Conflito Irã-Israel: como desatar o nó górdio

Daisaku Ikeda

Tóquio, Japão, abril/2012 – Nos meses recentes a disputa sobre a natureza e a finalidade do programa de desenvolvimento nuclear iraniano gerou crescentes tensões no Oriente Médio. Quando considero o que aqui está em jogo, recordo as palavras do historiador britânico Arnold Toynbee, que alertou que os perigos da era nuclear constituem um “nó górdio que deve ser desatado por dedos pacientes em lugar de ser cortado por uma espada”.

Diante da possibilidade de essas tensões levarem a um conflito armado, exortamos os líderes políticos de todos os Estados envolvidos a reconhecerem que esta é a hora de ter a coragem da moderação e de buscar posições comuns que permitam sair do atual ponto morto.

O uso da força militar nunca produz uma solução duradoura. Embora possa parecer possível suprimir uma ameaça em particular, o que resta depois é um legado de ira e ódio mais mortífero ainda.

É uma triste constante da política internacional que, na medida em que crescem as tensões, também aumenta o nível das ameaças trocadas.

Recordo que quando o presidente norte-americano John F. Kennedy e o líder soviético Nikita Krushchev se encontraram em 1961 em Viena, no momento mais crítico da crise de Berlim, Krushchev advertiu: “A força enfrentará a força e, se os Estados Unidos querem a guerra, este é um problema seu. Contudo, as calamidades da guerra compartilharemos igualmente”.

Não podemos desconhecer que, se estourar a guerra, um incalculável número de simples cidadãos sofrerá as horríveis consequências. Isto é algo que as gerações que viveram durante as guerras do Século 20 conhecem bem.

No meu caso, perdi um irmão mais velho em combate e nossa casa foi queimada duas vezes pelos bombardeios. Ainda tenho a viva lembrança de quando, durante um ataque aéreo, tive que correr, arrastando meu irmão mais novo, para fugir das bombas.

Todo emprego de armas de destruição em massa espalha a morte e o caos a um grau inimaginável. As armas nucleares, em particular, devem ser reconhecidas e condenadas como armas de uma absoluta desumanidade.

Tanto na crise de Berlim como na crise dos mísseis em Cuba em 1962, os líderes das duas superpotências finalmente deram um passo atrás, se afastando da beira do abismo. Em meio a insuportáveis tensões, visualizaram a devastação que haveria se fracassassem em encontrar uma saída.

Na atual situação, sabemos que um ataque militar contra as instalações nucleares do Irã seria enormemente desestabilizador. A represália seria inevitável e é impossível prever as repercussões que ocorreriam em uma região que está experimentando uma ampla transformação política.

Embora a dinâmica da política internacional pareça bloqueada em um cenário de ameaças e desconfiança, não devemos ignorar as vozes dos incontáveis indivíduos que moram na região e desejam vê-la livre de armas nucleares.

Em uma pesquisa cujos resultados foram divulgados em dezembro pelo Brookings Institute, se comprovou que, na proporção de dois para um, os israelenses apoiam um acordo que faça do Oriente Médio, incluindo Irã e Israel, uma zona livre de armas nucleares.

A conferência internacional programada para este ano a fim de estabelecer uma zona livre de armas de destruição em massa no Oriente Médio é uma tentativa de responder às aspirações dos povos da região, e devem ser feitos todos os esforços para garantir seu êxito, que representaria um passo para a satisfação dos interesses de segurança comum, tanto do Irã quanto de Israel. Os esforços da Finlândia para ser a anfitriã desta conferência são louváveis e espero que o Japão, como país que experimentou o uso das armas nucleares em guerra, tenha um papel positivo na criação das condições para o diálogo.

O presidente Kennedy, que enfrentou duas crises potencialmente apocalípticas, afirmou: “Nossas esperanças devem ser temperadas com a cautela que nos ensina a história”.

Até agora, as aspirações de viver em um mundo sem armas nucleares foram forjadas mediante os tenazes esforços dos que enfrentaram e superaram os desafios das crises. O processo que produziu o Tratado de Tlatelolco, que estabeleceu a primeira zona livre de armas nucleares em uma região povoada, por exemplo, foi impulsionado pela nova urgência criada pela crise dos mísseis em Cuba.

Apesar das cínicas rejeições por parte dos que então afirmavam que tais esforços eram uma perda de tempo e que nunca se chegaria a um acordo, as negociações persistiram. Atualmente, todos os 33 Estados da América Latina e do Caribe, bem como os cinco Estados declarados com armas nucleares, são signatários do Tratado de Tlatelolco.

Para resolver a crise que paira sobre o Oriente Médio a sociedade internacional deve renovar sua determinação de não abandonar jamais o diálogo e de ter a convicção mais profunda de que o que agora parece impossível pode e deve tornar-se possível. Não importa o quanto desanimadoras pareçam as realidades, ou o quanto pode parecer traiçoeiro o caminho pela frente. Devemos recordar que a esperança é incentivada apenas por meio de incessantes e tenazes esforços para se obter a paz. Envolverde/IPS

* Daisaku Ikeda, filósofo japonês, preside o movimento budista Soka Gakkai Internacional (www.sgi.org).