscetibilidade maior a fungos e à umidade devido ao período de cheias, além da perda do hábitat de alimento.

Esses são todos fatores, do ponto de vista prático e relacionando-os com a questão dos agrotóxicos, que se somam e acabam determinando um risco maior a essa população de insetos.

IHU On-Line – Tendo em vista o trabalho do Ibama até este momento, qual o atual cenário brasileiro com respeito às comunidades de polinizadores? Vivemos um momento crítico como na Europa e na China?

Márcio de Freitas – Nós temos um problema sério no país — o qual me parece ser de conhecimento de todos —, que é a nossa dificuldade de pesquisa, pela falta de dados históricos e de levantamentos mais sistemáticos. O grande problema de qualquer um que enfrenta essas questões — principalmente ambientais — é a falta de informação sistematizada e de dados confiáveis. Por exemplo, não há um senso sobre a população de abelhas e de polinizadores, não há pesquisa, não há um levantamento confiável para que possamos dizer se ela está diminuindo ou não.

Nos Estados Unidos, eles identificaram o fenômeno porque vêm fazendo estudos da população de polinizadores há mais de 50 anos, assim observaram que nos últimos dez anos houve um agravamento. Havia uma perda de cerca de 2% de colônias por ano e passaram a perder de 15% a 20%. Então isso foi claramente identificado e pôde ser lançado no sistema de alerta.

No Brasil, nós estamos começando a organizar um pouco o setor de apicultura, que sempre foi um setor informal e, portanto, temos pouca informação em relação ao número de enxames existentes. O número de colmeias existentes no país, mesmo na apicultura, sem falar nas nativas, é mais difícil ainda de mensurar. Mas, se pensarmos só na apicultura, que é uma atividade econômica e, portanto, tem uma certa gestão, nós não temos essa informação.

Dados

Se pegarmos os números da Associação de Apicultura Brasileira, os dados apontam o contrário, isto é, a produção de mel está subindo e, consequentemente, poderíamos supor que a população de abelhas não está sofrendo impacto nenhum. Mas é difícil afirmar isso porque, em grande parte dos casos, a apicultura ainda é uma atividade informal. Hoje nós temos alguns estados, como o Piauí, que já se desenvolveram muito por conta da apicultura, sendo uma alternativa econômica em termos de produção.

Essa mudança cultural de uma apicultura mais artesanal para uma mais industrial pode ser a razão para o aumento da produção de mel, e não, necessariamente, uma relação direta com a perda de colmeia. O que nós estamos tentando estabelecer é uma relação com os pesquisadores e com a própria apicultura, por isso temos tido alguns encontros com eles no sentido de que nos notifiquem a ocorrência de problemas de perdas de colmeia. No estudo que fizemos, levantamos quase uma centena de casos e, à medida que o tempo passou, recebemos mais algumas notificações. Com base nessas notificações verificamos que, de fato, havia uma ocorrência alta de mortandade e perda de colmeias relacionadas especificamente ao agrotóxico. Encontramos uma relação bastante alta que nos levou a começar os estudos lá no final de 2010 e início de 2011. Mas não temos um sistema de alerta, um sistema de monitoramento, de acompanhamento da população de abelhas no Brasil.

Colapso de Distúrbio de Colmeia

Sabemos que no Brasil não temos claramente identificado o fenômeno que ocorreu nos Estados Unidos e na Europa chamado de Colapso de Distúrbio de Colmeia – CDC, que seria justamente o fenômeno do desaparecimento das abelhas. Tivemos dois casos muito próximos disso que dão indícios de que ele pode ter ocorrido: um em São Paulo e outro em Minas Gerais. Mas não temos uma comprovação específica de que o fenômeno ocorreu no Brasil, ao contrário da Europa e dos Estados Unidos, onde o fenômeno está bem identificado.

Prevenção

O que estamos fazendo é mais no sentido preventivo, e sabemos que essa preocupação também existe em outros países latino-americanos. O Uruguai proibiu a aplicação de fipronil, que não é um neonicotinoide, mas também é um dos produtos cuja realização de testes estamos em via de iniciar, por ser também um inseticida desses grupos mais modernos associados à mortandade de abelhas. A Colômbia está tomando medidas de precaução e de gestão do risco do uso do imidacloprido e do tiametoxan. No Chile também existem algumas iniciativas, assim como na Argentina; então a América Latina está de uma maneira geral preocupada com a possibilidade de ocorrer um fenômeno com o nível de violência que sucedeu nos Estados Unidos. Mas não temos ainda comprovado esse fenômeno aqui. Felizmente, estamos justamente trabalhando para prevenir e aprender um pouco com a experiência negativa dos outros países antes que isso nos atinja.

IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?

Márcio de Freitas – Colocamos o Ibama à disposição dos próprios pesquisadores que estejam trabalhando com isso e queiram trocar informações conosco. Nossa intenção é, de fato, nos aproximarmos também da academia para buscar o estado da arte do ponto de vista da pesquisa com a população de abelhas e esses efeitos indesejáveis de agrotóxicos sobre a polinização. Para saber mais sobre esse assunto, basta acessar o site do Ibama, na página da Diretoria de Qualidade Ambiental.

* Publicado originalmente no site IHU On-Line.