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Impacto de alimentos transgênicos ainda desconhecido

Rene Sharp, do Environmental Working Group. Foto: Julia Kallas/IPS

Nova York, Estados Unidos, 14/10/2012 – Os alimentos geneticamente modificados surgiram pela primeira vez nos comércios dos Estados Unidos em 1994. Desde então, seu consumo se tornou habitual. Entretanto, como o fenômeno é tão recente, os efeitos de longo prazo de sua ingestão ainda são incertos. Uma ampla gama de temas em torno dos transgênicos preocupa os Estados Unidos, incluindo seu consumo excessivo, as frouxas leis sobre rotulagem e a falta de estudos de longo prazo sobre seus efeitos na saúde e a respeito de qual deve ser a intervenção do governo.

Sobre estes aspectos a IPS conversou com a cientista Rene Sharp, diretora para o Estado norte-americano da Califórnia da independente organização Environmental Working Group e autora do estudo Os Norte-Americanos Comem seu Peso em Comida Geneticamente Manipulada. Na pesquisa, essa organização analisou informação do Departamento de Agricultura e concluiu que cada norte-americano come cerca de 87 quilos de alimentos geneticamente modificados por ano. A título de comparação, um adulto típico nos Estados Unidos pesa 81 quilos.

IPS: Agora que o informe foi divulgado, o que espera que o governo faça?

RENE SHARP: Os norte-americanos comem seu peso a cada ano em produtos geneticamente modificados. Os cálculos da Environmental Working Group mostram que, em média, as pessoas ingerem anualmente cerca de 87 quilos de comida transgênica. E o adulto típico pesa 81 quilos. Estes números nos levam a fazer a seguinte pergunta: se alguém pretende comer seu peso em determinados alimentos, não gostaria de saber se o que consome é seguro? Surpreendentemente, quase não há estudos de longo prazo sobre o consumo de alimentos geneticamente modificados. Queremos ver se o governo fará esses estudos, permitindo a cientistas independentes fazerem o mesmo, poder que não têm agora porque as empresas que produzem as sementes transgênicas decidem quais são os estudos que podem ser feitos. Então, o que podem fazer os consumidores? Não muito, a menos que exijam a rotulagem dos transgênicos. Pelo menos assim os consumidores saberão se seu alimento contém, ou não, ingredientes manipulados e poderão decidir por eles mesmos se é o que querem para suas famílias. O direito básico de saber será mais importante no futuro, já que se espera que o consumo de alimentos transgênicos cresça substancialmente. Estamos exortando os californianos a votarem sim à Proposta 37: a Iniciativa para a Rotulagem Obrigatória dos Alimentos Geneticamente Modificados. Dessa forma poderão decidir se querem comprá-los.

IPS: Por que os Estados Unidos estão tão atrasados em relação ao resto do mundo sobre a questão dos rótulos. E quais ações devem fazer governo e líderes políticos para mudar isso?

RS: Monsanto, Dow e outras empresas que fabricam e vendem sementes transgênicas têm um incrível poder de influência sobre o governo dos Estados Unidos. Governo e políticos devem ouvir os milhões de cidadãos que pedem a rotulagem dos alimentos transgênicos e dar ao povo o direito de saber o que comem.

IPS: Por que a indústria dos alimentos transgênicos emergiu tão rapidamente na última década?

RS: Os fabricantes de sementes modificadas geneticamente fizeram muitas promessas falsas: alimentar o mundo, reduzir o uso de pesticidas e salvar o dinheiro dos agricultores, mas nada disto foi realizado. A quantidade de alimentos não aumentou, o uso de pesticidas subiu e os pequenos produtores estão arruinados, enquanto crescem enormes “supermatos” que tornam impossíveis práticas agrícolas tradicionais. Com não há obrigatoriedade de fazer estudos, as sementes entraram relativamente rápido no mercado.

IPS: Poderia falar brevemente da Proposta 37 na Califórnia, que será votada em novembro. O que significará para o resto do país se for aprovada?

RS: Significará que as pessoas na Califórnia terão o direito de saber o que há em seus alimentos e poderão escolher se querem dar às suas famílias comida que tem ingredientes geneticamente modificados. Se a Proposta 37 for aprovada, ajudará o resto do país, porque a Califórnia representa cerca de 12% do mercado de alimentos dos Estados Unidos e é pouco provável que as empresas criem um rótulo para a Califórnia e outro diferente para o restante do país. Envolverde/IPS