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O Brics quer ligação direta com a África

Carim afirmou que se deveria buscar formas para conseguir melhor equilíbrio comercial no Brics. Foto: John Fraser/IPS

Johannesburgo, África do Sul, 7/1/2013 – A África do Sul buscará fortalecer os laços entre a África e seus sócios no Brics (aliança formada por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) na cúpula que este grupo realizará em março, informou à IPS o subdiretor-geral do Departamento de Comércio e Indústria sul-africano, Xavier Carim. “O tema da cúpula será o Brics e a África, uma associação para o desenvolvimento, a integração e a industrialização”, explicou, referindo-se ao encontro que acontecerá na cidade sul-africana de Durban.

“Queremos alinhar nossos interesses para apoiar a agenda de integração na África, e não nos concentrarmos apenas em acesso a recursos”, afirmou Carim. Alguns questionam que, por ser a menor nação dentro do Brics, tanto em população quanto em produto interno bruto (PIB), a África do Sul não merece um lugar nesse clube de nações emergentes. Entretanto, outros respondem que a presença deste país oferece ao Brics melhor acesso ao continente africano, rico em minerais.

Os chefes de Estado e de governo do Brics serão convidados também para um encontro com o Comitê Diretor da Nova Associação para o Desenvolvimento da África (Nepad). “Será de nível presidencial, e ajudará a vincular o Brics com a África”, destacou Carim. O conselheiro para assuntos internacionais John Maré, radicado em Pretória, elogiou o plano sul-africano de fortalecer os laços entre a África e o Brics durante a próxima cúpula de Durban. “Isto é importante. Em particular, significa que a África do Sul está facilitando um diálogo de negócios entre África e China”, afirmou.

“É importante que os acordos de negócios garantam que não haja uma exploração da África por parte dos chineses”, disse Maré à IPS, ressaltando que este país é membro fundamental do Brics para os interesses africanos. “O grupo Bric convidou a África do Sul, convertendo-se em Brics, pois somos vistos como a porta mais adequada para a África”, explicou. “Se na cúpula de Durban for dada ênfase à África, significa que a África do Sul está desempenhando o papel que todos esperavam quando a convidaram”, acrescentou.

Maré afirmou que o Brics procurará um novo diálogo com a África de forma paralela ao que o continente mantém com a União Europeia. “A UE tem um diálogo específico com a África, por meio da Secretaria da União Africana”, ressaltou. “Este vínculo entre o Nepad e o Brics poderia ser um reflexo exato desse diálogo e daria ao Brics uma relação com a África que não têm nem Japão nem Estados Unidos”, destacou, afirmando que “estou seguro de que esta reunião de Durban será a primeira de um diálogo regular”.

Por sua vez, o analista independente Ian Cruickshanks, de Johannesburgo, também apoiou a ideia de a África do Sul facilitar o diálogo entre a África e o Brics. “Comemoro qualquer ampliação da influência sul-africana na economia global e nos blocos políticos”, declarou à IPS. “O Brics é visto como um grupo novo e vibrante, com uma crescente influência política e econômica, com acesso a capital, capaz de influenciar novos investimentos fixos na África, a última fronteira em energia explorável e em reservas de produtos básicos industriais”, destacou.

Cruickshanks recordou que a África atualmente contribui com apenas 3% do PIB mundial, e em particular a África do Sul, com cerca de 1%. Mas o continente “tem o potencial de avançar mais rápido do que o mundo industrializado, desde que haja acesso a capital e que isto possa ser aproveitado pelos centros industriais do Brics”, opinou. Segundo o especialista, os recursos sul-africanos já estão sendo explorados de forma significativa, mas sugere que as reservas de petróleo de xisto betuminoso podem ser melhor desenvolvidas mediante associações com os demais países do Brics e exportadas para o restante da África.

“O avançado setor financeiro sul-africano poderia servir de base para a entrada do Brics na África, gerando um grande impulso econômico e contribuindo para financiar os planos de desenvolvimento de infraestrutura prometidos pelo presidente Jacob Zuma”, acrescentou Cruickshanks. Por outro lado, Carim pediu que se dissipe qualquer atrito comercial dentro do Brics. Deu como exemplo as solicitações da África do Sul para aplicar direitos antidumping (contra práticas de comércio desleal) pelas importações de frangos do Brasil e de papel da China. “Este tipo de coisa surge, e é inevitável quando cresce o comércio. Quanto mais comércio, mais atritos. É parte normal das relações”, afirmou, ressaltando, no entanto, a importância de se evitar este tipo de tensão.

Carim afirmou que se deveria procurar um melhor equilíbrio comercial dentro do grupo. “Quando aumentam as importações da África do Sul, isto causa um impacto em nossas indústrias”, afirmou. “Deve haver alguma forma de aliviar a tensão, de encontrar saídas para nossas exportações e de achar formas de apoiá-las, como o vinho vendido para o Brasil”, acrescentou. No entanto, Carim disse que ainda não existem as condições para se criar uma área de livre comércio entre as nações do Brics. “Ninguém fala de uma área de livre comércio, porque quando se cria uma é preciso abrir os mercados e pode-se perder certos setores”, explicou.

“A Índia é vulnerável em sua agricultura, enquanto os chineses são muito competitivos em produtos manufaturados. Já o Brasil é muito competitivo em agricultura. Com o livre comércio, corre-se riscos”, acrescentou Carim, que também destacou que as nações do Brics têm muito a aprender umas com as outras. O êxito do Brasil em criar instituições efetivas para financiar o desenvolvimento pode ser replicado na África do Sul, afirmou. Já a China e a Índia são boas em incrementar zonas de desenvolvimento industrial. “Temos que nos focar em compartilhar experiências, e não na competição destrutiva”, enfatizou. Envolverde/IPS