Cada vez maior, lixo espacial põe satélites em risco

Satélites de observação terrestre podem parar de funcionar – ou porque acabou o combustível ou porque foram atingidos por detritos espaciais, como, por exemplo, peças de dispositivos fora de uso ou perdidos. No espaço, as chances de que colisões são grandes por causa do lixo espacial. Por esse motivo, especialistas de todo o mundo se encontraram esta semana na Agência Espacial Europeia (ESA), na cidade alemã de Darmstadt, para a sexta conferência mundial sobre lixo espacial. Durante quatro dias, eles discutiram estratégias para combater o volume crescente de entulhos em torno da Terra.

Foto: Keithfiore/Flickr

Em fevereiro de 2009, pela primeira vez na história da exploração do espaço, dois satélites ainda intactos colidiram em órbita. O Iridium-33 e o Kosmos-2251, satélites comerciais das potências espaciais EUA e Rússia, chocaram-se enquanto sobrevoavam a Sibéria, a uma altura de 790 quilômetros.

“Era realmente de se esperar que isso acontecesse um dia”, disse Heiner Klinkrad, chefe do departamento de lixo espacial da ESA. Pois cada missão no espaço também deixa lixo para trás – desde chaves de fenda perdidas até destroços inteiros de satélite, passando por motores de foguetes descartados. Tudo isso está incluído no conceito de lixo espacial, explicam Klinkrad e Frank-Jürgen Diekmann, chefe da missão dos satélites de observação Envisat.

“São principalmente as peças maiores que causam problemas a longo prazo”, diz Klinkrad. Pois elas podem provocar reações em cadeia, ou seja, colisões catastróficas de satélites que ameaçam, por sua vez, outros satélites. Mas até mesmo pequenos destroços podem ser perigosos, observa o especialista. “Se um satélite é atingido por um objeto de um centímetro, podemos partir do princípio que encerrou sua função.” O impacto tem a força da explosão de uma granada de mão.

Lista pouco popular

No catálogo da rede norte-americana de observação espacial Space Surveillance Network estão listados 13 mil destroços espaciais de grande porte. Segundo estimativas, o número de objetos inferiores a um centímetro pode chegar a mais de 700 mil. A maioria dos fragmentos provém de explosões. Surge então, para o leigo, a pergunta se, algum dia, toda essa montanha de lixo também poderá nos atingir.

Balançando a cabeça, Diekmann responde: “A probabilidade de que algo chegue até aqui embaixo sem ter se consumido em chamas ao entrar na atmosfera não é igual a zero, mas é muito, muito pequena.”

Então, por enquanto não há que se contar com uma chuva de restos de satélite ou foguete. Ainda assim, de acordo com os cálculos de Klinkrad, a cada semana pelo menos dois “gigantes” de um metro conseguem penetrar a atmosfera terrestre. A atenção dos pesquisadores, no entanto, concentra-se na proteção dos satélites de maior custo.

Desde 1957, mais de 6 mil satélites foram lançados no espaço, dos quais cerca de mil estão atualmente em funcionamento para fins de pesquisa, militares ou telecomunicações. “Pelo que se sabe, apenas cerca de 6% a 7% de todos os objetos lá em cima são satélites em operação”, diz Klinkrad.

Para se evitar colisões com um dos satélites europeus de pesquisa, muitos cálculos são realizados no centro de controle de Darmstadt: as órbitas dos satélites são cotejadas com o catálogo de detritos do serviço norte-americano de observação. Disso resulta um calendário de riscos com uma semana de antecedência, por meio do qual se planejam manobras de desvio.

Podendo ver toda a sucata

Contudo, esse calendário possui lacunas, já que para acompanhar todos os destroços localizados entre 260 e 36 mil quilômetros acima da superfície terrestre exige-se mais do que o domínio do cálculo. Também é preciso décadas de know-how e sofisticados radares de medição, e somente os pioneiros espaciais EUA e Rússia dispõem de ambas as coisas na medida necessária. Também por esse motivo, os viajantes espaciais europeus sonham com um sistema próprio de vigilância do lixo espacial, comenta Klinkrad. “Sem esse know-how, não é possível realizar manobras de desvio confiáveis com nossos satélites.”

Por mais de 20 anos, a ESA vem se ocupando do tema. Mas somente há pouco tempo a organização composta por 18 associações europeias passou a abordar a questão também do ponto de vista político. Já em breve serão desenvolvidos os primeiros componentes para um sistema próprio de observação. Mas levará anos até a ESA poder realizar previsões tão exatas como as dos norte-americanos e russos. E pelo menos até lá todo operação espacial de resgate permanecerá um risco.

A maioria das manobras é realizada para proteger os satélites de objetos de um centímetro voando em sua direção. Mas cada mudança de órbita custa combustível, o que pode encurtar consideravelmente o tempo de vida útil da atual geração de satélites (10 a 12 anos). Em março de 2009, a própria Estação Espacial Internacional (ISS) teve de ser girada em 180 graus. A manobra demorou várias horas e foi motivada pelos destroços de um satélite meteorológico chinês, que se aproximavam perigosamente da estação tripulada.

Brincadeira espacial com consequências

A origem dos destroços foi um teste realizado pela China, nação que ainda engatinha na era espacial. Sem querer, em 11 de janeiro de 2007, os chineses prejudicaram a segurança espacial ao destruir em grande altura um de seus satélites com um míssil de médio alcance. As razões para tal ainda são desconhecidas: “Esse tiro ocorreu a cerca de 862 quilômetros de altura e resultou até hoje num total de cerca de 2.300 fragmentos”, diz Klinkrad. A partir disso, ele deduz que 20% a 30% de todos os objetos que atualmente põem em risco os satélites provêm desse incidente.

Cooperações internacionais tentam agora pôr um ponto final em tudo isso: 11 nações espaciais se reuniram no Comitê de Coordenação de Destroços Espaciais entre Agências (IADC, na sigla em inglês). O lixo espacial une, comenta Klinkrad. “Não adianta manter em segredo coisas que acabarão caindo sobre a própria cabeça.” Ele vê com ceticismo a atual falta de legislação no espaço sideral. “No momento, ninguém proíbe ninguém de lançar o seu satélite – fora a própria sensatez, eu diria.”

E como se livrar da sucata de satélites? Para a eliminação de satélites duas estratégias estão atualmente em uso. Se sua órbita for próxima à Terra, então é possível uma queda controlada. Quanto mais um satélite se aproxima da atmosfera terrestre, mais é freado pela resistência do ar. “É possível cortar o combustível e fazer baixar o satélite, de forma que ele é apanhado pela atmosfera e se incendeia”, explica Klinkrad.

Esse método não é praticável para os numerosos satélites que giram em órbita geoestacionária, a 35.786 quilômetros da Terra. Como uma queda controlada seria muito dispendiosa, essas maravilhas da comunicação são catapultadas para ainda mais longe, explica Klinkrad: “Retira-se o satélite desativado do anel geoestacionário para uma assim chamada órbita-cemitério.” Ela se encontra a cerca de 300 quilômetros acima da principal rota de circulação de satélites. Até hoje, pelo menos mil objetos foram enterrados – ou estacionados – ali.

Klinkrad e Diekmann conseguem imaginar a criação de uma espécie de serviço de reboque espacial. Mas algo assim ainda está muito distante. Para Klinkrad, no entanto, isso não é motivo de preocupação: “Eu provavelmente não dormiria tranquilo, se estivesse num satélite. Mas aqui na Terra, ainda dá”.

* Publicado originalmente no site Carta Capital.