Iniciativa de jovens quer tornar a educação acessível a todos os brasileiros

Cerca de 25% do empreendedorismo brasileiro está nas mãos de jovens entre 18 e 24 anos. Um destes empreendedores, Thiago Feijão, tem 22 anos e ainda não se formou no curso em que estuda – engenharia mecânica, no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Apesar da pouca idade, ele é um dos gerenciadores do projeto QMágico, que não é nada amador e possui uma missão nobre: oferecer videoaulas e acompanhamento escolar a estudantes de todo o Brasil.

O QMágico nasceu das experiências que Feijão já teve dentro do ITA. Desde o início da faculdade, ele se envolveu com o Casd, um curso de pré-vestibular voltado a jovens de baixa renda e mantido pelos estudantes. Com menos de dois anos de projeto, ele já tinha se tornado presidente da ONG e criado outros dois programas de ensino, o Semear e CASDinho.

Enquanto o primeiro recolhe doações destinadas a custear o estudo de universitários, o segundo prepara estudantes do ensino fundamental para olimpíadas de matemática e ciências.

“Eu tive o estalo quando percebi que uma das ONGs teve mais de três mil inscritos, mas só poderia acompanhar o ensino de 120 alunos, devido ao espaço físico, o número de voluntários e as parcerias. Eu fiquei me questionando muito sobre como criar uma organização com a mesma qualidade para ser replicada no Brasil inteiro”, contou Feijão.

Dos trabalhos realizados nas duas ONGs, ele aprendeu que era preciso atingir pontos estratégicos para conseguir atrair o aluno para as aulas. “Primeiro a gente faz o aluno acreditar que consegue, depois trazemos os pais para participar do aprendizado, então criamos uma cultura familiar nas escolas e treinamos os professores para serem amigos dos estudantes.” O nosso desafio no “QMágico foi replicar esse modelo em um espaço virtual, para o Brasil inteiro e com baixíssimo custo”, completou o jovem empreendedor.

Educação e tecnologia

Pela experiência nas aulas, Feijão explicou que, em sala, há três tipos de alunos: aqueles que têm dificuldade de entender o que o professor diz, aqueles que acompanham o raciocínio do mestre, e os que pegam a informação mais rápido do que ela é passada pelo profissional. Dessa forma, só um tipo de aluno fica motivado na sala de aula normal.

O desafio de Feijão foi modificar esse cenário. “Com a internet e a tecnologia é possível democratizar mais a educação e torná-la mais acessível. No caso do QMágico, o mais impactante é que conseguimos deixar o sistema de educação mais personalizado e customizar a plataforma de acordo com o ritmo que o aluno aprende”, observou.

“Com a tecnologia é possível identificar onde o aluno está com dificuldade e ir até ele para treinar mais. É até um modo de humanizar a sala de aula e criar um tempo mais valoroso e de contato entre o professor e o aluno, o que não ocorre quando o professor está em cima de uma plataforma física e distante do aprendizado de cada estudante.”

Como funciona o QMágico

O sistema foi inspirado no método Khan de ensino, e é feito de diversas videoaulas que duram de sete a 15 minutos. Há também videoexercícios, em que o aluno pode ver o conhecimento teórico aplicado na prática, além de atividades interativas, em que cada exercício realizado possui pontuações, tornando, assim, o aprendizado mais leve e recompensador, como um game de internet.

Quantas questões foram acertadas, quantas erradas e até o tempo que demorou em cada questão, são itens pontuados de forma que o professor responsável possa acompanhar o crescimento do aluno e perceber quais ainda são as dificuldades.

Já o sistema de videoaulas tem um modelo especial. Como, por lei, apenas professores podem dar aulas, a ONG criou um modelo de produção que busca a qualidade e arrojamento. Professores capacitados produzem as aulas e treinam estudantes universitários (em sua maioria da USP e do ITA) para que eles possam passar o conteúdo em vídeos, de forma interessante para os alunos.

Testes e finalizações

Em setembro de 2011, o grupo investiu em marketing e realizou um teste para identificar a quantidade de pessoas que acessavam o sistema pelo site, para ver se o produto tinha retorno. O resultado superou expectativas, pois no final do mês foram contabilizados cinco mil usuários assistindo 13 mil aulas e resolvendo dois mil exercícios, em seis Estados do Brasil.

Como o projeto ainda não estava completamente pronto, o sistema foi retirado do ar para realizar mais testes. Mas nesse primeiro semestre, Feijão espera que seis mil alunos tenham acesso direto à plataforma, por meio de pacotes que já estão sendo fechados com escolas públicas e particulares.

Alunos individuais também poderão usar o QMágico. A ideia é cobrar uma assinatura simbólica (R$ 8,00) dos alunos que querem estudar por conta própria.

* Publicado originalmente no site EcoD.