Analistas constatam queda de 36% no valor dos mercados de carbono

Volumes crescentes são transacionados nos mercados de carbono, porém a estagnação nas negociações políticas internacionais e domésticas na União Europeia derrubou os preços em quase 50%.

A atividade comercial nos mercados de carbono ao redor do globo subiu em 2012 para níveis nunca vistos, crescendo 26% em relação ao ano anterior para 10,7 bilhões de toneladas. Volumes equivalentes a um terço das emissões mundiais de dióxido de carbono foram transacionados, estima a Bloomberg New Energy Finance (BNEF) em seu balanço anual. Porém, mesmo com o aumento nas comercializações, o valor do mercados de carbono como um todo caiu por causa dos preços insignificantes.

Grande parte deste crescimento na movimentação foi registrada no final de 2012: no esquema europeu de comércio de emissões (EU ETS, em inglês), o quarto trimestre saltou 40% em relação à média anterior devido ao aumento nos leilões de permissões de emissão e à crescente especulação e volatilidade associadas às tentativas da Comissão Europeia de dar suporte aos preços.

A liquidez nos mercados de compensação de emissões (Reduções Certificadas de Emissão – RCEs e Unidades de Emissão Reduzida – ERUs) disparou 150% no último trimestre impulsionada pelas negociações de final de ano, especulação que apenas ERUs emitidas até 2012 seriam elegíveis no EU ETS e por traders que desejavam aproveitar os valores extremamente baixos.

Como previsto por especialistas que já haviam feito estimativas no final de dezembro, 2012 apresentou uma retração no valor total dos mercados de carbono. Pela primeira vez, caindo 36% em relação ao ano anterior para € 61 bilhões, o setor somou um valor similar ao nível de 2008, lamenta a BNEF. A causa são os preços “severamente deprimidos” devido ao excesso de permissões no principal mercado, o EU ETS.

O valor médio do carbono ficou apenas em € 5,7/t, sendo que em 2011 era de € 11,2/t, uma queda de quase 50%. AS RCEs e ERUs perderam, respectivamente, 85% e 92% do seu valor de mercado entre outubro de dezembro com o aumento recorde nos níveis de emissão destes créditos.

Perspectivas

A BNEF espera uma recuperação geral do mercado para € 80 bilhões em 2013, nível similar ao de 2009 e 2010, levada pelo incremento nos volumes transacionados em mais 17% (devido ao uso mais intenso dos leilões) e nos preços em cerca de 15%, após a intervenção da Comissão Europeia.

Com a entrada em vigor dos esquemas de comércio de emissões da Califórnia (2013) e Austrália (2015), a BNEF espera que estas novas iniciativas tenham 35% do mercado em 2015.

“Mesmo face à paralisia política e aos preços deprimidos, a atividade comercial nos mercados de carbono continuou a crescer em 2012. Isto mostra como estes mercados funcionam eficientemente. Agora, os legisladores precisam aproveitar a energia deste mercado e criar políticas que levarão a inovação, incentivarão maiores reduções nas emissões e cortarão custos”, comentou Guy Turner, diretor de pesquisas em commodities da BNEF.

* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.