Diploma não garante estabilidade financeira

Oferta de estudantes universitários formados está aumentando rapidamente. Foto: Reprodução/Brett Ryder

Gastar três ou quatro anos numa universidade aumenta as chances de se conseguir um emprego bem pago e estável? Os mais velhos sempre nos falaram que a educação é o melhor modo de nos prepararmos para prosperar num mundo globalizado. Mas o passado é um guia confiável para o futuro? Ou estamos vivendo o início de uma nova fase de relações entre empregos e educação?

Há boas razões para pensar que a recente queda – instada pela recessão – na demanda por graduados ocidentais tornar-se-á algo estrutural. A tempestade de destruição criativa, que chacoalhou tantos operários ao longo das últimas décadas, está começando a atingir as elites cognitivas também.

A oferta de estudantes universitários formados está aumentando rapidamente. A revista Chronicle of Higher Education calcula que, entre 1990 e 2007, o número de estudantes matriculados em universidades aumentou em 22% na América do Norte, 74% na Europa, 144% na América Latina e 203% na Ásia. Em 2007, 150 milhões de pessoas frequentavam universidades ao redor do mundo, das quais 70 milhões se encontravam na Ásia.

Ao mesmo tempo, a demanda por trabalho especializado está sendo reconfigurada pela tecnologia, de modo semelhante a como a demanda por trabalho agrário foi reconfigurada no Século 19 e o trabalho industrial no Século 20. Computadores não só conseguem desempenhar tarefas repetitivas muito mais rápido que humanos. Eles também podem servir de ferramenta para que amadores realizem o trabalho outrora realizado por profissionais.

Vários economistas, Paul Krugman inclusive, começaram a argumentar que sociedades pós-industriais serão caracterizadas não por um crescimento ininterrupto na demanda por trabalhadores bem educados, mas por um grande “esvaziamento”, à medida que empregos de nível médio são destruídos por máquinas inteligentes, o que diminui a criação de empregos de alto nível. David Autor, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), salienta que o principal efeito da automação na era da informática não é o de destruir empregos operários, mas o de destruir qualquer emprego que possa ser reduzido a uma rotina. Alan Blinder, da Princeton University, argumenta que os empregos que as pessoas com nível superior têm desempenhado tradicionalmente são mais “exportáveis” do que aqueles com salários baixos. Um encanador ou motorista de caminhão não pode fazer o seu trabalho a partir da Índia. Um programador de software pode.

Os jornais estão lutando uma batalha inglória contra a blogosfera. As universidades estão trocando professores com dedicação exclusiva por equipes de substitutos. Escritórios de advocacia estão terceirizando trabalhos de rotina, e até médicos estão sendo ameaçados à medida que pacientes encontram aconselhamento online e tratamento nos novos centros de saúde do Walmart. Esta reconfiguração também tornará a vida muito menos previsível e aconchegante para a próxima geração de graduados.

* Texto traduzido e adaptado pelo Opinião e Notícia.

** Publicado originalmente no jornal The Economist e retirado do site Opinião e Notícia.