A guerra contra as finanças

Talvez o Ocidente esteja preparado para "guerra contra as finanças". Ilustração: Satoshi Kambayashi/The Economist

Atacar os credores é uma estratégia intrigante, mas incorreta.

O homem que, segundo pesquisas recentes, se tornará o próximo presidente francês, François Hollande, diz que as finanças são o seu “adversário real” na eleição futura. A Grã-Bretanha acaba de exonerar o antigo chefe-executivo do Banco Real da Escócia. Até Newt Gingrich, candidato à presidência nos Estados Unidos está atacando os “abutres capitalistas” nas atividades de private equity. Talvez o Ocidente esteja preparado para uma “guerra contra as finanças”, nos moldes da sua antiga “guerra ao terror”, e com igual grau de incerteza sobre como definir uma vitória.

Os políticos parecem ter três problemas principais com o setor financeiro. O primeiro é que os banqueiros ganham muito. O segundo é que os bancos se arriscam imprudentemente para, em seguida, precisarem de um resgate do governo. E a terceira queixa é que os investidores dos mercados financeiros têm uma influência nefasta sobre a economia por meio de sua habillidade de afetar as obrigações de dívidas públicas e os preços das ações.

Os dois primeiros problemas estão relacionados. As pessoas não se preocupam demais com os altos salários dos jogadores de futebol. O problema com os banqueiros é até que ponto eles são subsidiados pelo apoio implícito e explícito dos contribuintes. A questão de os bancos serem “grandes demais para falir” está sendo discutida, mesmo que lentamente, pelas altas relações de capital sendo impostas pelos reguladores. Relações de capital mais altas deveriam implicar baixos retornos nas ações; com o tempo, isto deve levar a um aumento de pagamento mais lento para os banqueiros.

O terceiro problema é uma queixa que perdura há muito tempo, mas parece uma batalha difícil de lutar. Todos os governos da zona do euro precisam pegar dinheiro emprestado dos mercados. A queixa subjacente é que os especuladores manipulam as obrigações de dívidas públicas, tornando mais difícil para os governos se financiarem. Como resultado, os governos são forçados a adotar programas de austeridade, contra a vontade de seus eleitores.

Mas o problema pode não ser com os mercados no fim das contas. O que acontece com países como a Grécia, que perdem acesso ao setor financeiro? Eles se tornam dependentes dos credores oficiais – o Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu, e outras nações da UE –, que podem ser ainda mais restritivos na demanda por programas de austeridade. Após alguns reveses com o BCE, Hollande, de 57 anos, pode acabar desejando que sua aposentadoria planejada para os 60 anos também se aplicasse aos presidentes.

* Publicado originalmente no site The Economist e retirado do Opinião e Notícia.