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Twittar contra o crime

Nakuru, Quênia, 6/2/2012 – Armado com 140 caracteres ou menos, o chefe da comunidade queniana de Lanet Umoja, Francis Kariuki, se vale da rede social Twitter para combater o crime aqui e em outras aldeias da região. “Coloquei o crime e as atividades ilegais sob controle. Até maio de 2011, este lugar era muito perigoso. Antes havia diariamente roubo de carro, assaltos e roubos. Agora, não”, acrescentou.

Kariuki, oriundo de Lanet Umoja, uma área semiurbana no condado de Nakuru, província do Vale do Rift, começou a usar o Twitter em maio passado, quando o especialista local em tecnologias da informação, Njoha Gathua, criou uma conta para ele nessa rede social. Foi uma ideia inovadora, porque até agora Lanet Umoja é a única zona semiurbana deste país do leste africano que usa este meio social para combater o crime.

Gathua disse à IPS que queria ajudar a comunidade a reduzir os crimes, por isso ensinou o chefe e seus ajudantes a usar esta ferramenta gratuita de mensagens instantâneas que obriga seus usuários usarem no máximo 140 caracteres. “O Twitter é bom para transmitir mensagem às massas”, disse Gathua. Contudo, enquanto a maioria da população e as empresas do mundo o usam para manter contato com amigos, seguir produtos do mercado e passar informações, Kariuki o emprega para alertar sua comunidade sobre os crimes.

Através da conta http://twitter.com/chiefkariuki, ele envia mensagem para cerca de 15 mil dos 28 mil habitantes de Lanet Umoja. Entre eles há idosos, líderes da comunidade e da igreja, policiais, organizações de mulheres e de jovens, diretores de escolas. Quando há um incidente, as vítimas ou testemunhas enviam mensagens de texto ao chefe, descrevendo o ocorrido e o local. Depois o chefe transmite suas instruções à comunidade pelo Twitter. Embora em Nakuru nem todos tenham celular 3G, muitos simplesmente assinam para seguir Kariuki no Twitter por meio de seus provedores de serviços locais, e recebem seus “twitts” como mensagem de texto.

Quando o chefe envia uma mensagem, em questão de segundos toda a localidade entra em ação seguindo suas orientações. “Se a mensagem é sobre um roubo, saímos em um bom número. Enquanto alguns vão para o local do crime, outros bloqueiam as rotas de fuga, especialmente em casos de roubo de carros e de gado”, disse David Waweru, um idoso da aldeia.
As mensagens, que são em swahili ou inglês, são curtas e diretas. Em novembro de 2011, uma mensagem informava, em swahili: “há um homem em uma latrina de poço na aldeia Umoja 2. Falamos com ele, mas não respondeu”. O chefe conduziu seu pessoal à ação, e trabalharam a noite toda para encontra e libertar o homem. “Não sabíamos nem seu nome nem em qual latrina estava”, contou à IPS.

Cinco horas depois, o chefe twittou: “O encontramos vivo. Obrigado”. John Muiru havia caído à noite em uma inutilizada latrina de poço de quase sete metros de profundidade, e chamou um ancião da aldeia para que o ajudasse. Ao trabalhar unida, às vezes a comunidade pode resolver casos mais rapidamente do que a policia.

No ano passado, foi denunciado o roubo de um carro às 17h10, e ele foi encontrado 50 minutos depois da meia noite. Em outra ocasião, foi informado às 4h um roubo de gado em uma fazenda da região e os animais foram encontrados com a ajuda da comunidade quatro horas mais tarde. E, quando um menino pequeno desapareceu ao voltar da escola às 20h04, meia hora depois foi encontrado. Se perdera na escuridão.

“Há dez meses, a aldeia de Lanet Umoja 2 era uma área de exclusão a partir das 18h30. Contudo, desde que o chefe começou a usar o Twitter, não temos problemas”, disse Geoffrey Mbuthia, morador do lugar. Kariuki também usa o Twitter para convocar reuniões e fazer anúncios sobre o Kazi kwa Vijana, um projeto do governo para criar empregos para os jovens. Também envia mensagens espirituais aos membros da comunidade.

O chefe destacou que, apesar de reduzir os crimes em sua comunidade, ainda tem desafios pela frente. Alguns dos delinquentes também o seguem no Twitter e recebem seus alertas, e assim ficam sabendo se a comunidade se mobiliza para solucionar o incidente.

Diretor do campus de Nakuru na Universidade Kenyatta, James Gatoto, disse à IPS que Kariuki usa o Twitter de modo inovador. “É uma ferramenta poderosa para disseminar informação e mobilizar a população. O Quênia precisa de ferramentas como esta para unir as várias comunidades do país, para que vivam juntas pacificamente e assim evitar a repetição da violência pós-eleitoral de 2007 e 2008”, afirmou.

Gatoto, que é professor de matemática, usa o Twitter para se comunicar com os alunos. Mas alertou que, se não forem controladas, as redes sociais podem ser prejudiciais, já que as pessoas podem usá-las para espalhar o ódio. “No passado, demorava anos organizar revoluções, mas agora, com os meios sociais, demora horas”, acrescentou. Entretanto, o chefe de Lanet Umoja continua usando o Twitter para combater o crime. Envolverde/IPS