Apesar de polêmica, especialistas enxergam com bons olhos a universidade virtual paulista (Univesp)

Aprovada pela Assembleia, a criação da quarta universidade pública do Estado de São Paulo só depende da assinatura do governador Alckmin.

O ensino superior no Brasil ainda está concentrado em cidades grandes, o que causa grande dificuldade para levar ao interior profissionais qualificados para municípios menores. No retrospecto recente, ações como o Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), do governo federal, têm buscado fomentar o desenvolvimento regional, qualificar profissionais e, consequentemente, criar mão de obra qualificada para sustentar o crescimento do país.

Nesse sentido, a Assembleia Legislativa do governo de São Paulo aprovou, no dia 19, a criação da quarta universidade pública do Estado, a Univesp (Fundação Universidade Virtual do Estado de São Paulo). Agora, o projeto está na mesa do governador Geraldo Alckmin aguardando aprovação. “Esperamos que em breve a Univesp seja formalizada para que possamos colocar a universidade ao alcance de todas as regiões e de acordo com as necessidades delas”, explica Carlos Vogt, coordenador da Fundação.

Em funcionamento desde 2009 como um programa do governo estadual, a Univesp já nasceu polêmica. Idealizada para funcionar baseada no ensino a distância (EàD), a iniciativa colecionou críticas pela ausência de aulas presenciais, motivo que poderia prejudicar a qualificação dos alunos.

Segundo o vice-presidente da Associação dos Docentes da USP (Adusp), César Minto, a formação de professores – principal objetivo da Fundação – deve ser feita de maneira exclusivamente presencial. “Sempre defendemos que a formação de professores seja presencial, sem aulas a distância”, afirma Minto.

Metade presencial, metade virtual

Para contornar as críticas ao projeto inicial, a coordenação da Univesp sustenta que os cursos oferecidos pela entidade, em média, serão 50% presenciais e 50% virtuais. “Todos os cursos são semipresenciais, ou seja, exigem uma carga horária de aulas presenciais. Sobretudo os cursos de graduação e pós-graduação”, afirma Vogt. “A Univesp não é ensino a distância, é ensino virtual, que faz uso de tecnologias e aulas presenciais para levar conhecimento a regiões afastadas”, completa.

Segundo ele, os alunos aprovados no processo seletivo receberiam o conteúdo virtual por meio da internet e da TV Univesp – canal aberto digital da TV Cultura. Já as aulas presenciais seriam possíveis por meio de parcerias com as outras três universidades públicas paulistas (USP, Unicamp e Unesp). “Basta ao aluno ter uma antena parabólica digital para sintonizar no canal aberto 2.2 e acesso a internet para começar a estudar”, conta Vogt. “Além disso, a parceria com USP, Unicamp e Unesp permite que o estudante disponha da infraestrutura dessas universidades para compor seu aprendizado. Elas funcionariam como polos”, explica.

Os estudantes, de acordo com o coordenador, receberiam aulas presenciais nos espaços e laboratórios dos campi destas universidades, em geral, duas vezes por semana e no período da noite. Além disso, a Fundação também estuda formas de limitar o deslocamento de estudantes a no máximo cem quilômetros. “Ofertaremos os cursos de acordo com as necessidades que identificarmos nas diferentes regiões do Estado e levando em conta a proximidade com algum dos campi das três universidades públicas estaduais”, diz.

Para o professor Ismar de Oliveira Soares, do curso de Educomunicação da USP, o ensino a distância ou virtual não se configura como um problema. “O uso da tecnologia no ensino é irreversível. O importante é saber como essas tecnologias de ensino a distância serão desenvolvidas e avaliar a eficácia do programa por meio do nível profissional dos formandos”, argumenta.

Público-alvo

A Univesp tem planos para possuir 24 mil alunos durante os seus quatro primeiros anos, e funcionar com um orçamento anual de R$ 30 milhões, provenientes da Secretaria de Desenvolvimento do governo paulista. Caso a criação da Fundação seja oficializada, a Univesp também será obrigada por lei a desenvolver atividades de pesquisa e extensão universitária.

Contudo, para tanto, a Fundação contará com apenas 40 professores permanentes e 95 funcionários técnico administrativos. “Trabalharemos com professores especialistas contratados. Ou seja, contrataremos professores para desempenhar funções específicas como vídeos de parte específica do conteúdo do curso”, exemplifica. No que diz respeito à pesquisa e extensão, Vogt defende que ambas as atividades serão focadas em ensino a distância, sem vínculo específico com algum curso ministrado pela instituição.

Por meio dessa estratégia, a Fundação pretende qualificar alunos egressos do ensino médio em todo o Estado de São Paulo com cursos voltados para as demandas locais do mercado de trabalho e para a área de educação. “O programa está funcionando. Temos baixas taxas de evasão e um desempenho positivo nas avaliações”, defende Vogt.

Nos primeiros anos está prevista a oferta dos cursos de licenciatura em Língua Portuguesa e em Ciências e em áreas voltadas à informática – como bacharelado em Sistemas para Comércio Eletrônico e em Segurança da Informação, Tecnologia em Processos Gerenciais,  Engenharia da Computação e Engenharia de Produção.

Caso o governador paulista aprove a criação da Fundação, a coordenação da Univesp tem 60 dias para começar a implementar o projeto.

* Publicado originalmente no site Carta Capital.