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A ONU busca ajuda para seu trabalho humanitário na Síria

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A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que quase dois terços de todos os sírios vivem na extrema pobreza. Foto: Comissão Europeia DG ECHO/CC-BY-ND-2.0

 

Nações Unidas, 31/3/2015 – A Organização das Nações Unidas (ONU), com problemas financeiros, se esforça para levar alimentos, medicamentos e dar abrigo a milhões de refugiados sírios, mas são urgentes mais recursos para continuar o trabalho e atender as vítimas. O fórum mundial aguarda resposta da comunidade internacional na Conferência de Doadores para a Síria, que acontece hoje no Kuwait. Mas o que ocorre até agora é nefasto e dá pouco espaço para o entusiasmo.

O pedido de US$ 2,9 bilhões para o Plano de Resposta para a Síria arrecadou apenas 9% dessa quantia, e dos US$ 4,5 bilhões para o Plano Regional para Refugiados e Resiliência na Síria somente 6%, segundo comunicado divulgado no dia 26 pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Seu secretário-geral, Ban Ki-moon, afirmou que o povo sírio se sente cada vez mais abandonado pelo mundo, no quinto ano de guerra civil que destroçou o país e fez mais de 200 mil mortes entre civis.

A conferência “é uma oportunidade para reunir alguns dos fundos necessários para continuar salvando vidas. Exorto os governos a serem generosos”, ressaltou Ban. Segundo a ONU, a devastadora guerra civil de cinco anos na Síria também gerou a “maior crise de refugiados dos tempos modernos”.

Mais da metade da população que havia antes da guerra, cerca de 12,2 milhões de pessoas, e mais de 3,9 milhões de refugiados sírios no Líbano, Egito, Turquia e Jordânia “têm necessidade urgente de assistência humanitária”. Pelo terceiro ano consecutivo, a organização da conferência de doadores está nas mãos do governo do Kuwait, que assumiu um papel significativo no alívio da crise humanitária na Síria. Ban Ki-moon vai presidir o encontro, organizado pelo emir do Kuwait, xeque Sabah Al-Ahmad Al-Jaber Al-Sabah.

As duas últimas conferências, realizadas em janeiro de 2013 e janeiro do ano seguinte, reuniram US$ 1,5 bilhão e US$ 2,4 bilhões, respectivamente. As maiores contribuições foram do anfitrião, que comprometeu US$ 300 milhões em 2013 e US$ 500 milhões no ano passado, que incluem os US$ 200 milhões entregues por organizações não governamentais do Kuwait, totalizando US$ 800 milhões nas duas conferências.

Consultado sobre o grau de cumprimento dos compromissos, um porta-voz da Missão do Kuwait junto à ONU disse à IPS que seu país entregou 100% a agências, fundos e programas da ONU, bem como a organizações internacionais como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR). Sobre a conferência de hoje, informou que se espera a participação de 78 países e 40 organizações internacionais.

O porta-voz-adjunto da ONU, Farhan Haq, afirmou que grande parte da mensagem de Ban esta semana será: “Enquanto não se resolver a crise da Síria, haverá milhões de sírios se trasladando para outros países da região e isso terá um tremendo efeito na vida e nos serviços e em como vivem as pessoas em todas essas nações. Precisamos resolver o problema na Síria, mas também precisamos apoiar esses países em momentos difíceis”.

A secretária-geral-adjunta para Assuntos Humanitários, Valerie Amos, informou ao Conselho de Segurança que a população civil ainda sofre a pior parte do conflito na Síria, que descreveu como “caracterizado por um espantoso grau de selvageria”. Também disse que Ban Ki-moon redigiu informe após informe denunciando que as partes em conflito não cumprem um mínimo das obrigações legais que devem respeitar.

Segundo Amos, os bombardeios aéreos indiscriminados, como as bombas de barril, os carro-bomba, ataques com morteiros, foguetes não dirigidos e o uso de outros dispositivos explosivos em áreas povoadas, são a marca registrada desse conflito. “Já informei sobre o agravamento da situação socioeconômica no país, que atentou contra os êxitos conseguidos por uma geração em matéria de desenvolvimento”, acrescentou.

“Estima-se que a expectativa de vida na Síria seja 20 anos inferior ao início do conflito. O desemprego afeta 58% (da população economicamente ativa), mais de 10% acima do índice de 2010, e calcula-se que quase dois terços dos cidadãos vivem em extrema pobreza” informou Amos ao Conselho de Segurança. A secretária-geral-adjunta alertou que a incapacidade do Conselho de Segurança e dos países com influência nos lados em conflito na Síria para que cheguem a um acordo faz com que as consequências humanitárias continuem sendo nefastas para milhões de sírios e sírias.

As meninas e os meninos são os que mais sofrem e há 5,6 milhões que necessitam da assistência internacional; mais de dois milhões abandonaram a escola. Um quarto dos centros de ensino está danificado, destruídos ou servem de refúgio. Serão necessários milhares de milhões de dólares para reparar as escolas danificadas e restaurar o sistema educacional, em geral, ressaltou Amos. Envolverde/IPS