Arquivo

Progressos para a segurança alimentar

Um crescente número de países africanos avança na erradicação da pobreza e da fome extremas. Foto: Zahira Kharsany/IPS

Nairóbi, Quênia, 23/1/2012 – Uma ampla região da África consegue significativos avanços na luta para erradicar a fome e a pobreza extremas. Gana, Libéria, Malawi, Ruanda, Serra Leoa e África do Sul são algumas das nações destacadas no tema. Isto ficou evidente em um sistema de pontuação para medir a segurança alimentar na África, elaborado pela ActionAid International (www.actionaid.org/?intl), organização não governamental que trabalha contra a pobreza. Os resultados coincidiram com os de uma pesquisa da Associação para Operações Cooperativas de Pesquisa e Desenvolvimento (Acord, www.acord.org/Pages/default.aspx), considerada uma autoridade em temas de segurança alimentar na África.

Em Gana, o conjunto de pessoas com insegurança alimentar caiu nos últimos 15 anos de 34% para 8%. Um programa de alimentação escolar nesse país da África ocidental beneficia um milhão de crianças, segundo o Ministério da Agricultura. Desde que a longa guerra civil que terminou em 2002, Serra Leoa aumentou drasticamente sua terra cultivável para cerca de 1,8 milhão de hectares, o que teve como consequência uma redução da porcentagem de pessoas famintas, até ficar em cerca de 10% da população, segundo o governo desse país.

A agricultura, como em muitas nações africanas, é a base da economia de Ruanda. De acordo com o Ministério de Agricultura e Recursos Animais, o setor gera 45% da renda com exportação e 90% de todos os alimentos consumidos. “Nos últimos cinco anos, o setor agrícola de Ruanda cresceu em média 4,5%, contribuindo com estimados 36% do produto interno bruto, a maior porcentagem da África oriental”, disse o analista de mercados George Nderi, em Nairóbi.

Nderi também apontou que o setor agrícola contribuiu com 24% do PIB tanto no Quênia como em Uganda, enquanto na Tanzânia respondeu por 25%. Segundo o Banco Mundial, a economia de Ruanda cresce ao ritmo de 7,8%, dois pontos percentuais a mais do que a expansão total da Comunidade Africana Oriental. “É imperativo assinalar que alguns países propensos à seca também reduziram o número de pessoas com insegurança alimentar. Na Etiópia, por exemplo, o número de pessoas com insegurança alimentar caiu no último ano, de 5,2 milhões para 3,2 milhões, reduzindo a desnutrição em 32%”, destacou Nderi.

Segundo a Pesquisa Etíope Demográfica e de Saúde 2011, as mortes de crianças menores de cinco anos chegavam a 20% em 1990, mas caíram para 8,8% no ano passado. A desnutrição era a causa de pelo menos metade desses falecimentos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Amos Kiptanui, pequeno agricultor na Província do Vale do Rift, região mais produtiva do Quênia, considerou que os avanços eram consequência dos compromissos financeiros e políticos para erradicar a fome e a desnutrição.

“Ruanda foi o primeiro país africano a assinar o Programa para o Completo Desenvolvimento Agrícola da África (CAADP). O país também duplicou seus gastos em agricultura para elevá-los à meta de 10%” do PIB, estabelecida nesse plano, contou. “As nações africanas que conseguiram progressos para alimentar adequadamente sua população o fizeram principalmente investindo nos pequenos produtores, que respondem por mais de 90% da produção agrícola”, disse Nancy Mumbi, pesquisadora agrícola na Província Central do Quênia.

Mumbi acrescentou que em 2011 o governo de Ruanda comprometeu US$ 5 milhões extras para o setor agrícola. “Com um orçamento agrícola total de pelo menos US$ 112 milhões, estes recursos continuam beneficiando os produtores ruandeses por meio de subsídios para insumos como fertilizantes, e capacitação em tecnologias modernas que podem melhorar a produção. Na verdade, existe um programa governamental para impulsionar o uso da agricultura”, ressaltou.

Outros países que melhoraram seus investimentos em agricultura são Serra leoa, Quênia e Malawi. Desde 2005, Malawi se esforça para destinar pelo menos 10% de seu orçamento anual ao setor agrícola. A destinação orçamentária do Quênia para agricultura passou de insignificantes 4% no ano fiscal anterior, para os atuais 9%. Está a um ponto percentual de cumprir a meta da CAADP.

O êxito de Gana na segurança alimentar é atribuído ao longo compromisso do país com a agricultura. “Como em Ruanda, em Gana existe um projeto para subsidiar fertilizantes que permite aos produtores restaurar o solo esgotado pelo mau uso das terras cultiváveis”, esclareceu Mumbi. “Os países que melhoraram seus níveis de segurança alimentar são os que protegeram a terra da degradação causada por diversos fatores, como uso excessivo de químicos orgânicos, incêndios, desmatamento e pastoreio em excesso”, comentou Mumbi.

Outros países que dão passos concretos para a segurança alimentar são Argélia, Botsuana, Egito, Gabão, Marrocos e Tunísia. Contudo, ainda há muito por fazer, disse o diretor-executivo da Acord, Ousainou Ngum. “Os países africanos devem reordenar suas políticas de investimentos para se concentrar na produção alimentar. A crise de alimentos que afeta o continente se deve à incoerência das políticas. Se os líderes não as coordenarem bem, milhões continuarão morrendo de fome”, alertou. Envolverde/IPS