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Petróleo barato não tira o foco de Santa Lúcia das energias limpas

Trabalhadoras usam eletricidade e lenha para preparar pão de mandioca na comunidade rural de Canaries, em Santa Lúcia. O governo afirma que as energias renováveis ajudarão os que elaboram produtos no setor agrícola. Foto: Kenton X. Chance/IPS
Trabalhadoras usam eletricidade e lenha para preparar pão de mandioca na comunidade rural de Canaries, em Santa Lúcia. O governo afirma que as energias renováveis ajudarão os que elaboram produtos no setor agrícola. Foto: Kenton X. Chance/IPS

 

Castries, Santa Lúcia, 3/3/2015 – O turismo é o principal setor da economia de Santa Lúcia e requer um grande consumo de energia, o que representa um problema para este pequeno país insular do Caribe, dependente das importações de petróleo. Mas, no atual contexto de redução dos preços desse combustível, o país mantém sua aposta nas energias renováveis, porque as considera um instrumento para garantir seu crescimento econômico em médio e longo prazos.

Com 617 quilômetros quadrados e 180 mil habitantes, Santa Lúcia procura combinar o turismo com a agricultura depois das dificuldades causadas pela crise econômica e financeira mundial de 2008.

Dolf Gielen, especialista da Agência Internacional de Energias Renováveis, disse à IPS que a queda dos preços do petróleo é uma excelente oportunidade para os pequenos Estados insulares em desenvolvimento, como este e os 15 membros da Comunidade do Caribe (Caricom), para acelerar seus programas de alternativas limpas. “Creio que pode ser visto como algo inesperado que lhes permite ganhar tempo na transição” para fontes de energia renovável, acrescentou.

O ministro de Energia, Ciência e Tecnologia, Desenvolvimento Sustentável e Serviços Públicos de Santa Lúcia, James Fletcher, disse à IPS que a conjuntura do petróleo coincide com a necessidade da região de acelerar sua transição para as energias renováveis. “O preço está determinado pela geopolítica”, não por avanços da tecnologia, afirmou.

A Arábia Saudita aumentou sua produção para que o gás de xisto procedente dos Estados Unidos e do Canadá seja menos atraente. O preço do petróleo caiu durante o primeiro bimestre de 2015 para uma média de US$ 50 o barril (de 159 litros), menos da metade do preço registrado há um ano.

Um navio de cruzeiro no porto de Castries, em Santa Lúcia. O governo pretende usar as energias renováveis para impulsionar o turismo. Foto: Kenton X. Chance/IPS
Um navio de cruzeiro no porto de Castries, em Santa Lúcia. O governo pretende usar as energias renováveis para impulsionar o turismo. Foto: Kenton X. Chance/IPS

 

“Mas, se o Caribe leva a sério o desenvolvimento sustentável e quer que suas economias se desenvolvam com certo grau de certeza, não podemos ficar à mercê das flutuações do mercado de petróleo”, alertou Fletcher. “Diante da grande flutuação de preços, creio que devemos perseguir nossas energias renováveis com maior presteza e mais energia”, disse o ministro à IPS.

Em Santa Lúcia os consumidores pagam US$ 0,38 por quilowatt/hora de eletricidade. O governo espera que seus investimentos em energias renováveis permitam baixar o preço para US$ 0,30. Nesse país fica Sulphur Springs, o “único vulcão do mundo aonde se chega de automóvel”. É uma caldeira fumegante perto de Soufrière, no sudoeste da ilha, onde o calor natural ferve a água expelida pelos gêiseres quando há maré alta e lua cheia.

Santa Lúcia recebe apoio econômico e técnico do governo da Nova Zelândia, da organização SIDS-DOCK e do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) para realizar a primeira etapa da exploração, que começará em breve, segundo informou Fletcher. A Lucilec, companhia estatal de energia elétrica, comprará a eletricidade da Ormak, construtora de usinas de energia de Israel, e a revenderá aos consumidores.

Santa Lúcia espera gerar até 30 megawatts de eletricidade em Soufrière, onde fica Sulphur Springs, “o único vulcão do mundo aonde se chega de automóvel”. Foto: Kenton X. Chance/IPS

 

Desenvolver a energia geotérmica leva tempo, “mas ao menos nos encaminha para a geração de, acreditamos, 30 megawatts em Soufrière”, disse o ministro. “O vulcão fica na Zona de Gestão dos Pitons, patrimônio mundial da humanidade da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e uma área na qual é proibido o desenvolvimento de infraestrutura. Vamos perfurar fora da área, e acreditamos conseguir poços produtivos”, explicou Fletcher.

Santa Lúcia também explora o desenvolvimento de uma fazenda eólica de 12 megawatts na costa oriental, por isso deve manter conversações com uma empresa norte-americana.

O terceiro elemento da tendência para as energias renováveis são os painéis fotovoltaicos, que estarão a cargo da Lucilec, que convocou a apresentação de propostas para produção de 1,2 megawatt no sul do território, com a intenção de aumentar para três megawatts no futuro próximo. Neste caso, o governo trabalhou com a Carbon War Room e a Iniciativa Clinton, que apoiam seu programa de energia renovável.

O desenvolvimento das energias renováveis, junto com iniciativas de economia, como reduzir de US$ 4 milhões para US$ 2,6 milhões ao ano o gasto com iluminação pública com o uso de luzes LED terá um “tremendo” impacto em Santa Lúcia. O governo também impulsiona maior eficiência energética em seus próprios edifícios e mandará ao parlamento uma lei oferecendo reduções de impostos a quem tiver dispositivos eficientes ou instalar painéis fotovoltaicos conectados à rede pública.

“Isso faz com que nossa economia seja mais competitiva”, disse Fletcher, pois grande parte do gasto do setor turístico é a energia. “O gasto de hotéis, fábricas e pessoas interessadas em produtos agrícolas elaborados diminui e volta a esses setores mais competitivos. Nos lares, tudo o que gasta energia pode ser destinado a outra coisa”, acrescentou.

Fletcher é um dos delegados de Santa Lúcia e da Caricom nas negociações globais destinadas a alcançar um novo tratado, universal e vinculante, para deter o aquecimento global na próxima 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, que será realizada em Paris no mês de dezembro.

Nesse âmbito, Santa Lúcia pede aos países ricos que reduzam suas emissões de gases-estufa para evitar que o aquecimento planetário supere os dois graus, com relação à média da era pré-industrial, conforme recomendam os cientistas.

A política favorável às energias renováveis fortalece nosso argumento, disse o ministro, “se podemos dizer que em um país como Santa Lúcia, que é responsável por algo como 0,00078% dos gases-estufa liberados na atmosfera, reconhecemos a importância de fazer um esforço global e continuamos comprometidos em reduzir nossa pegada de carbono em 30%, 40% ou 50%”, ressaltou.

Portanto, “acreditamos que os grandes emissores, como Estados Unidos, os países europeus, China e Rússia, também deveriam fazer mais para reduzir suas emissões de gases contaminantes. Creio que fortalece nossa posição nas negociações internacionais em matéria de mudança climática”, concluiu Fletcher. Envolverde/IPS