Arquivo

Rumo à paz, rebeldes curdos liberam reféns turcos

Doha, Catar, 14/3/2013 (IPS/Al Jazeera) – Rebeldes curdos libertaram oito reféns turcos em resposta a um chamado para troca de presos feito pelo dirigente Abdalá Ocalan, que está preso. O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) libertou ontem vários efetivos e um funcionário, dentro de um processo de paz com o governo da Turquia, que tem a esperança de conseguir um cessar-fogo em agosto próximo. Os reféns foram soltos no Iraque e chegaram à Turquia na tarde de ontem.

Ocalan teria iniciado conversações secretas com as autoridades turcas para acabar com o conflito que dura 29 anos, em um processo que desemboque em um acordo em outubro. O trato para libertar os reféns foi considerado um gesto de boa vontade da proposta apresentada por Ocalan, informou, da cidade turca de Antakya, o jornalista da rede de televisão árabe Al Jazeera, Omar al Saleh.

“Isto nos leva a um passo mais importante, que pode ocorrer na próxima semana, segundo Ocalan, como um anúncio de cessar-fogo do PKK”, informou Saleh. Os reféns se reuniram com suas famílias em Zakho, um distrito do Curdistão iraquiano, região autônoma no norte desse país, e entraram na Turquia a partir do distrito de Jabur. Saleh acrescentou que Ocalan planeja que a declaração de cessar-fogo ocorra nos próximos meses, em meados de agosto. “Depois o PKK chamaria seus combatentes a abandonarem o território turco, se retirar e depor as armas”, destacou.

A Turquia ainda não informou o que ofereceu em troca, mas se especula sobre mudanças na Constituição, como o reconhecimento da existência do povo curdo, uma das principais demandas dessa comunidade. As pessoas libertadas foram identificadas como Zihni Koc, Abdullah Sopceler, Kemal Ekinci, Nadir Ozgen, Kenan Erenoglu, Resat Cacan, Ramazan Basaran e Hadi Gizli. A quantidade total de reféns sob custódia do PKK é alvo de disputa. A imprensa turca falem números que variam de dez a 20 pessoas. Os reféns foram sequestrados em diferentes datas no sul e sudeste do país, em cidades como Diyarbakir, Van, Mus, Bingol e Sirnak.

A libertação estava prevista para o dia 12, mas atrasou por “questões técnicas”, segundo o Partido pela Paz e a Democracia (BDP), simpatizante do povo curdo. O porta-voz do partido, Cemal Coskun, disse à agência de notícias Firat que a delegação encabeçada por esse partido se dirigira à cidade iraquiana de Arbil para a libertação. “Esperamos que os poderes que desejam a paz e a democracia considerem o gesto e acelerem os passos para a paz”, declarou à agência.

Também viajaram à cidade iraquiana representantes do Ministério do Interior e de duas organizações não governamentais. As duas partes concordaram em que o fato deve ser interpretado como uma medida para gerar confiança, dentro dos novos esforços para acabar com o conflito. A libertação dos reféns ocorreu após uma chamada feita em fevereiro pelo líder curdo Ocalan, da prisão turca onde se encontra. Também teria dito que as duas partes têm prisioneiros e que espera que se reencontrem com seus familiares.

Besir Atalay, vice-primeiro-ministro turco, disse que a iniciativa deveria ser considerada como um gesto de boa vontade no processo atual. Mas descartou a possibilidade de que o governo tenha feito concessões secretas pela libertação. “Há um grande apoio da população, expectativa e esperanças”, disse Atalay à agência de notícias estatal Anatolia.

As conversações de paz entre Ocalan e o governo turco recomeçaram no final do ano passado, com o objetivo de pôr fim a quase três décadas de violência, que causaram 45 mil mortes, desde que o PKK pegou em armas em 1984. Ocalan está preso há 14 anos por traição. Se prevê que chame o proscrito PKK a acatar um cessar-fogo temporário, cujo início está previsto para o dia 21, quando se comemora o ano novo curdo. Envolverde/IPS

* Artigo publicado sob acordo com a Al Jazeera.