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Educação em direitos humanos mostra sua força

Uma menina dalit explica que os professores deixaram de bater nos alunos com bastões quando começou a educação em direitos humanos.

Genebra, Suíça, 21/9/2012 – A estrela nascente dos direitos humanos, a educação, mostrou sua força na última quarta-feira em um documentário patrocinado por especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) e da sociedade civil. O filme A Path to Dignity – The Power of Human Rights Education (Um Caminho para a Dignidade – o Poder da Educação em Direitos Humanos), mostra como o ensino e a formação nessa área favorecem transformações drásticas em vítimas e potenciais responsáveis por violações.

Meninos e meninas dalits, “intocáveis” do sistema hindu de castas da Índia, uma mulher da Turquia violentada desde a adolescência por preconceitos de gênero dominantes em sua comunidade, e policiais do Estado de Victoria, no sul da Austrália, mudam radicalmente suas vidas graças à divulgação dos direitos humanos.

A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navanethem Pillay, explica no começo do filme as razões desse auge da educação. “A realização dos direitos humanos exige que todos os seres humanos estejam conscientes de seus direitos e dos de outras pessoas e dos meios para assegurar sua proteção”, disse Pillay em sua breve aparição.

“A mensagem do filme expressa que tudo começa a partir de uma pessoa singular”, disse à IPS o diretor do programa sobre questões de paz da organização budista japonesa Soka Gakkai International (SGI), Kimiaki Kawai. “Se essa pessoa singular, a vítima da violação, adota uma posição firme, então algo poderá ocorrer com impacto na sociedade”, acrescentou.

“A educação concede autoridade à pessoa, pois lhe proporciona conhecimento, entendimento e lhe permite compartilhar sabedoria. Dessa forma, a pessoa se fortalece e pode contribuir com a sociedade”, disse Kawai. O filme foi produzido por SGI, Human Rights Eucation Associates e escritório da alta comissária.

Os meninos e meninas dalits receberam formação de organizações não governamentais da Índia, que lhes permitiu superar alguns dos efeitos mais degradantes da discriminação que sofrem devido ao sistema de castas que impera em vastas regiões da Índia.

A jovem o leste da Turquia, repudiada por sua própria família, encontrou compreensão e apoio de uma organização de compatriotas e congêneres que lhe permitiu se libertar de um casamento violento, imposto pela tradição comunitária, e até conseguiu mudar seu nome.

Os policiais australianos de Victoria receberam educação em direitos humanos de seus superiores e de organizações especializadas, o que lhes permitiu enfrentar eventuais delitos ou infrações com métodos mais apegados ao direito.

O filme amplia nossa esperança em continuar aprofundando o ensino dos direitos humanos, disse à IPS o representante da Costa Rica no Conselho de Direitos Humanos da ONU, embaixador Christian Guillermet-Fernández. Na estreia do documentário, no Palácio das Nações, em Genebra, o diplomata recordou que seu país aboliu o exército na década de 1940 e decidiu investir em educação e saúde os recursos que antes destinava ao gasto militar.

Hedwig Jöhl, representante da Congregação das Irmãs do Bom Pastor, afirmou que um país sem exército é um bom exemplo para a educação em direitos humanos.

Guillermet-Fernández disse que o documentário de 28 minutos, dirigido pela cineasta Ellen Bruno, pode ter um grande efeito no campo dos direitos humanos. De todo modo, o ensino de direitos humanos ainda deve superar muitos desafios, disse o diplomata costarriquenho. São necessárias inovação e criatividade como este filme, ressaltou.

Além disso, os governos e a sociedade civil deverão se esforçar para mantê-lo na ordem do dia das organizações internacionais, tanto do Conselho de Direitos Humanos como da Assembleia Geral, dois dos máximos organismos da ONU, destacou o embaixador. Um dos maiores desafios é educar as autoridades nacionais e os políticos, acrescentou Guillermet-Fernández.

Para Kawai, a “educação não é um processo de transferência de conhecimento para pessoas”. A interação deve ser a parte central da educação; implica inspirar alguém a pensar por si só e crescer. “Dessa forma também influirá em mim”, disse o especialista da SGI.  Com referência ao caso da jovem turca, que expressava uma discrepância entre as tradições e os valores dos direitos humanos, Kawai disse à IPS que essa diferença pode ser superada com equilíbrio. “Mas, chega-se ao equilíbrio através de conversações, não do silêncio. Assim poderemos resolver discrepâncias, primeiro o diálogo, não a violência”, acrescentou. Envolverde/IPS