Livro Vermelho registra risco de extinção da flora brasileira

 

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Pau-brasil é uma das espécies que correm risco de desaparecer
Foto: mauroguanandi

 

Centro Nacional de Conservação da Flora, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, lança o primeiro Livro Vermelho da Flora do Brasil Publicação científica reúne avaliações sobre o risco de extinção de espécies de plantas no país.

Um dos grandes desafios que os países enfrentam atualmente é o de conhecer sua biodiversidade e avaliar o risco de extinção das espécies nativas de seus territórios, para assim poder planejar as ações de conservação. O Brasil concentra de 11 a 14% da diversidade de plantas do mundo, com quase 44 mil espécies catalogadas e milhares ainda desconhecidas pela ciência. Em nosso país estão localizadas duas das 34 áreas de grande diversidade de espécies com alto risco de extinção (hotspots): Mata Atlântica e Cerrado.

O Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora), criado em 2008 no âmbito da Diretoria de Pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, recebeu a missão de coordenar os esforços nacionais de conservação de plantas. A primeira fase desse trabalho foi avaliar cientificamente 4.617 espécies da flora brasileira já incluídas em listas oficiais de espécies ameaçadas. A meta é que, até 2020, seja concluída a avaliação de risco de extinção de todas as espécies conhecidas de plantas brasileiras.

O resultado dessa primeira fase de avaliação pode ser conferido no “Livro Vermelho da Flora do Brasil”. A publicação representa uma contribuição da comunidade científica para a atualização da “Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção”, que está a cargo do Ministério do Meio Ambiente.

A estratégia adotada pelo CNCFlora para a produção do “Livro Vermelho da Flora do Brasil” consistiu no desenvolvimento de um portal online para a inserção e validação de dados, que permitiu que uma rede de especialistas botânicos compartilhasse informações e participasse da avaliação sem a necessidade de estarem no mesmo local. Em termos de nomenclatura das espécies, a base utilizada foi a “Lista de Espécies da Flora do Brasil” (http://floradobrasil.jbrj.gov.br/). Para a classificação das espécies ameaçadas, a equipe do CNCFlora utilizou o sistema da “Lista Vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza” (UICN) – método mais rigoroso que os anteriormente usados no País. Esse sistema permite que as informações sobre a flora brasileira sejam comparadas às de outras regiões do mundo e incluídas em análises globais de espécies ameaçadas.

“É um privilégio levar à comunidade científica, aos gestores de biodiversidade, tomadores de decisão públicos e privados, especialistas e público interessado, tão importante trabalho e, desde já, como Presidenta da instituição que o produziu, devo agradecer todos os esforços e a colaboração recebidos na sua consecução. Trata-se de um trabalho colaborativo, de grande monta e que mostra a maturidade da nossa comunidade científica”, afirma Samyra Crespo, Presidenta do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

A obra está estruturada em três partes. A primeira reúne capítulos que contextualizam a importância das avaliações de risco de extinção para a conservação de plantas no Brasil e no mundo, e apresenta as metodologias de trabalho e os principais resultados alcançados. A segunda parte é composta por capítulos sobre cada uma das famílias botânicas avaliadas. Cada capítulo apresenta um texto introdutório sobre a família e reúne o resultado das avaliações nacionais de risco de extinção de cada espécie apontada como ameaçada de extinção. A terceira parte do livro reúne material que esclarece aspectos técnicos e facilita o entendimento do leitor sobre a obra. Estão incluídos nesse capítulo o “Sistema de categorias e critérios de risco de extinção” adotado para as avaliações, bem como lista de ameaças, ações de conservação, tabelas de classificação de hábitats e índice remissivo.

“O conjunto da obra oferece ao leitor todo o conteúdo necessário para consultar o risco de extinção de espécies da flora avaliadas”, esclarece Gustavo Martinelli, coordenador do CNCFlora. “Nesse contexto, acreditamos que o livro terá grande utilidade para municiar tomadores de decisão com informações científicas que possam nortear o estabelecimento de prioridades de ação para a conservação de plantas, ou mesmo para direcionar pesquisas científicas que possam preencher lacunas de conhecimento sobre determinados grupos taxonômicos”, conclui.

