Educação ambiental é caminho para engajamento político de jovem

Conhecer a cadeia produtiva dos alimentos, descobrir de onde vem a água do seu bairro e articular pessoas em prol de campanhas pelo meio ambiente. Essas são algumas contribuições da educação ambiental para a formação de jovens, segundo o ex-coordenador do Programa de Juventude e Meio Ambiente do Ministério da Educação, Rangel Mohedano, que esteve no cargo até março deste ano.

Ele concedeu uma entrevista exclusiva ao Portal Aprendiz sobre como a educação ambiental pode enriquecer o currículo das escolas. Confira.

Aprendiz – Qual a relação entre educação e meio ambiente? Como o tema pode contribuir para o aprendizado nas escolas e em espaços de educação não formal?

Rangel Mohedano – A ponte entre essas duas áreas é natural. O meio ambiente não é a Amazônia ou o Lago Titicaca, mas, sim, onde você está. A relação do ser com o ambiente gera aprendizado, pois todo processo de interação é educativo. A educação ambiental nos leva por uma linha mais experimental e menos teórica, que é de refletir qual meu papel no meio ambiente. Se eu compro carne, preciso saber se seu processo de produção destroi ou não a Amazônia. É uma questão de perceber como eu, indivíduo, tomo ações que repercutem no mundo.

Aprendiz – O termo educação ambiental parece estar um pouco esvaziado. Há ações do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Ministério da Educação (MEC) para fortalecer esta área?

Mohedano – O Brasil é o primeiro país a ter uma politica nacional de educação ambiental. Ela é referência em legislação e execução. Pelas diretrizes, MEC e MMA compõem um órgão gestor que trabalha junto com um comitê para chamar a sociedade para construir ações pela educação ambiental. Com ela, temos, na medida do possível, recursos disponíveis para contratar professores para a área. Neste trabalho de formiguinha conseguimos reverter o esvaziamento.

Aprendiz – Apesar disso, a participação de escolas nas Conferências Infanto-Juvenis de Meio Ambiente diminuiu.

Mohedano – Na primeira Conferência (Nacional) Infanto-Juvenil de Meio Ambiente (2003), participaram 17 mil escolas. Na última (2009), 11 mil. A participação diminuiu, mas a qualidade aumentou. O processo de qualificação das propostas e das diretrizes foi muito grande.

É notório que as pessoas se debruçaram sobre o tema e perceberam a proposta. Trata-se de uma vontade política. São crianças, adolescentes e jovens falando do mundo que queremos. É um processo participativo grande.

Aprendiz – O meio ambiente é um dos macrocampos do Programa Mais Educação. O que isso possibilita?

Mohedano – A educação integral e a educação ambiental têm conceitos que ambas as áreas pegam emprestado uma da outra e que são complementares, principalmente quando se fala em educação em espaços e em perspectiva integral.

Aprendiz – Quais elementos a educação ambiental apropria da integral e vice-versa?

Mohedano – Um deles é o de Bairro-Escola. O estudante precisa estudar seu espaço, como é o bairro, de onde vem a água, onde você pode comprar produtos e quem vive no bairro, tendo ele como um espaço educador. Na relação com este espaço, eu me formo e me educo.

Meio ambiente é, por definição, aquilo que integra tudo. Não tem como falar de água sem falar do clima e do processo de civilização criado naquele espaço. Além disto, possibilita pensar como nossas ações hoje vão impactar daqui a 20 ou 30 anos. Se eu formo uma geração para cuidar da água, no futuro teremos água para beber. Se não, não.

Aprendiz – A educação ambiental tem potencial para incentivar jovens a participarem de atividades políticas ou se articularem com outros grupos?

Mohedano – A bandeira ambiental é muito forte e está envolvendo cada vez mais gerações. A ideia é contribuir para ter um mundo saudável para a próxima geração. Eu mesmo me envolvi com a causa com 14 anos, pois queria deixar um planeta melhor para os meus filhos. Hoje estou com 30 anos e vejo as gerações que vieram depois da minha com essa vontade mais forte. Então, se trata de uma bandeira de mobilização do jovem.

É uma nova forma de fazer política, porque não posso decidir sobre o meio ambiente sozinho. Não importa minha vontade sobre a sua, porque todos têm que fazer sua parte para colaborar com a causa. Não adianta eu parar de jogar lixo no chão se você continua jogando, assim como não adianta São Paulo despoluir o Tietê se Salesópolis (SP) não participar. O ar e a água são de todo mundo. Isto joga a discussão política para um nível elevadíssimo.

* Publicado originalmente no site do Aprendiz.