A natureza não tem problema, nós temos, diz economista

Sérgio Besserman, em palestra no Forte de Copacabana. Foto: Maura Campanili

“Todos os desafios do século XX são pequenos diante do que terremos que enfrentar nos próximos anos e décadas. Estamos diante de um dos maiores desafios da humanidade, para o qual precisamos de criatividade, mas seria arriscado seguir alguma resposta fechada”, disse o economista Sérgio Besserman, nesta terça-feira (12/6), na palestra “O Homem e o desenvolvimento sustentável”, no Humanidade 2012, evento paralelo à Rio+20.

O economista ressaltou que não espera que a humanidade volte para trás. “Temos atualmente uma expectativa de vida de 80 anos e prefiro isto a uma expectativa de pouco mais de 30 anos de uma tribo coletora. Há não muitos anos, as mulheres tinham muitos filhos e viam vários deles morrer”, ressaltou. Segundo ele, essas mudanças começaram há apenas 300 anos e trouxeram muita coisa boa, mas também outros problemas. “O maior deles é que ‘não existe almoço grátis’. E funcionamos nos últimos 300 anos como se existisse. Isso significa que estamos esbarrando nos limites do planeta, que não pode continuar a oferecer os serviços necessários à nossa vida, como água, solo e clima. Estamos entrando no capital da nossa caderneta de poupança.”

Entre todos os problemas, como acidificação dos oceanos, desertificação, buraco na camada de ozônio, Besserman destacou três grandes desafios. O primeiro é que o planeta não está mais conseguindo reciclar o nitrogênio da revolução verde, modelo que já dá mostras de esgotamento. Isso significa que precisaremos de muita ciência e uma tecnologia diferente para alimentar 10 bilhões de pessoas nos próximos anos.

Além disso, citou a crise da biodiversidade. “Não temos a mínima ideia de quantas espécies existem nem como se relacionam. Há estimativas de que em 2050, estarão extintas de 30% a 40% das espécies. Não sabemos o que vai acontecer por conta disso”, disse. “Precisamos entender que o tempo da natureza é diferente do nosso, que é muito curto – estamos por aqui há cerca de 100 mil anos, enquanto a vida pluricelular no planeta tem 650 milhões de anos. Por isso precisamos agir imediatamente, não para salvar a Terra, mas por nossa causa. Temos a capacidade de estragar muito a natureza, mas para o planeta, o máximo que pode acontecer é uma grande extinção, o que já ocorreu outras tantas vezes. Em 5 a 10 milhões de anos, está tudo aí novamente, mas sem nós. A natureza não tem problema, nós temos”, disse.

O problema mais grave, urgente e profundo, porém, são as mudanças climáticas, já que são causadoras da maior parte dos outros problemas – falta d’água, desertificação, extinções etc. “Temos um risco real, embora possa não acontecer nada. No entanto, fazemos seguro de nossas casas contra raios, mesmo não conhecendo ninguém que teve esse tipo de problema”.

Conforme o economista, para resolver o problema, precisamos de ciência e tecnologia, mas não só. As mudanças climáticas são causadas por 1,5 bilhão de pessoas (norte-americanos, europeus, japoneses e classes média e rica do restante do mundo). Os demais 5,5 bilhões não têm como fazer isso. A solução envolve política: “pela primeira vez, teremos que tomar uma decisão conjunta, de todos, mas não fomos selecionados para sermos todos. Vamos ter que fazer isso pela primeira vez. Pela primeira vez, ainda, teremos que tomar decisões para daqui a 100 anos ou mais”.

Segundo Besserman, na Rio-92, muitos documentos foram assinados – as convenções da Biodiversidade, do Clima e da Desertificação, além da Agenda 21 -, mas não adiantou nada. “Ninguém liga para acordos da ONU. A única coisa que avançou de lá para cá foi o combate à pobreza, por conta da economia global antes de 2008. Mesmo assim, achamos que a Conferência de 1992 foi boa, principalmente porque houve coragem para apresentar os problemas. Também a Rio+20 precisará de coragem para apresentar os problemas com a gravidade que têm. Se tentar passar ao longo dos problemas, será um fracasso”, completou.

* Maura Campanili é jornalista.