ONU pede mudança no modelo econômico mundial

Relatório do Painel de Alto Nível sobre Sustentabilidade Global afirma que a crescente desigualdade social e as crises financeira e ambiental são um sinal de que é preciso transformar a maneira como funciona a economia

“Povos resilientes, Planeta resiliente: Um futuro que valha a pena escolher” é o nome do resultado final do trabalho do grupo de 22 autoridades, lideradas pelos presidentes da África do Sul e da Finlândia e com a participação de Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente, que pede a erradicação da pobreza, a redução das desigualdades, um consumo mais sustentável, o combate às mudanças climáticas e um maior cuidado com as causas ambientais.

Para alcançar esses objetivos ambiciosos, o painel apresentou 56 recomendações sobre como colocar em prática o conceito de desenvolvimento sustentável, integrando-o nas políticas econômicas e na realidade das empresas o mais rápido possível.

“Tendo em conta a possibilidade de o mundo se afundar ainda mais em uma depressão, os políticos estão necessitados de ideias que os possam ajudar a navegar nestes tempos difíceis,” disse Jacob Zuma, presidente da África do Sul. “O nosso relatório deixa claro que o desenvolvimento sustentável é mais importante do que nunca, em virtude das múltiplas crises em que o mundo está envolvido.”

Entre as recomendações do relatório estão:

– A mensuração dos custos das ações para mitigar as mudanças climáticas e de preservação ambiental, assim como dos prejuízos decorrentes da falta de iniciativa para lidar com essas questões. Essas informações devem ser claras e de conhecimento público;

– Os rótulos dos produtos devem conter dados sobre o seu impacto ambiental, permitindo que os consumidores tomem decisões mais conscientes;

– Com o apoio da ONU, os governos devem adotar indicadores de desempenho econômico que vão além do simples PIB e que meçam a sustentabilidade das economias dos países;

– Subsídios que prejudicam a integridade ambiental devem acabar até 2020. A ONU estima que os governos gastem mais de US$ 400 bilhões ao ano em ajuda para a indústria dos combustíveis fósseis.

– Novos objetivos devem ser estabelecidos para garantir o acesso universal à energia sustentável até 2030;

– Os governos devem considerar a criação de um fundo global para a educação, para já em 2015 conseguir o acesso universal à educação primária.

Ao receber o relatório do painel, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, declarou que o desenvolvimento sustentável é uma prioridade máxima para o seu segundo mandato. “Precisamos determinar uma rota mais sustentável para o futuro, uma rota que reforce a igualdade e o crescimento econômico ao mesmo tempo proteja o planeta.”

Rio+20

Os objetivos sugeridos pelo Painel de Alto Nível sobre Sustentabilidade Global não se diferem muito do que a presidente Dilma Rousseff chama de metas de desenvolvimento sustentável.  No Fórum Social Temático, em Porto Alegre na semana passada, Dilma defendeu a criação delas como uma das missões da Rio+20, em junho.

“A Rio+20 deve ser um momento importante de um processo de renovação de ideias, diferentemente das COP. Queremos que a palavra desenvolvimento apareça, de agora em diante, sempre associada à [palavra] sustentável. A tarefa que nos impõe esse fórum e a Rio+20 é desencadear o desenvolvimento, a renovação de ideias e de novos progressos absolutamente necessários para enfrentar os dias difíceis que hoje vive ampla parte da humanidade”, afirmou a presidente.

A primeira reunião preparatória para a Rio+20 terminou na última sexta-feira (27) em Nova York e permitiu que representantes de países e da sociedade civil fizessem comentários sobre o documento base das negociações da conferência, batizado como “rascunho zero” (Zero Draft).

O documento foi elaborado com base em mais de 6.000 páginas de sugestões recebidas nas consultas prévias e submetido ao processo de negociação consensual da ONU, e pode ser considerado a pauta de trabalho da Rio+20.

Assim como o “Povos resilientes, Planeta resiliente: Um futuro que valha a pena escolher”, o “rascunho zero” deixa claro que a iniciativa privada precisa mudar seus conceitos para poder contribuir para o desenvolvimento sustentável.

“O setor privado é responsável pela imensa maioria dos produtos e serviços utilizados todos os dias e apenas com o engajamento das empresas será possível alcançar qualquer meta de sustentabilidade que venha a ser criada”, escreveu Kris Gopalakrishnan, presidente da Ação Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (BASD, em inglês), em um artigo para o jornal The Guardian.

Segundo Gopalakrishnan, a transição para a economia verde deve ser uma responsabilidade dividida entre toda a sociedade.

“Empresas podem possuir um papel na construção do conhecimento e das técnicas necessárias para essa mudança na forma de fazer negócios. Porém, os governos devem estabelecer condições legais e políticas para possibilitar que as companhias atuem”, concluiu.

* Publicado originalmente no site do CarbonoBrasil.