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Córrego de vazamento de petróleo em águas brasileiras

Rio de Janeiro, Brasil, 2/2/2012 – O vazamento de 160 barris de petróleo de uma plataforma de exploração marítima em camadas profundas diante da costa do Brasil aumenta os temores sobre a segurança desta nova fronteira de produção petroleira.

O vazamento, segundo a Petrobras, é pequeno em termos de volume e teve origem no rompimento de uma coluna de produção do navio-plataforma de produção e armazenamento Dynamic Producer, que realizava testes de extração no poço Carioca.

O vazamento aconteceu 300 quilômetros mar adentro do território do Estado de São Paulo, a 2.140 metros de profundidade no oceano Atlântico, na baía de Santos, e não tem possibilidade de chegar à costa, afirmou um comunicado da Petrobras. O poço “está fechado e em condições seguras”, acrescentou.

O petróleo submarino nessa profundidade é conhecido como pré-sal, uma série de rochas ricas em hidrocarbonos e localizadas debaixo de uma grossa camada de sal, que pode estar até sete mil metros abaixo do nível do mar.

“Depois do rompimento, o sistema de segurança fechou automaticamente o poço. Imediatamente foi ativado o plano de emergência e mobilizados todos os recursos necessários para a retirada do óleo no mar e do petróleo residual da parte superior da coluna”, diz o texto da empresa.

Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, o problema “não é se foi grave”, mas que “deixou mais claro para o governo e a sociedade brasileira algo que parece óbvio, mas não é, o petróleo vaze e é uma atividade de risco”.

“É a primeira vez que ocorre um vazamento no pré-sal. É um sinal de alerta a mais para que sejam adotadas políticas para prevenir e mitigar acidentes, para que avaliemos se temos a legislação adequada, se os órgãos responsáveis por seu controle estão preparados e para criar um centro de fiscalização de vazamentos”, disse Pires à IPS.

Com a descoberta de jazidas de petróleo no pré-sal em 2007, definidas como “uma nova fronteira de exploração petroleira”, pela Petrobras, o Brasil espera se converter em uma potência energética. Estima-se que essas reservas tenham potencial de pelo menos 50 bilhões de barris (de 159 litros) de petróleo.

Leandra Gonçalves, coordenadora da campanha Clima e Energia da organização Greenpeace no Brasil, teme que o incidente, detectado no dia 31, seja apenas uma mostra de um futuro de “praias cobertas de óleo devido à falta de segurança na exploração”. Ela disse à IPS que o governo ainda não colocou na mesa a agenda para discutir um plano de emergência para possíveis vazamentos.

Esse plano interministerial oi anunciado com toda ênfase em 2010, depois do acidente no Golfo do México que em abril desse ano causou um enorme vazamento de cinco milhões de barris de petróleo. Como mais de 90% da exploração brasileira de petróleo estão no mar, o plano tinha a finalidade de reforçar a segurança das operações marinhas, especialmente na perfuração. Mas, segundo Leandra, “nunca saiu do papel”.

O Greenpeace critica o governo por investir em uma tecnologia tão cara com a exigida no pré-sal, quando o país “tem a possibilidade de desenvolver 100% de fontes energéticas limpas”, como eólica, solar e biomassa. “O governo tem de ter a garantia de que há uma estrutura suficiente para explorar as reservas do pré-sal, e buscar outras alternativas mais baratas com fontes renováveis”, ressaltou.

Segundo Pires, na medida em que se perfura mais fundo no mar, a probabilidade de vazamentos aumenta. Por isso as autoridades devem cobrar das empresas estatais e privadas que reduzam “a brecha entre a tecnologia de produção e a de prevenção de acidentes”, esta última comparativamente “muito atrasada”, disse.

O acidente aconteceu poucos dias depois de a empresa Transpetro, subsidiária da Petrobras, ter sido responsável pelo vazamento de 1.200 litros de petróleo no litoral do Rio Grande do Sul, durante a transferência do óleo para um terminal. A mancha chegou à praia.

Em novembro, a empresa norte-americana Chevron deixou vazar 2.400 barris de óleo em seu campo do Frade, diante da costa do Estado do Rio de Janeiro.

O engenheiro e especialista em estruturas oceânicas Segen Estefen, diretor de tecnologia e inovação do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, alerta que as reservas do pré-sal “representam para o Brasil uma riqueza à qual não pode renunciar. Mas, ao mesmo tempo, temos de proteger o meio ambiente. Esse é o grande desafio, produzir pré-sal com segurança e um nível de excelência em proteção ambiental”.

Com as novas jazidas, em 15 anos o país triplicará sua produção de petróleo no mar, disse Estefen. Para alcançar essa excelência, o Coppe está em conversações como o Ministério da Ciência e Tecnologia para criar um centro de controle e segurança contra acidentes no mar.

Estefen explicou que o Brasil é líder em tecnologia de exploração e produção em águas profundas e que, por isso, nas jazidas do pré-sal “não se está fazendo atualmente nada temerário”. Mas, é preciso “buscar melhorar continuamente nossos procedimentos para minimizar vazamentos e combatê-los o mais rápido possível”.

“O nível de atividade aumentará, e a fronteira é mais desafiadora porque trabalharemos mais distante da costa, em profundidades maiores e as condições de perfuração vão demorar mais”, explicou Estefen.

O centro proposto pelo Coppe, que possui uma série de laboratórios de alto nível em matéria de petróleo, tem por objetivo elevar a proteção com procedimentos que incluem desde vigilância via satélite (já desenvolvida) até acompanhamento contínuo no mar para detectar vazamentos.

Também se buscará determinar as causas desses acidentes, “que implicam vários cenários possíveis”, e otimizar os procedimentos para deter vazamentos e determinar para onde se dirigem as manchas de óleo. “Temos de trabalhar para aumentar a segurança dos equipamentos e das operações”, ressaltou Estefen. Envolverde/IPS