Abuso sexual infantil é mantido por sedução e ameaças

Nem toda criança tem a sorte de viver em um universo saudável, onde suas experiências de alegria e diversão refletem um ambiente isento de maldade. Embora os números não demonstrem a realidade dos fatos, muitas das crianças e adolescentes são alvos de atos de abuso sexual infantil, uma violência que resulta em danos muitas vezes irremediáveis. Por medo de represálias, algumas dessas crianças acabam omitindo o abuso e passam a conviver sob constantes ameaças.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define o abuso sexual infantil como aquele onde o adulto ou o adolescente mais velho pratica alguns atos com menores de idade que levam a sua satisfação sexual. Estas ações podem ser desde um ato libidinoso até o ato sexual propriamente dito. Neste cenário, podemos encontrar situações de sexo anal e oral, estupro, e também, ocasiões onde o abusador coloca a criança em uma situação de pornografia.  “São todas as questões que levam o adulto a ter um contentamento sexual, tendo a criança como um objeto para conseguir este resultado”, diz a Dra. Maria Theresa Bittencourt Pavão, psicóloga e psicanalista da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e colaborada da OAVISI – Organização Amiga das Vítimas de Violência Sexual Infantil.

Na grande maioria das vezes, a violência ocorre no contexto de uma relação afetiva entre o autor, geralmente o pai, e sua vítima, normalmente a filha. Assim, quem deveria defender e proteger comete crimes hediondos que causam indignação e revolta. Este retrato de impunidade é ainda mais constrangedor quando a família usa argumentos como os de vergonha e preservação da família para defender o agressor do julgamento da sociedade.

Em muitos casos, as vítimas são obrigadas a interromper a infância e a juventude por falta de apoio familiar, ficando reclusas da vida social e tornando-se prisioneiras de quem deveria cuidar e zelar pelo seu bem. Muitas vezes de forma perversa e selvagem, os menores de idade são violentados sem poder se defender e assim, ficam desorientados e confusos.  Esta violência não está associada à classe social. “É universal. Não depende de etnia, de cultura, de sexo e idade”, diz a psicóloga.

Sedução e ameaças

Geralmente o abuso sexual não deixa marcas físicas. Sedução e ameaças são usadas pelos abusadores para conquistar e intimidar as vítimas. “A abordagem é feita através de dinheiro ou trocas. Em seguida as ameaças convencem a criança de que ela é participante ativa deste contato. A criança tem um prazer sexual diferente dos adultos e fica confusa, desorientada e desorganizada, pois não tem o preparo psíquico para entender esta situação. Ela não consegue dar um significado para este estímulo”, afirma.

No caso de assédio e abuso sexual feito por terceiros, o apoio e suporte familiar é essencial para ajudar a vítima a superar traumas e medos do cotidiano. “Toda criança abusada se sente culpada do fato ocorrido. O abusador tem o poder de colocar na vítima a culpa e a aceitação do ato sexual”, conclui.

Estatísticas

A violência exercida sobre as crianças atinge 15% dos 65 milhões de menores de 18 anos no Brasil. 65% das agressões são contra meninas e 300 mil delas são vítimas de incesto. Em 1994, um estudo financiado pela Organização Panamericana da Saúde revelou que somente 2% dos casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes dentro da família são denunciados à polícia. A falta de informação também é um importante fator para este baixo número de denúncias.

Estado da Bahia

Em 2011, o Ministério Público Estadual da Bahia divulgou que o Disque 100, serviço de proteção a crianças e adolescentes com foco em violência sexual, registrou 2115 denúncias um aumento de 840% comparado ao ano de 2005, no qual foram feitas 225 ligações. Estas estatísticas não são exatas, pois muitas famílias, ao invés de denunciarem, preferem o silêncio e a omissão.

Mediante uma situação de desconfiança ou certeza de que uma criança ou adolescente está sendo vítima de abuso sexual é preciso denunciar. O Disque 100, cujo atendimento é nacional, preserva a identidade de quem denuncia.

* Publicado originalmente no site Saúde em Pauta.