Internacional

Crise na Síria torna necessária uma aliança mundial humanitária

Milhares de milhões de dólares em ajuda humanitária são usados para fornecer alimentos, cuidados médicos e outros apoios para salvar a vida de milhões de famílias sírias. Foto: Beshr Abdulhadi / CC-BY-2.0
Milhares de milhões de dólares em ajuda humanitária são usados para fornecer alimentos, cuidados médicos e outros apoios para salvar a vida de milhões de famílias sírias. Foto: Beshr Abdulhadi / CC-BY-2.0

 

Cidade do Kuwait, Kuwait, 8/4/2015 – As crises de refugiados da Síria e do Iraque ameaçam chegar à Líbia e ao Iêmen, enquanto a Organização das Nações Unidas (ONU) se prepara para a primeira Cúpula Mundial Humanitária, que acontecerá na cidade turca de Istambul, em maio de 2016. “Façamos com que a resposta à crise da Síria seja uma plataforma de lançamento para uma nova aliança da resposta humanitária verdadeiramente mundial”, pediu o português Antonio Guterres, alto comissário da ONU para os refugiados.

Essa aliança poderia se concretizar em Istambul em 2016, embora as crises de refugiados possam se agravar nos próximos 12 meses. Somente o deslocamento de aproximadamente 12,2 milhões de refugiados da Síria exerce um impacto devastador nas economias e sociedades do Egito, Iraque, Jordânia, Líbano e Turquia.

Para situar esse número no contexto do mundo ocidental, Guterres apontou, na terceira conferência internacional de doadores para a ajuda humanitária da Síria, realizada no Kuwait no dia 31 de março, que “o número de refugiados sírios registrados no Líbano seria equivalente a 22,5 milhões de refugiados que chegam à Alemanha e a 88 milhões que chegam aos Estados Unidos”.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse enfaticamente que o povo sírio “é vítima da pior crise humanitária de nosso tempo”, já que se calcula que esse país sofreu 220 mil mortes em razão da guerra civil que começou em março de 2011.

A embaixadora norte-americana junto à ONU, Samantha Power, afirmou que a meta de US$ 8,4 bilhões solicitados para a ajuda humanitária à Síria é “a maior da história” e US$ 3,4 bilhões maior do que o pedido do ano passado. “No entanto, muitos países estão dando a mesma quantia, ou até menos do que deram no ano passado. E, na medida em que mais gente precisa de ajuda, estamos chegando a uma porcentagem menor de pessoas”, lamentou.

Os três maiores doadores na conferência deste ano foram União Europeia e seus Estados membros, que aportaram quase US$ 1 bilhão, Estados Unidos, que contribuíram com US$ 507 milhões, e Kuwait, com US$ 500 milhões. Várias organizações internacionais não governamentais, como a Fundação de Ajuda Humanitária, da Turquia, a Meia-Lua Vermelha, do Catar, e a Organização Internacional de Caridade Islâmica, do Kuwait, se comprometeram em conjunto a doar US$ 500 milhões.

Entretanto, 48 horas depois de a conferência de doadores se comprometer a doar US$ 3,8 bilhões em ajuda humanitária para a Síria, a ONU informou que continuará solicitando fundos adicionais para atingir sua meta de US$ 8,4 bilhões até o final deste ano. Amanda Pitt, porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), disse à IPS que a crise da Síria exige US$ 8,4 bilhões em 2015 para o conjunto da situação, tanto dentro do país como para os esforços humanitários realizados na região.

“A conferência do Kuwait foi um dos eventos de arrecadação de fundos do ano, no qual vários doadores prometeram generosamente US$ 3,8 bilhões”, recordou Pitt. Porém, a arrecadação de fundos continuará durante todo este ano, como acontece anualmente nos casos de pedidos humanitários, explicou.

Em resposta aos que afirmam que na conferência não foi prometida a quantidade de doações previstas, a ONU respondeu que não esperava que a meta de US$ 8,4 bilhões fosse alcançada exclusivamente no Kuwait no dia 31. “Uma das coisas que dissemos de antemão foi que não tínhamos nenhum objetivo particular para essa reunião”, afirmou aos meios de comunicação o porta-voz adjunto das Nações Unidas, Farhan Haq.

Segundo Haq, “essa reunião foi um passo do processo e, de fato, é extremamente impressionante termos obtido US$ 3,8 bilhões. Se compararmos as cifras de compromissos deste ano com as do ano passado, na realidade estamos indo muito bem”. E acrescentou que, “ao mesmo tempo, naturalmente, as necessidades cresceram e, conforme avança o ano, vamos continuar procurando nos aproximarmos mais e mais da quantia de US$ 8,4 bilhões”.

O porta-voz ressaltou que duas coisas têm de ocorrer. Primeiro, “temos que ir além das promessas que recebemos hoje, para chegarmos aos US$ 8,4 bilhões, nossa estimativa para as necessidades tanto dentro da Síria como nos países vizinhos”. Em segundo lugar, “precisamos nos assegurar de que essas promessas se convertam em dinheiro real e assistência real no terreno, e começaremos a fazer isso imediatamente”, destacou.

O cumprimento das promessas feitas nas duas últimas conferências, em 2013 e 2014, ambas realizadas no Kuwait, é considerado relativamente bom. Em janeiro de 2014, a segunda conferência de doadores arrecadou US$ 2,4 bilhões. Cerca de 90% desses fundos foram entregues para dar apoio e salvar a vida de milhões de famílias na Síria e na região, segundo o Ocha.

“No ano passado, aproximadamente 8,9 milhões de pessoas receberam artigos de primeira necessidade, mais de cinco milhões receberam ajuda alimentar mensal, dois milhões de crianças tiveram ajuda para ir à escola e milhões receberam tratamento médico e tiveram acesso a água potável graças a essas contribuições”, informou o Ocha.

“A gente experimentou níveis enormes de violência e selvageria na Síria”, ressaltou a subsecretária-geral para assuntos humanitários e coordenadora de ajuda de emergência das Nações Unidas, Valerie Amos. “Embora não possamos levar a paz, esse financiamento ajudará as organizações humanitárias a proporcionarem alimentos, água, abrigo, serviços de saúde e outro tipo de ajuda a milhões de pessoas com necessidades urgentes”, enfatizou. Envolverde/IPS