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Paquistão suspende execuções por razões equivocadas

O Talibã ameaçou com mais violência se as execuções forem realizadas. Foto: Ashfaq Yusufzai
O Talibã ameaçou com mais violência se as execuções forem realizadas. Foto: Ashfaq Yusufzai

 

Peshawar, Paquistão, 18/9/2013 – O governo do Paquistão suspendeu a execução de três integrantes do movimento extremista Talibã, determinada pela justiça. Mas não se trata de uma medida humanitária, afirmam dirigentes opositores. “Suspender as execuções significa sucumbir à pressão do Talibã”, opinou Mian Iftijar Hussain, do Partido Nacional Awami (PNA). Essa força política, que governou a província Jyber Pajtunjwa, de 2008 até este ano, assumiu um forte discurso contra os radicais islâmicos, e por isso sofre constantes ataques.

O grupo armado Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP) assassinou cerca de 800 dirigentes e simpatizantes do PNA. Os radicais não vacilam na hora de cometer suas próprias execuções e matar gente inocente em ataques suicidas, apontou Hussain à IPS. “O Talibã matou centenas de pessoas sem julgamento, mas agora chora pela execução de seus homens, que foram condenados pela justiça”, protestou.

Attaullah Jan, Mohammad Azam e Jalal Shah, membros do grupo extremista Lasjar-i-Jhangvi (LeJ), vinculado ao Talibã, foram condenados por um tribunal antiterrorista em 2004 por numerosos assassinatos. No dia 30 de junho, venceu a suspensão de execuções que havia imposto o presidente Asif Ali Zardari (2008-2013), ficando determinado que os três fossem executados. A Comissão de Direitos Humanos do Paquistão exortou, sem sucesso, o governo a estender a moratória. Nas prisões do Paquistão há cerca de oito mil réus esperando sua execução na forca.

“O governo fixou as execuções dos três combatentes para os dias 20, 21 e 22 de agosto, mas decidiu adiá-las no último momento”, disse à IPS o ativista Mohammad Irfan, da organização não governamental Freedom for All. A governante Liga Muçulmana do Paquistão-Nawaz (LMP-N) “teme o TTP e por isso suspendeu as execuções”, opinou. O TTP matou civis e soldados paquistaneses em todas as províncias do país, menos na de Punjab. Porém, depois de anunciadas as execuções os talibãs ameaçaram realizar ataques também ali.

Maulana Asmatullah Muavia, porta-voz do TTP, alertou, no dia 12 de agosto, que o governo federal “terá de pagar um preço” se enviar para a forca os três combatentes. “Travamos uma guerra contra esses partidos políticos que se converteram em marionetes dos militares. Alguns elementos das agências de espionagem estão tentando fazer com que a LPM-N a empreenda contra o Talibã”, declarou o porta-voz. O TTP alegou que o governo paquistanês cedeu à pressão de Washington ao determinar a execução dos três condenados.

Entretanto, dirigentes do opositor PNA dizem que o governo adiou o enforcamento para evitar que o Talibã levasse a violência a Punjab, que “sempre esteve livre de combatentes, concentrados em Jyber Pajtunjwa, Balochistão e Sindh”, porque o governo do Punjab fornecia um “lugar tranquilo” para o Talibã, explicou à IPS o senador do PNA, Muhammad Adeel. “O TTP ameaçou o governo com ataques como os que lança contra o PNA se as execuções acontecessem. Vamos esperar e ver o que acontece. Até agora a administração do Punjab está na lista de amigos do Talibã’, acrescentou.

Shahbaz Shafir, irmão mais novo do primeiro-ministro, Nawaz Sharif, é o ministro-chefe de Punjab. LeJ, Lasjar Toiba, Jamatu Dawa e outras organizações radicais têm suas bases centrais nessa província. “Durante anos exigimos do governo de Punjab que agisse contra os combatentes islâmicos, mas, em vez disso, os apoia”, pontuou Adeel. Líderes da LMP-N destacaram que a condenação à morte coube à justiça e que a decisão final é de sua competência, mas poucos duvidam de que, qualquer que seja, obedecerá a pressões políticas.

Por outro lado, os documentos sobre ordens de execução de outros cinco membros do TTP foram enviados ao primeiro-ministro para que este os entregue ao presidente, informou o ministro do Interior, Chaudhry Nisar. Os sinais do governo indicam que tampouco estas acontecerão, argumentam os opositores do PNA, mas pelas razões equivocadas. Envolverde/IPS