Valoração econômica, gestão ambiental e competitividade

Preocupadas com a redução dos estoques de recursos naturais e com as reações cada vez mais fortes da sociedade contra a degradação do meio ambiente, algumas empresas buscam aprimorar a gestão dos impactos e, principalmente, das dependências de seus negócios em relação a recursos naturais e serviços ecossistêmicos (prevenção de enchentes, polinização de culturas agrícolas, purificação da água e conservação dos solos, dentre outros).

Para se ter uma ideia da importância econômica dos serviços ecossistêmicos, em 1997 seu valor global foi estimado em US$33 trilhões/ano -valor 83% maior do que a toda a riqueza produzida globalmente naquele ano (revista “Nature” número 387).

As empresas estão mais conscientes dos custos sociais de suas externalidades, ou seja, dos impactos que sua atuação causa a outros e que, por não serem compensados, acabam sendo absorvidos pela sociedade. A gestão de dependências, por sua vez, tem se mostrado cada vez mais estratégica para a própria sobrevivência dos negócios.

Contudo, considerar tais impactos e dependências no processo de tomada de decisão de negócios não é fácil. Afinal de contas, quanto as florestas contribuem para a regularização das vazões de rios e prevenção de enchentes, que interferem com os negócios? Quanto a mata ciliar contribui para a prevenção da erosão do solo e do assoreamento de reservatórios, para a purificação da água da qual os negócios dependem?

Para responder perguntas como essas algumas empresas estão recorrendo à valoração econômica. A ideia é atribuir valor monetário aos impactos e dependências, permitindo assim que se tornem comparáveis a outros fatores relevantes na tomada de decisão de negócios e que também são expressos em valores monetários.

Exemplo recente, a Puma, multinacional fabricante de artigos esportivos, valorou as externalidades de seus produtos no ano de 2010. A análise mostrou que o valor dessas externalidades, ou custos sociais, correspondeu a 72% do lucro líquido da empresa naquele ano, e que 94% dessas externalidades tinham origem em seus fornecedores.

A valoração econômica é criticada por suas limitações metodológicas, que tornam difícil obter estimativas que incorporem todas as nuances e diferentes percepções de valor que diferentes pessoas têm de um mesmo recurso ambiental ou serviço ecossistêmico.

Entretanto, muitas vezes mesmo uma estimativa que capture apenas parte dessas percepções pode ser um subsídio importante para a tomada de decisão de negócios -desde que suas limitações sejam reconhecidas e mantidas em perspectiva.

Enfim, as empresas que começam a procurar soluções para mensurar e, se possível, valorar seus impactos e dependências de recursos naturais e serviços ecossistêmicos obterão pelo menos três importantes vantagens competitivas: melhor percepção da viabilidade econômica de novos negócios; maior eficiência na redução dos riscos associados a suas dependências, garantindo melhores condições de perpetuar seus negócios; e maior eficiência na redução de externalidades.

* Renato Soares Armelin é coordenador do Programa Sustentabilidade Global do Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP).

** Publicado originalmente no site Prêmio Empreendedor Social/Folha de S.Paulo.