Pontes de SP terão passagens para ciclistas e pedestres

Ciclista cruza a Ponte da Casa Verde, em São Paulo. Foto: helvioromero.wordpress.com
Ciclista cruza a Ponte da Casa Verde, em São Paulo. Foto: helvioromero.wordpress.com

Um dia após o início da campanha “Adote uma Ponte”, prefeitura anuncia plano para melhorar a travessia de pedestres e ciclistas nas pontes paulistanas

Mal a campanha “Adote uma Ponte” foi lançada ontem (22) – organizada pela Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade), com apoio de outros ativistas e entidades, como o Mobilize Brasil -, a Prefeitura de São Paulo anunciou que vai criar ciclovias em viadutos e pontes das Marginais do Pinheiros e do Tietê, neste ano.

O projeto-piloto será implementado na Ponte da Casa Verde, na zona norte da capital, com uma ciclovia de dois sentidos, sobre a calçada, na pista sentido centro do viário.

De acordo com o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, o programa completo será apresentado nesta semana: “Vamos fazer um piloto na Ponte da Casa Verde, levantar o piso para pedestre, melhorar a sinalização e colocar o pisca-pisca”, afirmou Tatto à reportagem do Estadão na manhã de ontem, Dia Mundial Sem Carro, ao chegar à Prefeitura de bicicleta, após pedalar sete quilômetros entre a sua casa, na Vila Mariana, zona sul, e o Edifício Matarazzo, no centro, sede da Prefeitura.

A ciclovia da Ponte da Casa Verde interligará a zona norte ao centro. A travessia se conectará às faixas do canteiro central da Avenida Brás Leme e às vias da Barra Funda, do Bom Retiro e de Campos Elísios, a partir da Rua dos Americanos.

O prefeito Fernando Haddad também disse que construirá passarelas para ciclistas sobre os dois rios que cortam a capital, paralelas aos viários já existentes. “O estudo já está pronto e o que está faltando agora é o projeto de onde se precisa construir as ciclopassarelas”, acrescentou Tatto.

Mapeamento de pontes

A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) informou que realizou um mapeamento de pontes e viadutos ao longo das Marginais que comportam a construção das estruturas paralelas aos viários.

Entre os locais identificados estão as Pontes da Freguesia do Ó e do Piqueri, na Marginal do Tietê, e as Pontes Cidade Universitária, Cidade Jardim e do Socorro, sobre a Marginal do Pinheiros.

Campanha de pontes

Um plano viário para facilitar a travessia nas Marginais é demanda antiga dos cicloativistas. Para Daniel Guth, diretor da Ciclocidade, “os viadutos são um dos principais gargalos de mobilidade” em de São Paulo. Estas estruturas segregam socialmente, economicamente e na mobilidade os pedestres e ciclistas. A inclusão nesse sistema é importantíssima. São 10 milhões de pessoas vivendo além das pontes.”

Como parte da Semana Nacional de Mobilidade e do Dia Mundial sem Carro, a entidade iniciou o projeto “Adote uma ponte”. Com mais de 20 viadutos mapeados, a intenção é discutir projetos para ciclistas nas estruturas. A associação também pendurou faixas em viadutos de São Paulo.

Já o presidente da Ciclocidade, Carlos Henrique Lopes, disse à equipe do Mobilize que as ações anunciadas para as pontes da capital são, de fato, “um avanço”. Mas, mais do que isso, “são o resgate de uma dívida para com o pedestre e o ciclista, que por tanto tempo foram ignorados ao se pensar na construção de pontes e viadutos da cidade, obras que sempre priorizaram o fluxo dos veículos automotores”, declarou.

Mesmo confiante de algo começa a ser feito pelas autoridades, Lopes é cauteloso ao lembrar que as soluções ainda não foram apresentadas: “Vamos ver o que será proposto, não temos detalhes ainda. O que dá para dizer é que, quaisquer que sejam as medidas adotadas, elas devem encontrar meios de ‘acalmar’ o trânsito, reduzindo a velocidade dos carros, pondo semáforo, ou mesmo eliminando alças de acesso sempre que der. É o que já existe, aliás, em algumas pontes como a do Piqueri e Bandeiras, onde o motorista é levado a dar a volta no quarteirão”, explica.

“Mas cada ponte traz problemas diferentes, o que exige diferentes formas de resolver os problemas”, completa o diretor da Ciclocidade. “Por exemplo: na ponte da Casa Verde, os passeios são largos e permitem pensar no compartilhamento com pedestres. Já as calçadas do viaduto da Lapa, que são sofríveis, vão exigir outro tipo de intervenção, talvez mais complexa”.

Ciclovias em todos os distritos

Outra novidade desta segunda-feira foi a promessa de Haddad de construir ciclovias nos 96 distritos da capital, todas interligadas. “Nenhum distrito de São Paulo por mais periférico que seja vai deixar de estar interligado à malha cicloviária”, disse. A meta é implementar 400 quilômetros de faixas até o fim de 2015.

Haddad ainda defendeu a desoneração de IPI, Cofins e ICMS das bicicletas para reduzir entre 20% e 30% o preço das bikes. “Nós estamos na Frente Nacional de Prefeitos pedindo a isenção”, explicou o prefeito.

O prefeito também foi e voltou para casa de bicicleta ontem. Pela manhã, pedalou acompanhado do senador Eduardo Suplicy (PT) e de cicloativistas. Ele levou 35 minutos para percorrer 4,1 km entre sua casa, no Paraíso, zona sul, ao Edifício Matarazzo, no centro.

* Publicado originalmente no site Mobilize Brasil.