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Egípcios perdem o otimismo sobre seu futuro

Para um número cada vez maior de egípcios, Morsi e Mubarak são praticamente o mesmo. Foto: Cam McGrath

Cairo, Egito, 25/6/2013 – A maioria dos egípcios está profundamente decepcionada com o desempenho do presidente Mohammad Morsi e tem pouca confiança nas figuras políticas da oposição, segundo o resultado de uma pesquisa. A consultoria Zogby Research Services, com sede em Washington, entrevistou mais de cinco mil adultos egípcios, entre abril e maio, para avaliar o grau de confiança pública nas instituições estatais, a opinião sobre o atual governo e a esperança no futuro. Os pesquisadores procuraram uma representação de todos os setores da sociedade egípcia.

“O que nossas conclusões revelam é que se trata de uma sociedade profundamente dividida, não em linhas demográficas, mas com base na ideologia e na religião”, afirmaram os pesquisadores. Também disseram que os dois principais partidos islâmicos, o governante Partido da Liberdade e da Justiça, da Irmandade Muçulmana, e o ultraconservador Partido Nour, receberam o apoio de aproximadamente 30% dos entrevistados.

Os principais partidos da oposição, incluindo a Frente de Salvação Nacional e o Movimento Juvenil 6 de Abril, receberam o apoio de cerca de 35% dos entrevistados. Quase 40% disseram não ter confiança nem no governo nem na oposição. A nova pesquisa também mostra um forte contraste entre o otimismo dos islâmicos e a decepção do resto da sociedade sobre a Primavera Árabe e seu resultado.

Mais de 90% dos que se identificaram com os partidos islâmicos disseram que estão melhor hoje do que há cinco anos, enquanto 80% dos que se inclinam pela oposição afirmaram que estão pior. Por outro lado, 81% dos cristãos, que são cerca de 10% da população egípcia, disseram que se sentem pior do que antes. Nove em cada dez afirmaram estar convencidos de que a Irmandade Muçulmana procura “islamizar” o Estado.

A nova pesquisa revela uma acentuada queda do otimismo em relação a 2011, quando os egípcios derrubaram o regime de Hosni Mubarak (1981-2011) e expressavam uma confiança sem precedentes em seu futuro. Apenas 46% dos entrevistados, sobretudo simpatizantes de partidos islâmicos, disseram acreditar que sua situação melhorará nos próximos cinco anos. Para os pesquisadores, “isto mostra uma acentuada queda do otimismo”, que atingiu seu ápice de 85% em junho de 2011.

O Egito enfrenta uma “crise de liderança”, apenas dois anos e meio depois da queda de Mubarak e um ano após Morsi assumir o cargo, apontaram os pesquisadores. Há um ano, 57% dos egípcios entrevistados disseram que a vitória de Morsi era “um acontecimento positivo” e que “o resultado de eleições democráticas devia ser respeitado”. Hoje, esse apoiou caiu para 28% e praticamente toda essa porcentagem provém dos próprios simpatizantes do partido do governo.

A pesquisa mostra que a credibilidade de Morsi entre os egípcios é de apenas 4% mais do que a de Mubarak, e que a esmagadora maioria da população está desiludida com seu desempenho. Só um quarto dos entrevistados, na maioria simpatizantes de partidos islâmicos, disseram estar “satisfeitos” com as políticas do governo em economia, segurança, bem-estar social e direitos humanos. O nível de descontentamento é preocupante. Diferentes grupos de oposição estão convocando protestos para o dia 30, quando Morsi completará um ano no cargo.

Observadores temem que as manifestações agravem a tensão no já profundamente polarizado cenário político do país, causando mais instabilidade e violência. Quanto à pergunta sobre possíveis alternativas ao governo de Morsi, a maioria dos consultados mostrou pouca confiança também nos principais líderes da oposição, incluindo ex-candidatos presidenciais.

A única figura pública considerada crível por mais de um terço dos entrevistados foi Bassem Yousef, humorista político da televisão, que foi acusado de insultar o presidente. É significativo que 94% dos entrevistados tenham expressado confiança nos militares. Cerca de 60% dos que se identificaram como simpatizantes da oposição ou independentes disseram ser a favor da volta de um governo militar, algo a que só os islâmicos se colocaram contra. Envolverde/IPS