"Somos sustentáveis por questão de necessidade", destaca dono das Conservas Linken

A Conservas Linken conta com equipe de dez funcionários, apoia 85 agricultores familiares e evita que centenas de vidros sejam descartados em lixões e na natureza. Foto: Rodrigo Lorenzon
A Conservas Linken conta com equipe de dez funcionários, apoia 85 agricultores familiares e evita que centenas de vidros sejam descartados em lixões e na natureza. Foto: Rodrigo Lorenzon

 

Quem diz que os pequenos negócios não combinam com a sustentabilidade, ainda mais quando encontram-se distantes dos grandes centros urbanos, precisa conhecer a história da Conservas Linken, uma micro empresa do norte de Minas que produz alimentos em conserva, é parceira de agricultores familiares e implanta logística reversa de vidros em Januária. O case de sucesso foi apresentado nesta quarta-feira, 30 de julho, durante o quarto Seminário Sebrae de Sustentabilidade, em Cuiabá.

Fundada em Janaúba no final de 1999, a empresa nasceu de uma crise financeira enfrentada pela família Linck Warken. Para sair dela, dona Isabel, a mãe, começou a produzir conservas de hortaliças, baseadas em receita antiga passada entre gerações. O produto que fazia sucesso com as visitas criou clientela, salvou a família e conquistou mercado. O nome da empresa é a soma da primeira e última sílabas dos dois sobrenomes.

A ausência de conservantes químicos nas Conservas Linken, a parceria com agricultores familiares, que fornecem hortaliças frescas, e o sistema de logística reversa dos vidros, utilizados para envasar os deliciosos alimentos, são alguns diferenciais da pequena e exemplar empresa sustentável do norte de Minas. A garra da família também, pois sem ela nada teria acontecido.

Hoje, a Conservas Linken conta com equipe de dez funcionários, apoia 85 agricultores familiares, evita que centenas de vidros sejam descartados em lixões e na natureza, comercializa seus produtos em todas as regiões brasileiras e está prestes a começar a exportar.

Como um todo

No final de 2012, foi um dos seis destaques finais do Prêmio Sebrae MG de Práticas Sustentáveis 2012. “ Depois da premiação, as vendas cresceram 30%, os contatos aumentaram e gerou imagem positiva para a marca. Ser reconhecido é muito bom”, comemora Felipe Warken, o segundo filho da família e administrador da empresa. “Ser sustentável é enxergar o negócio como um todo. O empresário deve enxergar o negócio como um ciclo, senão nada funciona, inclusive o lucro não chega”, aconselha o jovem empresário.

O carro-chefe do empreendimento é a pimenta biquinho, que conquistou recentemente um cliente alemão, e deverá inserir a Linken na pauta de exportações brasileiras. A empresa também produz conservas de pepino, mini milho, batatinha, cebola, mini quiabo, mini jiló, tomate seco, pequi, alho, outros tipos de pimenta (dedo de moça, malagueta, cumari, bode, jalapeña), entre outros.

O sucesso das Conservas Linken se deve a vários fatores. O principal deles é a receita de família, segundo Felipe. “A salmora que usamos é nosso segredo guardado a sete chaves”, diz ele. As hortaliças colhidas no campo e o fato de serem envasadas em 24 horas e sem conservantes químicos, é outro. “Não passa pelo processo de pré-conservação como ocorre com os produtos industrializados. Assim conseguimos manter o sabor original das hortaliças. Os conservantes que usamos são sal e vinagre”, revela.

Parceria

Outro diferencial destacado pelo empresário é a parceria com os pequenos produtores agrícolas. A família Linck Warken trabalhou na agricultura, durante anos. Apoiar os agricultores familiares faz parte dos princípios da empresa. A Linken fornece adubo, sementes e aragem do solo nas duas primeiras colheitas. “Como aconteceu conosco, o agricultor nasce quebrado. Conhecemos essa realidade. Fizemos a empresa sem contar com crédito”, ressalta Felipe.

As verduras e legumes são semiorgânicos, informa. Compostos orgânicos, esterco e alguns inseticidas são usados no cultivo das hortaliças. Ainda não é possível produzi-los totalmente orgânicos, acrescenta. No início, o empreendimento contava com poucos parceiros no campo, que acreditaram no trabalho da família. Atualmente, 85 agricultores familiares fornecem a matéria-prima, informa o empresário orgulhoso. “Meu pai sempre acreditou em cooperativismo. É o que estamos fazendo. Estamos crescendo juntos ”, acrescenta.

A sede de 300 m² é alugada e a meta é comprá-la. “Nossa linha de produção é japonesa”, diz ele brincando. No momento, a produção é de 1,5 mil unidades/ dia.

Logística reversa

Os vidros utilizados no envasamento das Conservas Linken são adquiridos de uma empresa paulista que faz coleta seletiva. “Sai 50% mais barato do que comprar vidros novos”, argumenta Felipe. A empresa promove logística reversa como as cervejarias fazem, compara ele. O empreendimento compra vidros de 300 ml por R$ 0,25/cada e de 2k por R$ 1,50 para reutilização. “Até cliente traz vidro a nossa porta e descontamos a diferença no produto”, explica.

“Somos sustentáveis por necessidade. Estamos longe dos insumos, como tampas e potes, ou seja, um problema de logística – fui obrigado a me adaptar ao meio em que estava. A reciclagem do vidro e das embalagens de papelão, portanto, é fundamental”, acrescenta o empresário, que conclui: “a sustentabilidade precisa ser vivida pelos empreendedores, entrar na vida deles, porque a tentação de fazer o mais fácil e só pensar em si é muito grande.”

Assista ao vídeo sobre a Conservas Linken:

* O repórter viajou a convite do Centro Sebrae de Sustentabilidade.

** Publicado originalmente no site EcoD.