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Meninos e meninas sem motivos para festejar em Gaza

Nisma, de sete anos, deixou de falar após ser ferida na cabeça. Foto: Mel Frykberg/IPS

 

Gaza, Palestina, 29/11/2012 – Enquanto as forças de Israel e do Hamás (Movimento de Resistência Islâmica) comemoram cada um como sua própria “vitória” o cessar-fogo na Faixa de Gaza, os civis, e em especial as crianças, continuam pagando o alto preço das hostilidades. Mais de 160 moradores de Gaza morreram durante a Operação Pilar de Defesa, que Israel lançou contra este enclave durante oito dias, até o dia 21, informou o Centro Palestino para os Direitos Humanos (PCHR). Pelo menos 103 eram civis, dos quais 33 crianças.

Três dos civis mortos eram jornalistas, vítimas dos repetidos ataques israelenses contra escritórios de meios de comunicação, onde trabalhavam palestinos e estrangeiros. Além disso, mais de mil palestinos ficaram feridos, entre eles 971 civis, sendo 274 menores. Por outro lado, seis israelenses morreram vítimas de indiscriminados disparos de foguetes desde Gaza contra cidades do sul de Israel. Entretanto, os que sofreram o maior impacto da guerra foram as crianças, incapazes de compreender a complexidade da política internacional e a instabilidade do lugar que simplesmente chamam de lar.

“Mamãe, mamãe!”, gritou Muhammad Abu Zour, de sete anos, no bairro de Zeitoun, na cidade de Gaza. Tinha a cabeça enfaixada e um de seus olhos estava roxo e inchado. “Possivelmente tenha um grave dano cerebral, já que sofreu uma hemorragia interna”, disse à IPS a enfermeira Sana Thabat, de 23 anos, do Hospital Shifa, de Gaza. Muhammad foi ferido na semana passada, quando um avião de combate israelense F-16 bombardeou sua casa. O ataque matou duas mulheres de sua família, Sahar Fadi Abu Zour, de 20 anos, e Nisma Helmi Abu Zour, de 21, e também seu irmão mais novo Eyad Abu Zour, de cinco anos.

As forças israelenses disparavam contra um suposto combatente palestino escondido na casa vizinha. O bairro de Zeitoun é densamente povoado por civis e longe de qualquer base do Hamás. Em outro caso de “danos colaterais”, 11 membros da família Dalu, incluindo quatro mulheres e quatro crianças, morreram quando um míssil israelense atingiu sua casa de quatro cômodos no norte da cidade de Gaza, no dia 18 deste mês.

Alia Kalajar, uma jovem de 23 anos da localidade de Shijaiya, chorava abraçada à sua filha de sete anos, Nisma. “Ela deixou de falar e não sabemos se falará novamente. Tem uma fratura na cabeça e também sangramento interno”, contou à IPS. A menina caiu do terceiro andar de um prédio que foi atacado por um avião israelense não tripulado. Nessa operação ficaram feridos outros 19 civis palestinos.

O garoto Abdel Azis Ashour, de seis anos, também de Zeitoun, tem ferimentos de bala nas duas pernas. Ele brincava com seus sete irmãos e irmãs, na semana passada, quando um avião israelense atacou o bairro. Seu primo morreu e outros cinco civis foram feridos. Mas o menino continua alegre, apesar das trágicas circunstâncias e da dor física que sofre. “Não tenho medo dos israelenses”, disse à IPS enquanto fazia o sinal da vitória.

O pessoal do Hospital de Shifa foi obrigado a trabalhar longas horas com limitados equipamentos e cada vez menos medicamentos. “Vi muitas crianças mortas e feridas. No fim, tem quem se torne um pouco insensível à situação”, disse à IPS a enfermeira Adnan Bughadi, de 22 anos. “A maioria de nós tem trabalhado em turnos duplos para poder tratar todos esses feridos, e isso é esgotante. Em uma sala, o chão estava coberto de sangue e havia escassez de camas”, acrescentou.

A enfermeira Sana Thabat disse que “o hospital está ficando sem alguns medicamentos essenciais, e outros já acabaram. Para mim é muito angustiante ver tantas crianças e civis, mas, o que podemos fazer? Temos que continuar”. O PCHR propôs criar uma missão internacional “para investigar os crimes cometidos pelas forças israelenses contra os civis palestinos na Faixa de Gaza e tomar as medidas necessárias para julgar os responsáveis”. Envolverde/IPS