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Internet para escapar do Talibã nas eleições paquistanesas

Peshawar, Paquistão, 13/5/2013 – Se não pode vencê-los, pelos menos inove: essa parece ser a lição aprendida pelo Partido Nacional Awami (PNA), do Paquistão. O PNA buscou ajuda na tecnologia, cansado de estar no extremo receptor de uma interminável onda de ataques suicidas e com explosivos por parte de rebeldes talibãs. Agora utiliza a internet para chegar aos seus eleitores em vários distritos de Jyber Pajtunjwa, sua principal base de apoio.

O líder do PNA, Mian Iftikhar Hussain, disse à IPS que era uma grande benção chegar à população pelo programa de videochamadas Skype com vistas à eleição do dia 11. “Graças a isto podemos chegar ao eleitorado sem colocar em perigo nossas vidas”, afirmou. A tecnologia ajuda os membros do partido a protegerem sua integridade física e também a das pessoas que os ouvem. Hussain, ex-ministro de Informação de Jyber Pajtunjwa, perdeu seu único filho, Mian Rashid Hussain, em um ataque terrorista cometido por Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP), em outubro de 2010.

O PNA, que governa esta província desde 2008, mantém uma firme oposição à ação do ilegal TTP. Por essa posição pagou um preço alto. Cerca de 800 de seus líderes e trabalhadores foram vítimas de ataques do TTP nos últimos cinco anos. E a violência só piorou na campanha eleitoral. O PNA foi seu alvo principal, mas os outros partidos liberais, como o Movimento Muttrahida Qaumi (MQM) e o Partido Popular do Paquistão, também foram vítimas de sua ira. Atentados suicidas e com explosivos contra candidatos e sedes do PNA e do MQM estão na ordem do dia.

“Foi o governo provincial do PNA que assumiu as operações militares de maior êxito contra insurgentes no distrito de Swat de Jyber Pajtunjwa”, disse Mohammad Jamil, professor de estudos sobre o Paquistão na Escola Pública Universitária de Peshawar. “O TTP governou Swat entre 2007 e 2009, quando foi desalojado pelo governo liderado pelo PNA”, afirmou. Swat também é o lugar de onde procede a ativista Malala Yousafzai. Em outubro do ano passado esta jovem de 13 anos sobreviveu a um ataque a tiros cometido pelo Talibã pelo fato de defender a educação para as meninas.

O PNA foi o único partido que fez “uma campanha aberta e valente” contra o Talibã, destacou Jamil à IPS, o que o converteu no alvo de sua violenta agenda. “O TTP teme a possibilidade de enfrentar uma ação mais severa se o PNA voltar ao poder. Portanto, tenta de tudo para manter esse partido longe das eleições, cimentando o caminho para os partidos que têm uma posição mais branda em relação ao Talibã”, acrescentou.

Porém, pode não consegui-lo totalmente, devido à capacidade do PNA de vencer obstáculos. Primeiro, suas mulheres líderes abriram caminho onde figuras mais destacadas não puderam fazer campanha, indo de aldeia em aldeia para pedir a outras mulheres que votassem em seus candidatos e tentando convencer os homens a fazerem o mesmo. Agora incluiu a internet em seu arsenal para afastar os insurgentes e se comunicar com seus partidários. E essa medida foi muito bem recebida pelo público, segundo a dirigente Bushra Gohar, do PNA.

“Nossos trabalhadores apreciam a nova medida porque o PNA não poderia colocar suas vidas no fio da navalha realizando reuniões públicas. Pelo Skype podemos comunicar nossa mensagem à população em um clima de paz”, afirmou Gohar à IPS. “Muitos de nossos candidatos queriam estar fisicamente presentes nas reuniões públicas, mas não podiam fazê-lo devido às ameaças dos rebeldes. O uso da internet resolveu nosso problema”, ressaltou.

Hussain voltou a usar o Skype na localidade de Taro, a 15 quilômetros de Peshawar, para divulgar sua própria mensagem e a de seu partido. Ali Haider, que organizou o discurso pelo Skype, pontuou que foi um grande sucesso. “Planejamos mais dessas reuniões, nas quais líderes e candidatos do PNA podem se dirigir à população pelo Skype. São muito seguras”, enfatizou. Sanaullah Khan, membro do PNA radicado em Mardan, disse à IPS que “onde há vontade, há um caminho”, e que “ouvimos ansiosos os discursos de nossos líderes via Skype”.

O ex-ministro chefe de Jyber Pajtunjwa e líder do PNA, Ameer Haider Jan Hoti, candidatou-se a uma vaga na assembleia nacional pelo seu povoado natal. Após sobreviver a um atentado suicida no dia 15 de fevereiro, em Mardan, ele, como os outros, não podiam fazer campanha eleitoral pessoalmente. A população organiza discursos por Skype para ele também em Mardan. Jan Hoti explicou que também desenvolvem o site do partido e publicam atualizações regulares na rede social Facebook. “A resposta não tem precedentes, porque a maioria de nossos líderes também abriu contas no Twitter para enviar suas mensagens aos trabalhadores”, detalhou.

Mohammad Namir, professor em Mardan, esteve entre os que no dia 3 deste mês ouviram o discurso de Jan Hoti via internet. O líder recordou os muitos projetos que seu governo executou nos cinco anos de sua gestão e pediu à população que voltasse a votar nos candidatos do PNA nestas eleições. “Os trabalhadores do partido dizem que o uso da internet os salvou dos ataques. Para as reuniões públicas é preciso haver acordos. Para uma campanha via internet, só o que se exige é um computador portátil”, apontou à IPS.

O PNA também usa música para motivar as massas, segundo Mohammad Shoaib, jornalista em Swabi. Os candidatos do partido sobreviveram a três tentativas de ataques terroristas nesse distrito, o quarto mais povoado de Jyber Pajtunjwa. As canções eleitorais do partido melhoraram o estado de ânimo da população. O PNA divulgou um álbum com 11 canções em língua pashtun para a campanha.

Interpretadas pelo conhecido canto Gulzar Alam, reforçam os temas da paz, da democracia e do progresso, os mesmos que o partido promete ao eleitorado. “As músicas atraem as pessoas porque falam da proteção do solo pashtun”, explicou Shoaib. Essa população é majoritária na província de Jyber Pajtunjwa. Em cenário eleitoral que os rebeldes banham de sangue, as canções parecem ser mais do que um pequeno consolo. Envolverde/IPS