TERRAMÉRICA - Aposta em joias marinhas

Um fotógrafo mergulha perto de um tubarão-martelo gigante. Foto: Jim Abertnethy/Cortesia Pew Environment Group.

Pela riqueza e variedade de seus corais, Honduras poderia se constituir em banco genético dessas espécies para a região da Mesoamérica.

Tegucigalpa, Honduras, 11 de junho de 2012 (Terramérica).- Honduras, no coração da América Central, é notícia por suas crises políticas e sua violência. Porém, nem tudo é tragédia. É um dos poucos países do mundo com um santuário de tubarões e acaba de proteger um arrecife de uma espécie de coral que era considerada extinta. Este mês Honduras comemora o primeiro aniversário da declaração do Santuário Bioceânico de Tubarões sobre toda sua zona econômica exclusiva, de 240 mil quilômetros quadrados no Oceano Pacífico e no Mar do Caribe.

Ali habitam várias espécies de tubarões, como martelo, touro, lixa, tigre, cinza e até o de seis guelras, que chega a medir cinco metros e é encontrado nas águas caribenhas de Roatán, uma das Ilhas da Baía. “No Golfo de Fonseca (no Pacífico) está o tubarão-martelo, uma das espécies em maior perigo porque suas barbatanas são muito procuradas na Ásia para a elaboração de sopas. Aí existem muitas crias jovens, e o Golfo lhes serve de proteção”, explicou ao Terramérica o biólogo Stephen Box, que trabalhou em um diagnóstico sobre as ameaças a estes animais no Santuário Bioceânico.

Uma sopa de barbatana de tubarão, considerada um manjar na China, pode custar até US$ 750. Embora sua contribuição nutricional seja nula, sua tradição remonta à dinastia Ming e ficou popular a partir do Século 18 entre os monarcas chineses, que a cobiçavam por sua raridade, disseram especialistas ao Terramérica. Os tubarões são animais muito vulneráveis. Embora sejam longevos, não se reproduzem antes dos 18 anos de idade e têm poucas crias, detalhou Stephen, que há quase uma década reside em Honduras e trabalha para o Centro de Ecologia Marinha.

Um terço das espécies de tubarão está ameaçada ou em risco de extinção em todo o mundo, afirmou Maximiliano Bello, coordenador na América Latina da Campanha Global de Conservação de Tubarões do Pew Environment Group, uma organização conservacionista com sede em Washington. Estes grandes predadores são os controladores do ecossistema e mantêm seu equilíbrio, acrescentou. “São como os leões marinhos. Se os tubarões não existirem, o sistema pode entrar em colapso”, afirmou ao Terramérica.

Entre 31 de maio e 2 deste mês, Maximiliano participou de uma série de atividades pela celebração do primeiro aniversário do Santuário Bioceânico de Tubarões e pela declaração de zona protegida de um banco de arrecifes de coral nas Ilhas da Baía. Junto com o presidente de Honduras, Porfirio Lobo, Maximiliano presenciou a queima de 184 barbatanas de tubarões confiscadas pelas autoridades das mãos de pescadores. Na área do Santuário estão proibidas a caça, a venda e a exploração destas espécies.

O ministro de Recursos Naturais e Meio Ambiente, Rigoberto Cuéllar, informou ao Terramérica que uma das vantagens de Honduras para proteger o tubarão é que este não faz parte da dieta nacional. E se trabalha para conscientizar as comunidades pesqueiras sobre sua importância para o equilíbrio do sistema, esclareceu. Honduras está enviando uma mensagem ao mundo sobre a necessidade de proteger as espécies que vivem nos mares, ressaltou o ministro, anunciando que a vizinha Costa Rica está para aderir à iniciativa do santuário. “Gostaríamos que fosse toda a América Central, porque os tubarões são o termômetro dos oceanos e dos ecossistemas costeiros”, comentou.

Junto com Bahamas, Maldivas, Ilhas Marshall, Palau e Tokelau, Honduras é um dos poucos países do mundo com um santuário para proteção do tubarão. Também na Ilha de Roatán, as autoridades declararam sítio de importância para a vida silvestre o arrecife Banco Cordelia. A proteção do arrecife de 17 quilômetros quadrados se deve ao fato de ser o local de maior cobertura e extensão no Caribe do coral chifre de veado (Acropora cervicornis), em perigo crítico de extinção, explicou ao Terramérica a bióloga marinha Calina Zepeda, do The Nature Conservancy.

Exceto este arrecife encontrado em Honduras, a espécie quase se esgotou no Caribe devido a uma doença rara que a afetou entre 1983 e 2000. Além disso, é um local muito importante para a desova de peixes, entre eles a garoupa Nassau (Epinephelus striatus), em perigo de extinção, e tem uma considerável população de tubarões de arrecife (Carcharhinus perezi), um dos atrativos turísticos da área, onde se pratica o mergulho com tubarões.

A esta descoberta se soma a de outros sete arrecifes na Baía de Tela, no Atlântico, em julho de 2011. Seis deles formam a barreira do Banco Capiro, oito quilômetros mar adentro a partir da cidade de Tela, e o sétimo, semelhante ao de Cordelia, se encontra perto de Punta Sal. As autoridades nacionais e locais decidiram criar uma zona protegida que os inclua.

Para Calina, este país pode constituir uma espécie de banco genético de corais para o Coredor Biológico Mesoamericano, uma iniciativa de oito países (Belize, Costa Rica. El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua e Panamá) para conservar e proteger a conectividade ecológica do istmo. Honduras é uma “nação rica perante o mundo pelas joias marinhas que possui e pela variedade de seus sistemas”, enfatizou a bióloga.

* A autora é correspondente da IPS.

 

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The Nature Conservancy, em espanhol, português e inglês

 

Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.