IPCC lança primeira parte de novo relatório em setembro

Publicação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas levará em conta a relação entre as florestas e o clima, prometendo dados mais realistas e sofisticados.

A reunião entre especialistas para a divulgação oficial da primeira parte (17 capítulos) do novo compilado de pesquisas do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) acontecerá no dia 25 de setembro, em Estocolmo, na Suécia. Ao todo, o documento terá 2.600 páginas e será composto por estudos destrinchados em 30 capítulos. Diferentemente do que ocorreu na primeira versão do relatório, elaborada em 2007, desta vez os novos modelos de estudos prometem expor dados que levam em conta a relação entre os ciclos de carbono, as florestas e o clima.

Os dados foram adiantados por Paulo Eduardo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) e representante da comunidade científica no Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). Marcos Buckeridge, biólogo e professor do Instituto de Biociências da USP, completa as informações. Ele foi indicado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia como pesquisador responsável pela elaboração de um dos capítulos do segundo grupo de pesquisas que irão constar na nova compilação. Buckeridge explica que um relatório do IPCC demora quatro anos para ficar pronto devido a processos burocráticos.

Segundo ele, antes de serem divulgadas, as partes do documento passam por vistorias feitas por outros cientistas e, depois, por representantes políticos. “Tem capítulos de rascunhos que chegam a ter 2 mil questionamentos [após passar pelo processo de vistoria]”, conta. A divulgação do relatório se dá após essas etapas, em três momentos, que estão relacionados aos vieses dos grupos de estudos que formam o compilado: 1) Quais são os impactos ambientais causados pelas mudanças climáticas; 2) O que são e em que se baseiam aos estudos sobre esses impactos e 3) Quais as soluções possíveis frente às transformações climáticas. Portanto, no dia 25 de setembro, a reunião entre especialistas em Estocolmo, anunciada por Artaxo, será para a divulgação apenas de estudos sobre os impactos ambientais ocasionados pelas mudanças climáticas.

Novidades e Black Carbon

Uma das novidades que deve estar presente no compilado do IPCC este ano é a abordagem da relação entre as nuvens convectivas e as alterações climáticas. Essas nuvens são caracterizadas por seus movimentos verticais, ocasionados quando uma massa de ar frio se move sobre uma superfície mais quente. O assunto, relacionado com a variação de temperatura do planeta, era praticamente ignorado no antigo documento. “Hoje em dia, as nuvens convectivas são incorporadas em 50% dos modelos. E o papel delas é muito melhor escrito. Essencialmente, nós estamos melhorando a confiabilidade das previsões”, afirma Artaxo.

O físico também está escrevendo um capítulo para o relatório. Seu estudo é sobre a ação da Black Carbon (BC) no sistema climático global. Já Buckeridge não revelou a especificidade de sua abordagem na publicação e nem as datas de divulgação das outras duas partes do documento.

A Fumaça Preta, como a BC é conhecida no Brasil, é formada pela combustão incompleta de combustíveis fósseis, biocombustíveis e biomassa e tem alta capacidade de absorção da luz solar. “O relatório antigo estimava a porção radioativa em 0.3 Watts/m². O novo relatório estima essa porção em 1.1 Watts/m², quase quatro vezes maior do que a medição antiga”, explica Artaxo. Segundo ele, a diferença e a melhoria nos detalhamentos para sua medição evidenciam que os aerossóis estão se tornando mais importantes para o entendimento do sistema climático global.

Pesquisadores do mundo inteiro que colaboram com o IPCC já estão incorporando as principais conclusões de seus recentes estudos em uma plataforma online, a “Incorporancy Maker”. “Para nós o mais importante não é tanto o site, mas sim o relatório em si, porque é lá que está a ciência”, avalia Artaxo. Ele e Buckeridge chamam a atenção para o equívoco da mídia ao tratar o IPCC como uma instituição de pesquisa que divulga a –e não reúne– dados certos ou errados. “Erros fazem parte do método científico. Não existe ciência exata, ela trabalha com incertezas”, diz Artaxo. O professor faz questão de lembrar que o “IPCC não faz ciência, mas sim compila dados científicos da literatura”. “Não tem um estudo que esteja no relatório do IPCC que não tenha passado por nenhuma revista”, completa.

* Reportagem feita com base na conferência “Ecossistema e mudanças climáticas”, ministrada por Paulo Artaxono no Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA-USP), no dia 4/5, e na conferência “Bioenergia e uso adequado de recursos naturais”, ministrada por Marcos Buckeridge também no IEA-USP em 8/6. As exposições foram aulas do 7º Curso de Complementação Universitária – Descobrir a Amazônia; Descobrir-se Repórter, promovido pela Oboré – Projetos Especiais em Comunicações e Artes, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI) e o IEA.

** Mariana Queen Nwabasili é estudante de jornalismo.