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IPS entrega prêmio a defensor da abolição nuclear

A partir da esquerda: diretor-executivo para Assuntos da Paz na SGI, Hirotsugu Terasaki, diretor-geral da IPS, Ramesh Jaura, e o premiado Jayantha Dhanapala. Foto: Roger Hamilton Martin/IPS
A partir da esquerda: diretor-executivo para Assuntos da Paz na SGI, Hirotsugu Terasaki, diretor-geral da IPS, Ramesh Jaura, e o premiado Jayantha Dhanapala. Foto: Roger Hamilton Martin/IPS

 

Nações Unidas, 24/11/2014 – Jayantha Dhanapala, ex-secretário-geral adjunto da Organização das Nações Unidas (ONU) para Assuntos de Desarmamento (1998-2003), recebeu o Prêmio ao Êxito Internacional pelo Desarmamento Nuclear, outorgado pela agência de notícias Inter Press Service (IPS), em cerimônia realizada no dia 19 na sede da ONU, em Nova York.

Dhanapala, do Sri Lanka, está comprometido com o objetivo de um mundo sem armas atômicas desde que deixou seu posto, e desde 2007 preside a organização Conferências Pugwash sobre Ciência e Assuntos Mundiais, ganhadora do prêmio Nobel da Paz 1995. “Um mundo livre de armas nucleares pode e deve ocorrer enquanto eu viver”, afirmou Dhanapala aos presentes na cerimônia, copatrocinada pela organização budista Soka Gakkai Internacional (SGI).

“As evidências científicas são prova de que mesmo uma guerra nuclear limitada – se é que isso é possível – causará uma irreversível mudança climática e destruição de vida humana e da ecologia que a mantém em uma escala sem precedentes. Nós, o povo, temos a responsabilidade de proteger o mundo das armas nucleares, tornando-as ilegais por meio de uma verificável Convenção de Armas Nucleares que esteja acima das outras autoproclamadas aplicações” desse tipo, ressaltou Dhanapala.

Assistiram à cerimônia embaixadores da ONU, entre eles o presidente da Assembleia Geral, Sam Kutesa, que afirmou que “o trabalho de organizações como a Conferências Pugwash sobre Ciência e Assuntos Mundiais, que o senhor Dhanapala preside, a agência Inter Press Service, nossa anfitriã esta noite, ou a Soka Gakkai Internacional, patrocinadora deste prêmio, contribui para conscientizar sobre os perigos das armas nucleares e para promover sua eliminação total”.

Kutesa falou da importância das iminentes oportunidades para se fazer mais incursões sobre a não proliferação e o desarmamento no mundo. “A Conferência de Revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), em 2015, apresentará a oportunidade de fortalecer mais o desarmamento nuclear mundial e o regime de não proliferação”, disse.

Outros oradores, como Lassina Zerbo, diretor-executivo da Comissão Preparatória da Organização do Tratado de Proibição Completa dos Testes Nucleares, fizeram eco às palavras de Kutesa. Zerbo disse que Dhanapala nasceu em dezembro de 1938, mesmo mês e ano em que os cientistas alemães Otto Hahn e Fritz Strassmann descobriram a fissão nuclear. “Em 1995, Jayantha presidiu a histórica Conferência de Revisão e Extensão do TNP. Ele planejou a negociação central, um pacote de decisões que equilibraram os interesses aparentemente irreconciliáveis dos Estados nucleares e dos não nucleares”, recordou.

O resultado desse trabalho foi a Comissão Preparatória da Organização do Tratado de Proibição Completa dos Testes Nucleares, adotada pela Assembleia Geral em 1996. Dhanapala continua apoiando-a, como parte de um grupo de especialistas que trabalham para promover a entrada em vigor desse tratado.

Zerbo recordou as críticas de Dhanapala diante da posição da Índia de se opor ao tratado. A Índia é um dos oitos países que ainda não o assinaram, conhecidos coletivamente como os Estados “do Anexo 2”, que devem assiná-lo para que o documento entre em vigor. A Índia critica o fato de o tratado não promover o desarmamento de modo suficiente. “Opor-se ao tratado porque não cumpre com um desarmamento completo equivale a se opor aos limites de velocidade nas estradas porque não previnem completamente os acidentes de trânsito”, destacou Dhanapala.

Zerbo também destacou a relevância da nacionalidade de Dhanapala em sua defesa do desarmamento e da não proliferação afirmando que “Jayantha e eu viemos de países do mundo em desenvolvimento. Um dos argumentos mais convincentes que ele apresenta de maneira constante é o custo de oportunidade em que incorre um país em desenvolvimento que embarca em um programa de armas de destruição em massa. Em particular, um programa de armas nucleares exige vastos recursos que poderiam ser destinados ao desenvolvimento e à infraestrutura”, acrescentou.

O diretor-geral da IPS, Ramesh Jaura, que leu um comunicado de Roberto Savio, fundador da IPS, se referiu às origens e à importância do prêmio. “Esse prêmio foi criado em 1985, com a ideia de gerar uma ligação entre a ação da ONU no âmbito mundial e os atores que encarnariam essa ação”, afirmou. A ONU não se dedica a reconhecer indivíduos, “assim, o prêmio é um reconhecimento à ponte entre ideais e prática”, afirmou. O prêmio voltou a ser entregue após seis anos de interrupção e o será novamente no próximo ano, centrando-se nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), acrescentou.

Nos próximos meses haverá várias oportunidades de avançar em matéria de não proliferação e desarmamento nuclear. Em especial, a III Conferência Internacional sobre o Impacto Humanitário das Armas Nucleares, que acontecerá nos dias 8 e 9 de dezembro em Viena. Por sua vez, Dhanapala exortou as organizações a apoiarem a campanha de desinvestimento Don’t Bank on the Bomb (jogo de palavras entre “não confiem na bomba” e “não a financiem”), organizada pela Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares (Ican) e sua sócia Pax.

“Apelo a todos os presentes para que façam sua própria contribuição prática ao desarmamento nuclear, unindo-se à campanha de desinvestimento. A desgastada retórica do celebrado discurso pronunciado pelo presidente (dos Estados Unidos, Barack) Obama, em abril de 2009 em Praga, sobre um mundo livre de armas nucleares, terá poucos resultados para mostrar, a menos que a sociedade civil atue”, enfatizou. Envolverde/IPS