Conferência alerta sobre risco de extinção de brincadeiras tradicionais no Brasil

Tânia Ramos Fortuna, na Conferência promovida pelo Instituto Arcor Brasil, que completou dez anos de atividades pela educação. Foto: Paula Datti/Instituto Arcor Brasil
Tânia Ramos Fortuna, na Conferência promovida pelo Instituto Arcor Brasil, que completou dez anos de atividades pela educação. Foto: Paula Datti/Instituto Arcor Brasil

Brincadeiras tradicionais, parte importante do patrimônio cultural brasileiro, estão correndo risco de extinção. A advertência foi feita na noite de terça-feira (27), no Centro Pedagógico de Rio das Pedras, interior de São Paulo, por Tânia Ramos Fortuna, criadora e diretora do Programa de Extensão Universitária “Quem quer brincar?”, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ela foi uma das expositoras na Conferência “Brincar por Brincar? Direito, prazer e aprendizado”, que marcou a celebração dos dez anos do Instituto Arcor Brasil, lembrados no último domingo, 25 de maio.

Mais de 200 educadores, de dezenas de escolas da região de Piracicaba, participaram da Conferência, realizada no contexto do Programa Escola em Movimento, iniciativa do Instituto Arcor Brasil. Através do Programa, o Instituto apoia projetos de treze escolas públicas dessa região. O educador e artista plástico Adelson Fernandes Murta Filho, o Adelsin, foi o outro conferencista da noite, que também contou com a participação de representantes da Arcor do Brasil, da Fundação Arcor, da Argentina, e a diretora-executiva do Instituto Arcor Brasil, Célia Ribeiro de Aguiar.

Risco de extinção – Para Tânia Ramos Fortuna, algumas brincadeiras tradicionais estão sofrendo o risco de extinção, no contexto das profundas transformações sociais, culturais e urbanísticas em curso. Ela citou algumas modificações urbanísticas que, na sua opinião, afetam as formas tradicionais de brincar, como a substituição dos campinhos de futebol de várzea pelas quadras de aluguel, dos cinemas locais por salas nos shoppings, dos banhos em rios e lagoas por piscinas em clubes, dos circos e outras atrações em praças pela vida fechada em condomínios e, de novo, shoppings, levando ao que está sendo denominado de “infância indoor”.

Do mesmo, observou, estão ocorrendo transformações culturais importantes, igualmente afetando o modo tradicional de brincar. “Os valores que eram determinados pela Igreja e a tradição são agora globalizados e determinados pela mídia. Como consequência, por exemplo, um brinquedo que era exclusivo de um país agora está presente em todos, padronizado”, disse Tânia. A especialista também notou que “está havendo uma compressão do tempo livre pelo trabalho, enquanto antes havia maior tempo livre”. Tudo isso, ao lado de fatores como a diminuição das famílias, afirmou, “está levando a mudanças na cultura lúdica”.

Tânia Fortuna defendeu que os educadores e as escolas “reconfigurem suas ações e espaços, no sentido de favorecer as condições para amplas e diferentes oportunidades de aprendizado e de brincadeiras, e com isso contribuindo para a vida ativa e a educação integral das crianças”.

Brincadeiras e música – Adelson Fernandes Murta Filho, o Adelsin, é um pesquisador das brincadeiras tradicionais que ocorrem em todas as regiões do Brasil. Ele apresentou várias delas, intercaladas com músicas também populares, durante sua apresentação, mobilizando a plateia para chamar a atenção para a importância do brincar e da vida ativa, focos do Programa Escola em Movimento do Instituto Arcor Brasil. Como ação corporativa do Grupo Arcor, a iniciativa também está presente na Argentina e no Chile. “As brincadeiras instigam, incentivam a curiosidade das crianças para aprender mais e crescer”, disse Adelsin, autor de livros sobre o tema. Novas capacitações para os educadores das escolas que participam da primeira edição do Programa Escola em Movimento estão previstas para o segundo semestre.

Em dez anos de atividades, o Instituto Arcor Brasil já deu apoio a 338 projetos, em sintonia com a sua missão, de contribuir para que crianças e adolescentes tenham igualdade de oportunidades, por meio da educação. Entre suas ações próprias estão o Programa Minha Escola Cresce (que entre 2004 e 2014 resultou no apoio a 182 projetos de escolas públicas de São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco) e o Projeto Vida, Luz e Som, que proporcionou exames visuais e auditivos gratuitos para mais de 4 mil crianças de Rio das Pedras e Bragança Paulista, em São Paulo, Contagem (MG) e Ipojuca (PE). Entre as iniciativas em parceria estão o Programa Amigos do Mar (parceria com o Projeto Tamar/ICMbio) e o Programa pela Educação Integral, no marco do Fundo Juntos pela Educação (constituído pelo Instituto Arcor e Instituto C&A).