Mapa do risco de extinção

De um total de 4.617 espécies avaliadas, 2.118 (45,9%) foram classificadas como ameaçadas. Elas se encontram nas categorias Vulnerável (VU), Em Perigo (EN), e Criticamente em Perigo (CR). As restantes entraram nas categorias Menos Preocupante (LC), Deficiente de Dados (DD) e Quase Ameaçada (NT).

O “Livro Vermelho da Flora do Brasil” revela que, do ponto de vista espacial, a maioria das espécies ameaçadas ocorre nos Estados das Regiões Sudeste e Sul. Dentre os Estados, Minas Gerais tem a maior quantidade de espécies em todas as três categorias de risco de extinção (VU, EN e CR). Na sequência, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Bahia encabeçam a lista da flora em risco de extinção.

Mata Atlântica e Cerrado são os dois biomas em que se verificou maior número de espécies ameaçadas, seguidos da Caatinga e dos Pampas. A Amazônia ocupa o quinto lugar do ranking, o que pode ser explicado pela vasta rede de áreas protegidas (38% de seu território), pelas várias regiões de difícil acesso e pelas lacunas de informação sobre suas espécies.

Quanto às espécies avaliadas, o grupo das Pteridófitas (que inclui samambaias, avencas e xaxins, por exemplo) é o mais ameaçado, enquanto o das Briófitas (musgos, entre outros) é proporcionalmente o menos ameaçado. O estudo apontou ainda que a família das bromélias (Bromeliaceae) apresenta o maior número de espécies consideradas “Criticamente em perigo” (CR), seguida das famílias Orchidaceae (orquídeas) e Asteraceae (de que fazem parte, por exemplo, girassóis e margaridas).

A família Asteraceae abriga a maior quantidade de espécies consideradas “Em perigo” (EN), seguida de Bromeliaceae e Orchidaceae. Esta última é também a família com o maior número de espécies consideradas “Vulneráveis” (VU), seguida de Asteraceae e Fabaceae (plantas que dão vagens). Em números absolutos, o gênero Begonia (Begoniaceae) é o que tem mais espécies ameaçadas, no total de 36. Em segundo lugar vem o gênero de bromélias Vriesea, com 35, e o gênero Xyris (Xyridaceae), com 27 espécies ameaçadas.

Principais ameaças

O sistema do CNCFlora contabilizou 5.642 ameaças incidentes sobre a flora brasileira. Dentre elas, 3.400 (60,2%) afetam espécies consideradas em risco de extinção. A perda de hábitat e a degradação são responsáveis por 87,35% (2.970) destas ameaças. A agricultura é a causa primária de perda de hábitat e degradação (36,1%). Infraestrutura e planos de desenvolvimento (23,5%), bem como o uso de recursos naturais (22,3%), também contribuem de forma significativa com esse processo. O fogo causado por pessoas (11%) é igualmente uma fonte de grande preocupação. Os pesquisadores concluíram que as espécies ameaçadas frequentemente se concentram em áreas específicas, onde os altos níveis de endemismo coincidem com altos níveis de risco, sobretudo impactos do uso da terra. Muitas espécies com hábitats e áreas de distribuição similares enfrentam, portanto, ameaças similares.

O uso sustentável da diversidade de plantas em países megadiversos e em desenvolvimento tem potencial para assumir um papel importante no desenvolvimento econômico. Para tanto, crescimento econômico e conservação precisam ter suas metas alinhadas. E as ações de conservação não devem ser vistas como obstáculos ao progresso, mas como a possibilidade de geração de riqueza por meios sustentáveis, e sem prejuízo ao potencial de prestação de serviços existente nos ecossistemas e nos recursos naturais.

– O livro contribuirá para a atualização da “Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção”

– Estudos apontam 2.118 espécies ameaçadas da flora nacional

– Ferramentas tecnológicas, disponibilizadas em um portal online integrado, viabilizaram a criação de um acervo único sobre as espécies em risco de extinção

– Mata Atlântica e Cerrado são os biomas com a maior quantidade de espécies ameaçadas

– Bromeliaceae, Orchidaceae e Asteraceae são as famílias em maior risco

– Perda de hábitat e degradação são as principais ameaças à flora nacional

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* Luciana Gondim é jornalista do CNCFlora-JBRJ. 

** Publicado originalmente no site Eco21.