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Biodiversidade enfrenta múltiplas ameaças

A Jamaica é uma das ilhas de maior biodiversidade do Caribe. Foto: Zadie Neufville/IPS

Kingston, Jamaica, 17/5/2012 – As autoridades da Jamaica, um dos países do Caribe mais vulneráveis aos efeitos da mudança climática, pretende incentivar o desenvolvimento sustentável para evitar a degradação ambiental, reverter a perda de recursos e deter a perda de sua rica biodiversidade. A responsável da área de ecossistemas da Agência Nacional de Meio Ambiente e Planejamento (Nepa), Andrea Donaldson, disse à IPS que o trabalho em matéria de biodiversidade não está centrado na mudança climática, mas que o organismo sabe de seus possíveis impactos e tenta implantar medidas de proteção.

O informe nacional sobre os Objetivos de Desenvolvimento das Nações Unidas para o Milênio aponta os problemas que este país tem para controlar a contaminação e proteger os ecossistemas importantes. Isto é o que mais preocupa os cientistas, que apontam a falta de atenção com o meio ambiente que pode exacerbar as consequências de eventos climáticos graves. O informe sobre o estado do meio ambiente (SOE) de 2010 e o que foi enviado à Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (CMNUCC) coincidem em afirmar que as atividades humanas constituem uma ameaça significativa.

“A mudança climática provavelmente aumenta o impacto negativo” sobre a perda de habitat, a superexploração, o mau uso da terra e a ignorância do valor dos recursos naturais, diz o SOE. Também são denunciadas alterações nos arrecifes de coral, nas selvas e nos mangues costeiros, áreas identificadas como as mais vulneráveis ao aquecimento global. A Jamaica teve 12 eventos climáticos extremos nos últimos cinco anos. Esta é a ilha mais bioendêmica da região e ocupa o quinto lugar em uma lista mundial sobre quantidade de espécies únicas por país. A perda de biodiversidade da Jamaica pode ter consequências imensas. Há mais de oito mil espécies de plantas e animais terrestres registrados, bem como 3.500 no ambiente marinho.

Entre os tesouros únicos deste país, há dez espécies de cactos, sete de palmeiras e 60 das 240 de orquídeas existentes no mundo. Há, também, 31 tipos de aves, nove de caranguejos, 505 das 514 variedades de caracóis registradas, e 33 das 43 de répteis. Além disso, pelo menos quatro das 24 espécies de morcegos são endêmicas, como também 17 das 19 de rãs e 15 das 115 variedades de borboletas. Entre os pássaros, o jamaicano Tody está entre as espécies únicas mais conhecidas, bem como a jiboia jamaicana, a jutía da Jamaica (um roedor parecido com o coelho da Índia) e a borboleta gigante cauda de andorinha.

Esta ilha está na lista de lugares com maior quantidade de mamíferos em risco feita pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) devido, principalmente, aos morcegos endêmicos e à jutía. Outra espécie endêmica, a iguana jamaicana, está na Lista Vermelha de espécies em perigo e ameaçadas dessa organização. Cerca de 200 animais sobrevivem na selva cada vez menor das montanhas de Hellshire, ao sul, perto de Kingston.

A Nepa disse que realiza vários programas, políticas e leis para gerir e evitar a exploração dos recursos sem a devida autorização. As autoridades reconheceram que é difícil colocar em prática as medidas de proteção e, da mesma forma que o Departamento de Silvicultura, a Agência implanta um mecanismo de colaboração com as comunidades prejudicadas. Os fundos destinados à adaptação à mudança climática permitem que os dois órgãos reflorestem as selvas e os mangues. Também trabalham com pescadores, agricultores e outras pessoas que dependem dos ecossistemas naturais para buscar outras formas de sustento.

O projeto de mitigação de desastres e de adaptação à mudança climática financiado pela União Europeia complementa os esforços da Nepa para dar um valor econômico aos ecossistemas e melhorar a coleta de dados para contribuir com o planejamento relacionado à mudança climática. “Instalamos registradores de dados para ter informação sobre a temperatura da superfície do mar, entre outras coisas”, detalhou Donaldson. “Revisamos os arrecifes de coral de forma regular, mas não posso afirmar que as mudanças que vemos sejam produto da mudança climática”, alertou.

Os dispositivos de coleta de dados da Nepa ajudarão o centro de informação vinculado ao Convênio sobre a Diversidade Biológica Clearing House Mechanism (CHM) da Jamaica, fornecendo informações úteis para o estudo do impacto do aquecimento global sobre seus amplos registros de plantas e animais, que não estão atualizados, explicou o biólogo Keron Campbell. O Museu de História Natural, do Instituto da Jamaica, dentro do qual está o CHM, tem registradas 110 mil espécies zoológicas e 130 mil no herbário desde a década de 1870.

“Estamos atualizando os inventários de espécies de flora e fauna, o que é necessário para registrar todas as mudanças”, afirmou Campbell à IPS, acrescentando que os coletores de dados, além dos estudos de campo e da informação sobre as mudanças de temperatura detectados pelo serviço meteorológico, darão detalhes valiosos para planejar a adaptação. O informe do SOE indica mudanças na área protegida de Portland Bight, a maior da ilha e único habitat conhecido da iguana jamaicana.

Byron Wilson, diretor do programa iguana da Universidade das Índias Ocidentais disse que a sobrevivência do réptil se deve principalmente ao afastamento de seu habitat. Ao fracassar a tentativa de construir uma colônia em uma ilhota, as montanhas de Hellshire permanecem como o entorno natural mais importante. Entretanto, o desenvolvimento deixou essa área mais acessível. De fato, foi um caçador que redescobriu a iguana, que era considerada extinta há mais de 30 anos.

A preparação da Jamaica para enfrentar a mudança climática começou em 1997 com o Planejamento Caribenho para a Adaptação à Mudança Climática Global, no contexto da Comunidade do Caribe (Caricom). Envolverde/IPS