“Na Barra, as pessoas estão comendo petróleo. É a conferência mais insustentável que existe”, considera Carlo Petrini, fundador do Slow Food

Em meio à crise da Eurozona, o difícil consenso entre representantes de governo e críticas ao documento “O Futuro que Queremos”, a Rio+20 da ONU pretende definir um novo “contrato social” internacional. A participação da sociedade civil no desenvolvimento sustentável é recorrente nos discursos da conferência.

No entanto, a concentração dos movimentos sociais está acontecendo na Cúpula dos Povos, no Flamengo. Em um bate-papo no dia 19, Carlo Petrini, fundador do movimento Slow Food, analisou: “A verdadeira Rio+20 é aqui, onde a comunidade fala em construir. A outra parte é um meeting mundial sem efeito, caríssimo, insustentável, que não chegará em resultado nenhum”.

O Slow Food, nasceu em 1989, na cidade de Bra, na Itália, em resposta à aceleração mercantil do sistema de alimentação e da vida. “Lutamos para reforçar as bases, a união entre os pequenos produtores e as pessoas da cidade, as feiras orgânicas, e a união internacional do nosso movimento”, explicou Petrini.

Convidado ao debate sobre segurança alimentar na Rio+20, no dia 17, Petrini denunciou: “nos últimos 30 anos, alimentos perderam valor virando commodities. A especulação na bolsa mundial causa a destruição ambiental. O neo-colonialismo está roubando a terra dos africanos, promovendo dumping de alimentos geneticamente modificados produzidos na Europa.”

Porém, sua opinião é que a Conferência “na Barra” (da Tijuca) não levará nada a lugar nenhum: “É a conferência de sustentabilidade mais insustentável do mundo. As pessoas estão comendo petróleo. Tem Bob’s, copos plásticos. Aqui, as pessoas são mais verdadeiras”, ele dividiu com o público da Cúpula.

Com tempo tranquilo, Patrini falou: “Esse sistema criminal provoca falta de água, está diminuindo a biodiversidade, não paga o trabalho dos pequenos produtores, desperdiça demais – isto também aqui no Brasil.”

Durante o encontro, parceiros falaram sobre projetos que vem desenvolvendo. Por meio da Terra Madre, rede de alcance mundial, promovem atividades da agricultura, de “artesanato culinário”. No Brasil, o Slow Food já tem 30 convivia, os grupos locais de associados.

Carlo Petrini encorajou o pessoal da Cúpula, “Não se sintam sozinhos, muitos tem o mesmo objetivo. Mas, estas pessoas não estão lá na Barra. Estão no mundo: no campo, nas feiras. Vocês pensam que estão sozinhos. Não estão, estão crescendo.”

E também pontuou a importância em ter a África como referência: “Já conseguimos criar mais de mil hortas orgânicas. Queremos chegar a 20.000, fortalecê-los contra os produtores de bio-energia. A China, a Índia, os Emirados Árabes chegaram lá para produzir alimentos. Estão roubando a terra de muitas comunidades agrícolas”.

Para o fundador do Slow food, sustentabilidade depende do senso de comunidade. “A esperança parte do passo, do pequeno, não dos governos. Vem das pessoas, comunidades que trabalham e fortalecerão o novo paradigma. Este é construído no dia-a-dia, por baixo. Precisa reforçar a base, ampliar a rede. Para isso, é muito importante a participação dos jovens”, ele reiterou.

Portanto, para quem estiver no Rio de Janeiro, no dia 24 de Junho (sábado pela manhã), vale checar a feira orgânica Slow Food, que acontecerá no Jardim botânico. (Veja em http://www.slowfoodbrasil.com/) Segundo Petrini, tanto o diretor da FAO (Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) como o Comissário Europeu da Agricultura estarão presentes. “Eu disse a eles – Vá à Barra, mas venha também à feira dos pequenos produtores. Vocês tem que fortalecer feiras orgânicas, conhecer produtores. Tem que ficar com eles, não com políticos. Eles disseram que irão.”