Nova York reinventa escolas públicas pela inovação

Alunos desmotivados, escolas sem as mínimas condições de segurança, professores mal pagos. Essa realidade, que traduz o cotidiano de boa parte das escolas públicas brasileiras, não é privilégio nosso: também era o que se via em Nova York há menos de dez anos. Mas uma série de reformas educacionais vem mudando a cara da rede pública da cidade. A mais recente delas, o iZone, estimula a adoção de modelos inovadores desenhados a partir das necessidades de cada escola. Deu tão certo que a iniciativa vive um momento de franca expansão – passou das 80 instituições participantes em 2011 para 160 em 2012 e a previsão é que chegue a 400 até 2014.

A ideia de lançar o iZone, explica Stacey Gillet, responsável pelo setor de inovação do Departamento de Educação de Nova York, nasceu da percepção de que as escolas públicas nova-iorquinas não estavam preparando bem os alunos para a vida. Era preciso fazer com que elas adotassem um modelo personalizado, mais centrado nas necessidades dos alunos, que desenvolvesse nos jovens a capacidade de análise e de resolução de problema. “Nossas escolas ainda se pareciam com as do século 19. Os alunos estavam terminando o ensino médio sem estarem preparados para a vida”, disse ela. Assim, cada escola que passou a compor essa “comunidade de inovação” recebeu ajuda financeira, suporte técnico, pedagógico e tecnológico para desenhar o sistema de personalização do ensino que mais bem se adaptava às suas necessidades.

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Para tanto, uma das estratégias mais importantes nas escolas iZone foi trazer a tecnologia para dentro das salas de aula com o uso de plataformas virtuais de aprendizado, numa iniciativa chamada iLearnNYC. Com elas, os professores puderam começar a usar o aprendizado híbrido (ou blended learning), que reformula a maneira da entrega do conhecimento, uma vez que mescla aulas e exercícios on-line e presenciais em várias possibilidades de arranjos entre estudantes dentro e fora de sala. Para ver como o recurso é útil não é preciso ir longe. Depois do furacão Sandy, que devastou a cidade em outubro, os alunos puderam continuar os estudos virtualmente enquanto as escolas se recuperavam para abrir as portas.

Outra das estratégias, a iZone 360, se apoia no conceito do empoderamento dos diretores e professores. As escolas recebem ajuda para repensar orçamento, quadro de funcionários, horários e até seu espaço físico. “Quem melhor para fazer isso do que a própria escola?”, perguntou Stacey. Toda essa autonomia e a maturidade para lidar com ela, no entanto, não nasceu do dia para a noite, veio de reformas anteriores da administração de Michael Bloomberg, atual prefeito que exerce seu terceiro mandato, explicou ela.

Originalmente, Bloomberg era um homem de negócios bem sucedido e trouxe para a escola pública a lógica de empresas competitivas, transformando o diretor no CEO de sua instituição. Aumentou o salário dos professores, deu a cada diretor o direito de contratar e demitir os docentes de sua equipe e passou a acompanhar de perto as escolas que mantinham resultados ruins. Em seu choque de gestão, desmembrou grandes escolas em instituições menores e, nos piores casos, fechou escolas. “Havia escolas que não tinha as mínimas condições de segurança para funcionar”, lembra Stacey.

O terceiro ponto no qual o iZone se baseia é na avaliação. As escolas que mostrarem melhores resultados poderão ter seu modelo replicado em novas participantes da zona de inovação. “Primeiro, nós implementamos. Depois, recolhemos dados e, por último, fazemos uma avaliação rigorosa”, diz a especialista. Stacey conta que, depois de passar pelo processo e podendo inovar sem a ajuda do governo, as escolas deixam de fazer parte do programa e dão lugar a outras da rede, que tem 1.700 instituições – as chartes não estão nessa conta e, por enquanto, não estão participando do programa. O tempo que isso demora, no entanto, depende de cada escola.

* Publicado originalmente no site Porvir.