Obama resiste à pressão da Otan

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Os rebeldes perdem posições na Líbia, apesar do apoio da Otan.
Washington, Estados Unidos, 25/4/2011 – Mesmo quando o conflito na Líbia parece em ponto morto, o governo dos Estados Unidos resiste à crescente pressão de seus aliados para que comprometa mais recursos contra o regime de Muammar Gadafi. Embora Washington não descarte voltar a usar aviões AC-130 e A-10, muito eficazes para acertar artilharia, tanques e equipamentos pesados das forças leais a Gadafi, a administração de Barack Obama deixa claro que não pensa ir além, pelo menos por enquanto.

Consultado na semana passada sobre se Washington considerava seguir o caminho de Grã-Bretanha, França e Itália de enviar assessores militares para trabalhar com as forças rebeldes na proteção de civis, conforme a Resolução 1973 do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, o porta-voz da Casa Branca, Tim Carney, foi inequívoco em sua resposta. “O presidente, obviamente, está a par da decisão dos três países e a apoia, e espera que ela ajude a oposição líbia. No entanto, em nada muda nossa política de não enviar tropas norte-americanas”, acrescentou.

As palavras de Carney parecem reforçar as do vice-presidente, Joseph Biden, que insistiu, em entrevista ao Financial Times, que os aliados de Washington na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) são completamente capazes de cumprir a missão na Líbia sem ajuda adicional norte-americana. “Se o Senhor Todo-Poderoso tirasse os Estados Unidos da Otan e os lançasse no planeta Marte, de onde não poderíamos participar, seria raro a Otan e o resto do mundo não ter capacidade para cuidar da Líbia”, disse Biden.

Tanto a paralisia no conflito na Líbia – onde os rebeldes não podem manter os avanços que conseguiram no terreno e parecem perder controle da cidade de Misurata –, como a incapacidade ou indisposição dos Estados Unidos e de seus aliados europeus para dar um golpe decisivo no regime geram sérias dúvidas sobre como o Ocidente resolverá a crise.

Quando o governo Obama cedeu às súplicas francesas e britânicas para que interviesse com força militar, sua esperança era que uma esmagadora mostra de seu poder aéreo intimidaria o exército líbio e fortaleceria os rebeldes para derrubar Gadafi, um objetivo que Otan e Washington aprovaram apesar de não estar explicitamente autorizado pela resolução da ONU. Porém, apesar de um alto nível de deserções, o regime demonstra ser forte e ter capacidade para adaptar-se.

Por seu lado, as forças rebeldes estão mais desorganizadas e pior equipadas do que pensava o Ocidente. Desde que Washington entregou o comando da operação à Otan, há duas semanas, e limitou seu papel a fazer vigilância e colaborar com combustível, o conflito se converteu em uma guerra de desgaste que, na verdade, pode agravar a crise humanitária, quando a intervenção pretendia aliviá-la.

O resultado no terreno foi a paralisação, bem com uma crescente tensão entre Grã-Bretanha e França, que ficam com a maior carga da operação, enquanto os demais membros da Otan perdem entusiasmo, incluindo Washington. A tensão não está restrita aos membros da Otan, sendo que alguns de seus principais aliados, como Alemanha e Turquia, foram reticentes quanto à operação.

A decisão das três capitais europeias de enviar conselheiros militares à Líbia seguramente seja vista pelo grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) – que pediu uma solução pacífica para a crise – como uma iniciativa que só agravará o conflito. Das nações do Brics, apenas a África do Sul apoiou a resolução da ONU, as demais se abstiveram.

A postura oficial de Obama é que o poderio militar dos Estados Unidos só pode ser usado para cumprir o mandato de proteger civis e que, a esta altura, o Ocidente só deve depender de medidas não militares para conseguir uma mudança de regime na Líbia. Sua negativa diante dos pedidos de Londres e Paris para assumir um papel mais agressivo também está baseada em sua convicção de que a Europa, devido à proximidade com o Norte da África, deve assumir maior responsabilidade por sua vizinhança e deixar de depender tanto dos Estados Unidos. “Não podemos fazer tudo”, disse Biden ao Financial Times.

Os mais altos líderes do Pentágono também haviam resistido à participação dos Estados Unidos na criação de uma “zona de exclusão aérea” sobre a Líbia, e não esconderam seu descontentamento por esta nova intervenção em outro país muçulmano. Não é que Washington esteja se retirando da batalha. Além de seu apoio aéreo, não excluiu um eventual envio de tropas nem o possível fornecimento de armas às forças rebeldes. Além disso, equipes da Agência Central de Inteligência (CIA) estão na Líbia desde março.

Alguns funcionários também confirmaram, no dia 20, que os Estados Unidos previam dar aos rebeldes equipamento não letal no valor de US$ 25 milhões, incluindo uniformes, botas, tendas de campanha, rádios e alimentos. Contudo, a situação atual no terreno provavelmente leve a uma maior pressão sobre Washington, e não apenas dos aliados europeus. Setores neoconservadores e intervencionistas liberais pedem ações mais duras e alertam para graves consequências se a atual situação persistir, desde o fim da chamada Primavera Árabe até a dissolução da Otan.

Inclusive alguns observadores “realistas” que questionaram, ou diretamente se opuseram à intervenção, dizem que o que está em jogo, tanto em termos humanitários como estratégicos, é muito grande para ser ignorado. “Parece que o jogo franco-anglo-norte-americano agora tem muitas possibilidades de fracassar à custa” do povo líbio, disse o respeitado especialista em defesa Anthony Cordesman, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais. Envolverde/IPS