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A economia verde alivia, mas não cura

Cidade da Guatemala, Guatemala, 23/8/2011 – Os países centro-americanos não encontrão na chamada economia verde respostas de fundo para a pobreza e os desastres naturais enquanto vigorar o modelo de desenvolvimento baseado na produção e no consumo excessivos, alertam especialistas da região. Germán Rodríguez, coordenador da Rede Nacional de Formação e Pesquisa Ambiental, da Guatemala, disse à IPS que todo esforço destinado a proteger o meio ambiente e os recursos naturais “é bom”, mas, sobre a economia verde “tenho minhas reservas”.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) definiu a economia verde como um sistema de atividades relacionadas com produção, distribuição e consumo de bens e serviços que resulte em melhorias do bem-estar humano no longo prazo, sem – ao mesmo tempo – expor as gerações futuras a riscos ambientais e escassez ecológica significativa.

“Estruturalmente não há mudanças reais porque continua regida por um modelo econômico que privilegia um modo de produção”, embora “represente um caminho para uma economia mais harmônica com o meio ambiente”, disse Rodríguez. Para ele, mudar o modelo de desenvolvimento atual “será algo muito complexo” e para consegui-lo “será preciso começar por uma mudança de atitude por parte dos consumidores” para harmonizar sua atitude e a produção com a natureza.

“Se o consumidor deixa de comprar um produto, o produtor deixará de vendê-lo”, afirmou Rodríguez. Nesse caso, considera muito importante a promoção do ensino ambiental por meio das diferentes estruturas do Ministério da Educação e das universidades, bem como as regulamentações por parte do governo para que as empresas sejam responsáveis pelos dejetos que produz.

A temática ambiental se converteu em um assunto inevitável para a América Central, com 43 milhões de habitantes, especialmente porque esta região é uma das mais castigadas do planeta pelos fenômenos climáticos extremos, embora contribua pouquíssimo para a contaminação global. O estudo “A economia da mudança climática na América Latina e no Caribe 2009”, da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), indica que a região contribui com menos de 0,5% do total das emissões de gases causadores do efeito estufa em nível mundial.

Paradoxalmente, uma seca em 2009, e os ciclones Mitch em 1998, Stan em 2005 e Agatha em 2010, atribuídos à mudança climática, deixaram centenas de milhares de vítimas e severos danos à infraestrutura e agricultura da região, principalmente na Nicarágua, Honduras, El Salvador e Guatemala. Estes desastres naturais agravaram a pobreza que afeta aproximadamente metade dos habitantes da América Central, que ainda não conseguiram se recompor.

“No ano passado, tivermos crescimento do produtor interno bruto de 2,8%, mas os fenômenos hidrometeorológicos significaram um impacto de 2,3% sobre esse desempenho. Então, de qual crescimento econômico estamos falando se não levamos a sério as variáveis ambientais?”, perguntou Rodríguez.

Ricardo Navarro, da não governamental Cesta, e a Amigos da Terra de El Salvador, disseram à IPS que, “enquanto não se questionar o modelo de produzir e consumir sempre mais, os resultados da economia verde serão pouco perceptíveis. Embora com a economia verde se reduza o impacto na natureza para cada dólar produzido ou consumido, diante de um aumento da produção e do consumo qualquer melhoria desaparece”.

Para Navarro, é preciso construir um novo sistema político-econômico baseado em uma relação harmônica com a natureza. “Isto significa produzir e consumir dentro dos limites que a natureza permite, tanto na utilização de recursos como na disposição dos dejetos, satisfazendo ao mesmo tempo os direitos humanos fundamentais”, explicou.

Para mitigar seus impactos ambientais, os países da América Central aderiram a ações em diferentes campos da produção. Em matéria energética, por exemplo, a Costa Rica conseguiu gerar mais de 80% de energia com fontes renováveis. A vizinha Nicarágua espera que 90% de sua energia seja produzida, até 2016, também com fontes renováveis, enquanto a Guatemala pretende fazer o mesmo até 2022 e a aposta é de 99% da energia gerada, segundo os ministérios das Minas e Energia destes dois países. Entretanto, os ambientalistas são céticos quanto a essas decisões, porque, mesmo que as metas sejam atendidas por meio desses esforços, ainda assim estaria longe de alcançar uma economia verde.

“Os governos da região se debatem entre implantar políticas de desenvolvimento e, ao mesmo tempo, proteger os recursos naturais”, mas estão no meio de grandes interesses particulares, “os quais, no final, ganham o jogo e impedem uma economia verde”, afirma Eddie Gallegos, da Associação de Municípios Integrados pela Bacia e por Territórios da Lagoa de Apoio, da Nicarágua. Gallegos defende uma mudança nos hábitos de consumo de modo que, “se temos quatro pares de sapato é o caso de nos perguntarmos se, de fato, precisamos deles todos. A chave é diminuir o consumo dos que compram muito e reduzir o crescimento populacional”, disse à IPS.

O economista guatemalteco Fernando Carrera disse à IPS que é muito importante tanto a sustentabilidade com a reprodução econômica. Entretanto, “a China demonstra que fazer uso de tudo o que está ao seu alcance deslocando a pobreza e o meio ambiente para que sua economia cresça gerou uma grande contaminação no país e no resto do mundo, de modo que as restrições de caráter ambiental preocupam cada vez mais”, explicou. Assim, Carrera acredita que é possível superar o capitalismo, “embora os seres humanos não saibam agora como substituí-lo por algo mais eficiente”. Envolverde/IPS