Preservação ambiental no currículo escolar

Sustentável, estável, durável e ecologicamente correto. Parcimonioso para com tudo que emana da natureza, visando, assim, a assegurar vida plena a todos.

De forma concisa e sem delongas, esses conceitos (melhor chamá-los de Filosofia Ecológica) asseguram, na prática, a qualidade da vida.

Pois bem. Partindo dessa abordagem, cujo fito principal é o de resguardar e preservar a vida em toda sua forma qualitativa, nossos alunos iniciantes –ainda vistos como o futuro da nação– ao ingressarem na escola, em seus primeiros anos de estudo, precisam, de forma imediata, começar a se dar conta de que possuem uma relação muito especial com o ambiente que os cerca.

Com isso, o que queremos aqui esboçar é a necessidade de incutir nas cabecinhas de nossas crianças que a verdadeira qualidade de vida só é (e somente será) possível mediante a preservação ambiental.

É na base do ensino que se deve começar a “plantar” a ideia essencial de que preservar significa dar continuidade. Mais tarde, quando se encontrarem na dura realidade da vida adulta, quando então entenderem o real funcionamento de um sistema econômico, todas essas crianças de hoje terão oportunidade de saber que a produção (qualquer que seja), para que aconteça a contento, precisa (e deve) ser combinada com a ideia da preservação. Isto é um imperativo ecológico!

Desse modo, com o passar dos anos, quando o futuro se descortinar à frente de todos, nossos futuros jovens profissionais estarão cientes que a economia (atividade produtiva), por exemplo, deve se “afinar” com a ecologia para que, juntas, busquem preservar os mecanismos que proporcionam mais vida; e não só isso: que seja uma vida com qualidade, com essência e boa substância.

É lá, pois, nas primeiras tarefas escolares, que nossos jovenzinhos precisam ter em mente conceitos como reciclagem e transformação do lixo, reúso da água, economia de energia, aproveitamento de materiais descartáveis, preservação das espécies, consumo moderado. Isto tudo combinado proporciona equilíbrio ambiental.

É desejoso e imprescindível incutir no imaginário dessa garotada a ideia central da necessidade de termos um “futuro comum”. Por que isto? Simplesmente porque a decisão de cada um, mesmo ainda na fase da infância e/ou da pré-adolescência, se baseia num amplo processo de escolhas. Tais escolhas, estejamos certos disso, esbarram na necessidade de se pensar a vida no futuro, no amanhã que, por sinal, não está tão distante assim.

De nossa parte, estamos convencidos de que, enquanto não houver consenso amplo e geral de que nossas necessidades atuais para serem atendidas devem passar pelo irrestrito respeito ao meio ambiente, permitindo, com isso, que as gerações vindouras também tenham chance de participar do processo de escolhas, esse dito e propagado “futuro” corre sério risco de ser algo nada agradável; se é que ainda teremos a chance de “ver” de pertinho esse “futuro”.

Pedagogia ecológica

Eis que a ideia de sustentabilidade, pertencente ao ideário comum que cerca a noção ampla da “preservação ambiental”, é, grosso modo, poder então olhar para o futuro para que tenhamos plenas e dignas condições de sobrevivência.

Para que isso ocorra, no entanto, nada melhor que trabalhar logo nos primeiros anos de ensino-estudo-aprendizagem os conceitos (as filosofias) fundamentais de preservação ambiental e de respeito a nossa Mãe Natureza. Nasce disto a necessidade de se colocar em prática uma pedagogia ecológica.

É fundamental, nesse sentido, repensar e discutir, com a geração que certamente fará esse mundo “se movimentar” no desenrolar desse Século 21, os atuais padrões de consumo e todas as alterações climáticas envolvendo desde a escassez de água à seca constante em algumas regiões, passando ainda pelo grave problema do aquecimento global à extinção de plantas e animais.

Parte disso, para reiterarmos esse assunto, a premente necessidade de “informar” nossos alunos que todo e qualquer sistema econômico no ato de produzir mercadorias perturba e destrói os sistemas naturais da Terra. Infelizmente, muitos ainda ignoram este fato e o veem como mera retórica.

Entendemos ainda, para melhor efeito didático, não ser necessário, ao menos num primeiro momento, aprofundar-se conceitos fundamentais, como a existência de limites naturais ou mesmo a ideia central que norteia a “pegada ecológica”.

Deve-se apenas –e tão somente–, nos anos iniciais de estudo, reforçar sistematicamente junto ao alunato a noção crucial de que, para se produzir algo (e isto se perpetuar), a economia precisa antes salvaguardar o meio ambiente, caso contrário, não haverá continuidade, nem de produção, nem de quem consome, pois talvez não haja vida.

Entendemos, nesse pormenor, que, a partir das noções iniciais da importância da preservação ambiental, se encaixa perfeitamente a ideia de trabalhar com o alunato, no decorrer de seus estudos, conceitos que discorrem sobre o real significado de se ter e praticar uma economia sustentável e ambientalmente saudável, implicando, com isto, parcimônia no uso dos recursos naturais, como dissemos ao iniciar o presente artigo.

O conceito central aqui defendido, baseando-se nos pontos principais que norteiam a “pedagogia ecológica” como pano de fundo, é que o alunato (a partir do iniciante com seus seis ou sete anos de vida) não perca de vista que, por trás de todos esses conceitos e preocupações ecológicas mencionadas, é a vida (e somente a vida) que estamos discutindo. Vida esta que, para ser essencialmente bem vivida, deve antes ser recheada de qualidade e bem-estar, caso contrário, não faz sentido. E qualidade e bem-estar, na vida de qualquer um, é pensar antes no ar que se respira, na água que se bebe, nas frutas que se come, e também na saúde pública que nos é oferecida.

É com a pedagogia ecológica que a noção de preservação ambiental deve estar incutida no currículo escolar, afinal, ainda que a qualidade do ensino esteja ano a ano em livre queda, salvo uma exceção aqui, outra acolá, a escola (a segunda casa de todos) ainda tende a ser o lugar de primazia para se pensar num futuro melhor para todos.

* Marcus Eduardo de Oliveira é economista brasileiro, especialista em Política Internacional, e articulista do site O Economista, do Portal EcoDebate e da Agência Zwela de Notícias (Angola).

* Publicado originalmente no site Adital.