A grande desaceleração

Líderes do Brics durante o encontro do grupo em maio. Foto: Reprodução/Internet

Depois de um período próspero, economias do mundo emergente precisam se rearrumar para tentar recuperar velocidade de crescimento da década passada.

Seguindo os padrões do mundo rico, os mercados emergentes ainda mantêm um desempenho muito bom. O FMI estima um crescimento de 5,6% para as economias em desenvolvimento em 2012. Além disso, a desaceleração que atingiu os países em desenvolvimento é parcialmente intencional. Durante a crise financeira global, as economias emergentes responderam com energia: a China lançou um estímulo enorme, e os bancos estatais brasileiros abusaram do crédito, reduzindo taxas de juros. Eles foram tão bem-sucedidos que em 2010 foram forçados a alterar o curso. Para eliminar as pressões sobre os preços, eles elevaram as taxas de juros, contiveram a especulação e permitiram que suas moedas se valorizassem. Com um certo atraso, o aperto teve o resultado previsto.

Ainda assim, a desaceleração revelou-se muito mais acentuada do que o esperado. A crise na zona do euro é parcialmente responsável. Ela minou a demanda por exportações de manufaturados do mundo em desenvolvimento e os preços de suas commodities; a África do Sul é um exemplo claro. Os bancos europeus eram uma via para o dinheiro estrangeiro que entrava nos mercados emergentes. Agora eles estão retrocedendo enquanto enfrentam problemas domésticos.

Felizmente, os legisladores no mundo emergente têm muita margem para combater esse cenário. Enquanto nos bancos centrais dos Estados Unidos, Japão e Europa, a meta das taxas de juro é quase zero, nos mercados emergentes ela está em uma média de quase 6%. O estímulo fiscal, um luxo que poucas economias avançadas, cujo déficit de orçamento é uma média de 6% do PIB, podem pagar, ainda é uma opção em muitas economias em desenvolvimento, onde os déficits são mais gerenciáveis, em torno de 2%.

Uma queda nesses países, portanto, parece improvável. Isso, no entanto, trará um retorno às taxas de crescimento da última década. A China, por exemplo, não quer isso. Sua economia tornou-se superdependente do investimento; seus líderes querem inaugurar uma fase de crescimento mais sustentável, mas mais lento, liderada pelos consumidores. Além da China, é cada vez mais claro que muitas economias emergentes têm crescido para além do seu potencial. Os otimistas pensavam que a Índia poderia sustentar um estilo chinês de crescimento de mais de 9% ao ano, mas isto levou à inflação e déficits em conta corrente, sugerindo que o potencial de crescimento da Índia pode estar mais próximo de 6% ou 7%.

Prepare-se para a maratona

Infelizmente, muitos governos do mundo emergentes têm interpretado a crise nos países ricos do mundo das finanças como uma razão para preservar um papel mais atuante para o Estado. A China tem reservados alguns setores para empresas estatais. No Brasil, a grande companhia de petróleo controlada pelo Estado, a Petrobras, e os bancos controlados pelo Estado tornaram-se virtuais apêndices da política do governo. Tamanha influência sobre a economia é de fato útil durante uma crise, mas a longo prazo vai sufocar a concorrência, matar de fome o setor privado, deter o investimento e o know-how estrangeiro, e disseminar a corrupção.

Quando a poeira baixar, os mercados emergentes ainda estarão crescendo mais rápido do que cresciam antes de 2003. Mas voltar à velocidade da última década significa a manutenção da disciplina macroeconômica e o retorno às reformas microeconômicas, que a tornaram possível, antes de qualquer coisa.

* Publicado originalmente no jornal The Economist e retirado site Opinião e Notícia.