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Líderes opositores iranianos esperam que a liberdade chegue com Rouhani

O líder reformista Mir Hussein Mousavi está sob prisão domiciliar desde fevereiro de 2011. Foto: Hamed Saber/cc by 2.0
O líder reformista Mir Hussein Mousavi está sob prisão domiciliar desde fevereiro de 2011. Foto: Hamed Saber/cc by 2.0

Washington, Estados Unidos, 5/8/2013 – Hassan Rouhani assumiu ontem como novo presidente do Irã, despertando esperanças de um avanço diplomático na crise nuclear e também na definição do destino de três figuras muito importantes da oposição. Não surpreenderia se Rouhani tentasse negociar o fim das sanções internacionais, que causam enorme dano à economia nacional.

Contudo, há outra importante fonte de instabilidade para o regime iraniano, que se costuma esquecer no Ocidente, que são as profundas divisões causadas pelas eleições presidenciais de 2009 e a posterior prisão de três influentes líderes reformistas: Mehdi Karroubi e o casal Mir Hussein Mousavi e Zahra Rahnavard.

A campanha de Rouhani se centrou não apenas em melhorar a situação econômica do país, mas também em atenuar o clima “securitizado” no país, e conseguir a libertação de Karroubi, Mousavi e Rahnavard, que segundo boatos que circulam em Teerã seria iminente. Do ponto de vista do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, a libertação condicional de Mousavi e Karroubi poderia começar por sanar as feridas internas no Irã.

Porém, a libertação de um grupo rotulado como “sedicioso” pelo governo também poderia ser muito perigosa. Poderia se considerar que Khamenei admite um erro, o que poderia intensificar as batalhas entre facções dentro do sistema. A resolução da crise nuclear não depende só das relações entre Estados Unidos e Irã, mas também de outros fatores que incluem o destino de três prisioneiros iranianos.

Em sua campanha, Rouhani apelou a três eleitorados diferentes: os conservadores governantes, os reformistas e o resto da cidadania. Político hábil e calculista, se acertou para ganhar as eleições sem alterar o equilíbrio político no Irã. Rouhani é partidário de um regime conservador, embora de um estilo diferente ao de seu predecessor, Mahmoud Ahmadinejad. Acredita no sistema de governo religioso do Irã, mas não em “exportar” a religião. Para ele, a República Islâmica deveria se fortalecer no âmbito interno antes de se lançar a aventuras no exterior.

Javad Zarif, provável futuro ministro das Relações Exteriores, é bem ilustrativo neste sentido. Experiente diplomata, em 2002 ajudou os Estados Unidos a estabelecerem um governo pós-Talibã no Afeganistão. Provavelmente, tente reparar as relações do Irã com o resto do mundo, o que, talvez, inclua os Estados Unidos.

A dedicação de Rouhani às reformas promovidas por Mousavi, Karroubi e Rahnavard é incerta. Ele gostaria de reduzir a repressão no país e tornar a população mais “próspera”. Mas, isto não se traduz na crença em reformas fundamentais. O mais provável é que Rouhani queira ver ressurgir o Irã anterior a 2009, no qual esquerda e conservadores da República Islâmica coexistiam e trabalhavam juntos para manter a teocracia revolucionária.

Entretanto, os ultraconservadores dentro do sistema político do Irã se assustam com suas intenções. Embora o rotulem como um revolucionário de “princípios”, o alertaram a não incluir figuras “sediciosas” em seu governo. Isto pode incluir funcionários favoráveis ao ex-presidente Mohammad Khatami, pesadelo dos ultraconservadores.

O jornal Kayhan, durante muito tempo considerado porta-voz dos conservadores do Irã, é particularmente duro com os reformistas e não tão sutil em suas advertências a Rouhani. Outros conservadores, como o chefe do Poder Judiciário, Sadegh Larijani, também advertiram que as “cobras” reformistas estão “levantando suas cabeças novamente”.

Parece que o futuro gabinete ministerial incluirá principalmente tecnocratas e conservadores moderados. Reformistas influentes como Khatami provavelmente desempenharão um papel nos bastidores, assessorando o novo presidente. Mas, o que acontecerá com Mousavi, Rahnavard e Karroubi? O casal Mousavi-Rahnavard continua em prisão domiciliar. Informes vindos do Irã indicam que sua situação (quase não têm contato com o mundo exterior) lhes causa sérios problemas de saúde. Sobre Karroubi informa-se que está preso em uma casa do Ministério de Inteligência, e também que sofre de várias doenças.

A morte de qualquer um deles poderia ser um duro golpe ao equilíbrio político no Irã, e à reputação de Rouhani. Ele prometeu obter sua libertação. Seu governo agirá de acordo? Rouhani não comanda o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica. É provável que ele, e seu chefe, Khamenei, desempenhem o papel mais importante na hora de determinar os destinos de Mousavi, Karroubi e Rahnavard. Até agora, o trio está detido sem julgamento.

É interessante que o site Basirat, vinculado à Guarda Revolucionária, tenha declarado que “se a lei for seguida, um tribunal competente deve investigar os crimes destes indivíduos”. Esta é uma das poucas vezes em que o regime fala tão abertamente em julgar o trio reformista, já que temem que um julgamento dê a eles a oportunidade de desafiarem publicamente Khamenei.

É possível que se esteja considerando julgar os três líderes da oposição? Então, em si mesmo, não seria admitir uma derrota, já que não poderia cimentar o caminho para um acordo entre os setores em pugna. Como Khamenei declarou reiteradamente, a unidade nacional é essencial para tratar com os inimigos externos do Irã. Conhecido por estender pontes no Irã, Rouhani pode, teoricamente, assentar as bases para a unidade nacional enquanto tenta negociar o programa nuclear.

No entanto, a ponte na qual se encontra é pouco firme. Ele e seus partidários deverão fazer muitos esforços para guiar o regime para a estabilidade. Os avanços em matéria de negociações nucleares e o fim das sanções pode ajudar. As sanções mais recentes do Congresso dos Estados Unidos contra o Irã tornarão mais difícil o trabalho de Rouhani e darão poder aos ultraconservadores. E, qualquer medida interna ou externa que os ultraconservadores considerarem ameaçadora, poderá colocar em risco a presidência de Rouhani.

Isto não só renovará as disputas dentro do próprio regime como também causará o colapso das negociações nucleares. Quanto às negociações, costuma-se dizer que são necessárias duas pessoas para dançar: Estados Unidos e Irã. Porém, na realidade, a dança de Rouhani tem muitos participantes, alguns mais interessados em si mesmos e mais traiçoeiros que outros. O gabinete que Rouhani designar será um importante indicador de suas intenções. E o destino de Karroubi, Mousavi e Rahnavard pode ser o mais importante de todos. Envolverde/IPS

* Alireza Nader é analista de políticas internacionais na não governamental e apartidária Corporação Rand.